A reabertura do comércio na cidade de Piracicaba teve início na manhã fria desta segunda-feira, 1 de junho de 2020. Seguindo as orientações e determinações do governador João Dória, o prefeito Barjas Negri (PSDB) pode atender sem constrangimentos ao clamor das associações comerciais e empresariais locais. Ponto para os empresários, para os comerciantes e proprietários de estabelecimentos comerciais. Ponto também para grande parte – senão a maioria, talvez – da população piracicabana, carente que estava de comprar e gastar o dinheiro que não tem. Passado o Dia das Mães, pouco lucrativo para o capitalismo nacional, o Dia dos Namorados se avizinha agora ancorado no desejo incomensurável de consumo dentre os que até aqui jejuaram forçados da arte sublime da compra e venda. Que se aqueça a economia! Os piracicabanos estão pagando para ver.
Aliás, para o piracicabano a pandemia, por aqui, diga-se de passagem, parece coisa do passado. Pior. Parece que dentre os conterrâneos do engenho piracicabano o coronavírus é “lorota”, é “história para boi dormir”, é “golpe comunista” ou, claro, “frescura”, “gripezinha”. Ao que parece também, nas terras onde o peixe para não param na cabeça das pessoas o cuidado com a informação e a atenção ao que dizem médicos e especialistas no mundo todo. Não param também nas cabeças piracicabanas o número de mortos vitimados pela Covid-19 – número esse que, certamente, na data de hoje ultrapassará a triste marca de 30 mil. Para o povo piracicabano e seu apetite voraz pelo consumo, para os “empresários” e sua necessidade contumaz de lucro, tudo o que se vê e se viu no Brasil da pandemia e do pandemônio presidencial é “causo” de pescador.
Como afirmou certa vez um candidato à presidência, a “democracia é uma delícia, uma beleza, mas tem certos custos.” Por isso, este editorial não nega que seja legítima a opção popular e a preocupação empresarial com a economia. Afinal, a economia é e dever continuar a ser uma preocupação – e isso não se pode negar nunca. Criar possibilidades para que os prejuízos econômicos sejam menores, ajudar as pessoas a manterem suas rendas ou minimamente a se manterem com alguma dignidade deve ser, evidentemente, preocupação fundamental de qualquer governo. Todavia, e sabendo dos riscos e custos a serem cobrados pelo vírus e pela abertura destrambelhada do comércio, entendemos que os piracicabanos estão, como se diz por aqui, “pagando para ver”.
Ao lamentar e respeitar democraticamente as decisões políticas e a própria opção do povo, cabe apenas registrar aqui – em tempo – que a partir de agora tudo pode acontecer no engenho que é Piracicaba. Assim, se estiverem certos o Governo do Estado, o prefeito, as associações comercias, os empresários, muito bem! – se verá cedo e pegaremos com gosto a pena do alarmismo. Se estiverem errados nossos empreendedores e consumidores, no entanto, “trucar” com o destino terá sido fatal – e não haverá novas possibilidades para aqueles que perderem o jogo.
Agora, é torcer para que este diário e suas previsões estejam erradas – de verdade. E que nada de mal aconteça ao nosso povo já tão sofrido.
No mais, é tarde. É esperar para ver.