São mais de 10 anos de trabalho, cerca de 2 mil crianças e jovens atendidos com aulas gratuitas de músicas, além dos 10 mil estudantes de escolas públicas que participaram dos concertos didáticos. Esses dados do Projeto Jovens Músicos deveriam ser motivos de celebração, mas no momento se tornaram apenas números esquecidos na gaveta da Secretaria Especial da Cultura, em Brasília. Desde julho as atividades estão paralisadas, pois os recursos conseguidos com os patrocinadores estão parados na pasta, sem previsão de liberação.
“Com a falta de posicionamento do governo, nem mesmo reposta de um prazo mínimo qualquer para que as coisas pudessem andar, nós não conseguimos retomar as atividades. As aulas estavam planejadas para voltarem no dia 4 de agosto, indo até dezembro. Infelizmente não temos expectativa de liberação desse recurso. Os canais de comunicação com a Secretaria Especial de Cultura estão extremamente difíceis e quando conseguimos ser atendidos, as respostas são vazias ou evasivas”, explicou o maestro coordenador do Projeto, Anderson Oliveira.
Numa tentativa de retomar as atividades, foi criada a campanha emergencial “Corrente do Bem do Projeto Jovens Músicos”, com o objetivo de arrecadar R$ 100 mil em 45 dias para custear as aulas enquanto os recursos não são liberados. “Qualquer pessoa pode contribuir via Pix, transferência ou também por cartão de crédito pelo PagSeguro ou PayPal. Nós estamos fazendo a divulgação nas redes sociais (Facebook e Instagram), por e-mail e em grupos de WhatsApp de amigos e familiares. Logo lançaremos um vídeo com uma página específica da campanha na internet. Estamos prevendo fazer um concerto beneficente nas próximas semanas. Todo valor arrecadado será revertido para manutenção das próprias aulas das centenas de crianças e para manutenção da parte administrativa”, disse.
O PROJETO
O Projeto Jovens Músicos nasceu em 2010, por meio de uma ação conjunta de pessoas da sociedade civil e do Maestro Anderson de Oliveira, com o objetivo de criar oportunidades para crianças e jovens da região metropolitana de Piracicaba, que conta com 23 cidades. No ano seguinte, teve início a formalização da AMPI (Associação Amigos da Música de Piracicaba), criada para dar suporte ao desenvolvimento do Projeto. No primeiro semestre de 2021, cerca de 140 crianças e jovens foram atendidos com aulas virtuais.
“Todas as aulas aconteciam de segunda a sábado durante todo o dia, pela plataforma do Zoom. Nós montamos uma sala para cada um dos nossos 20 professores e prestamos assessoria em tempo real para qualquer problema durante as atividades. Com a liberação da verba e a melhora da pandemia, esperamos abrir mais vagas e retomar as parcerias com escolas públicas, ultrapassando nossa média de alunos que sempre fica em torno de 300 crianças e jovens durante o ano”, destacou o coordenador.
Com o ensino musical, alunos do Projeto conquistaram bolsas de estudo e vagas nas principais universidades do país, como USP, UNESP e Unicamp, além dos que atuam profissionalmente e conseguem tirar da música o sustento de suas famílias. Recentemente, o aluno de violino, Lucas Henrique Andrade ficou em primeiro lugar no 18º Concurso Jovens Solistas, organizado pela Orquestra de Guarulhos.
“Eu dou aula no Projeto há 10 anos. A gente tem um trabalho desenvolvido na forma de pirâmide, com muitos alunos jovens na base, aulas coletivas e prática de orquestra, o que faz com que o Projeto se torne bem dinâmico porque não fica só na sala de aula, mas também tem o convívio com outras crianças. Na próxima etapa os alunos tem aulas individuais e no topo da pirâmide temos as aulas com professores de excelência, que trabalham com alunos mais avançados e que estão conseguindo ótimos resultados, com vagas nas universidades e premiações. Essa situação atual mostra que há descaso e que alguém não quer que o projeto aconteça, e nem que os jovens tenham cultura, educação e acesso à arte”, disse o professor de viola erudita, Renato Bandel.
CONSCIENTIZAÇÃO
Para Anderson Oliveira, falta uma conscientização dos políticos e de uma parcela da sociedade sobre a importância da música e da arte, de uma forma geral, na formação das crianças, principalmente daquelas em que os pais não têm condições de oferecer um ensino de qualidade. “Temos pessoas muito ricas economicamente que poderiam ser mantenedoras diretas de programas sociais e de educação, como acontecem em muitos outros países, mas no Brasil não existe o hábito de doação, de pertencimento social. De forma geral, parece que tanto a classe política quanto a sociedade não querem saber ou não entendem o que é a grandiosidade da cultura brasileira, que resiste a duras penas, ano após ano”, falou
“O país de nomes como Villa-Lobos e Camargo Guarnieri, que têm suas obras tocadas por grandes orquestras do mundo todo. Ou o maestro Eleazar de Carvalho, que criou o célebre e tão importante Festival de Campos do Jordão para formação de jovens músicos, além de reger as maiores orquestras mundiais, merece que a sociedade esteja mais engajada e atenta quanto à profundidade e riqueza da nossa cultura, atenta à importância dos grandes de sua história e do que foram capazes de fazer, somente assim, teremos a possibilidade de fazer existir a chama que torna a cultura algo profundamente necessário para nossas vidas. Termino com uma frase para resumir toda essa tristeza que estamos sentindo: ‘Um país sem cultura, é um país sem memória’, complementou.
DOAÇÕES
Pix: projetojovensmusicos@gmail.com
Dados bancários para transferência ou depósito:
Banco Bradesco (237)
Agência: 0145-7
Conta corrente: 209121-6
Associação Amigos da Música de Piracicaba
CNPJ: 15.024.077/0001-79
Carol Castilho é jornalista e colabora na co-edição deste blog.
Sou professora de flauta transversal no Projeto há dez anos. Estou indignada com o descaso dos órgãos competentes em relação à liberação da verba que já foi captada “à duras penas” pelo nosso maestro Anderson de Oliveira. O Projeto é sério e já está funcionando há 10 anos, sempre com muita dedicação de professores e alunos. Os alunos tiveram férias em julho e agora estão sem aulas há quase 60 dias, o quê é muito desestimulante para eles.