A expressão companheiro denota uma profunda relação de cumplicidade, de compartilhamento de ideias, projetos e sonhos. Companheiro é aquele que caminha junto, lado a lado, olhando para os mesmos horizontes, na construção cotidiana de uma trajetória comum. Há uma afinidade profunda entre aqueles que se consideram como companheiros. Assim, os companheiros comungam de uma mesma perspectiva e atuam juntos para torná-la realidade.
Pode-se pensar o companheirismo em várias dimensões: na relação entre amigos, no encontro entre amantes, na composição de uma mesma equipe esportiva, na vivência de uma determinada fé etc. Compreendem-se também como companheiros, por exemplo, aqueles que defendem e pertencem a um mesmo projeto político, compartilhando utopias. No caso, os companheiros se encontram em torno de uma visão de sociedade e se articulam na luta para defendê-la e concretizá-la.
No campo específico da política, tendo como referência o posicionamento à esquerda, entende-se como companheiro não apenas os membros de um mesmo partido, mas todos que vislumbram e militam em prol de uma sociedade justa, solidária e profundamente democrática – alicerçada no programa dos direitos humanos –, suplantando a lógica de opressão e exploração, que reduz a pessoa humana à condição de mero objeto.
Entre os companheiros predomina, sobretudo, uma relação de respeito e de extrema confiança. A liderança nunca é exercida de maneira autoritária, violenta e opressora, mas sim de forma a construir consensos, por meio de diálogos constantes para se identificar qual o melhor caminho para alcançar os objetivos pactuados. Entre companheiros o líder é sempre um igual, que coloca suas competências a serviço de uma causa definida pelo coletivo como fundamental.
A liderança é uma escolha estratégica, que se relaciona com o aspecto do carisma e com a capacidade de aglutinar, contemporizando na direção de articular e construir unidade. Nesta dinâmica, o líder, entre companheiros, nunca representa a si mesmo e sim incorpora e sintetiza uma proposta coletiva. Desprendido de qualquer pretensão pessoal de controle e poder, na medida em que o relevante é a implementação do projeto comum, a liderança de um companheiro contempla uma profunda abertura para renovação, despertando e incentivando novos protagonistas na construção dos objetivos compartilhados.
A lógica da disputa e competição, a atitude mesquinha de promover detratação, a postura autoritária, controladora e de dominação, o sentimento pequeno de vaidade e arrogância não condizem com a relação entre companheiros. A referência central deve ser sempre a realização da utopia, do projeto político compartilhado. É em torno da utopia política que se estrutura e se sustenta o relacionamento entre companheiros.
A relação de amizade e profunda comunhão entre os companheiros consolida a unidade do projeto político. Para além dos interesses individuais, há um sentimento intenso, quase revolucionário, que encontra na amizade o campo fértil e propício para as práticas que elevam a caminhada política e lançam as sementes para um mundo melhor, convidando muitos outros companheiros para a luta política, contemplando energia, esperança, escuta, assim como um incrível afeto. O tempo atual pede companheirismo, no combate e na ternura.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal, campus Piracicaba, doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião.