Os cães ladram, a caravana passa, os anos se sobrepõem e a cidade de Piracicaba – bem como todo o Estado de São Paulo – continua a ver declinar sua segurança pública e o bem-estar de seus cidadãos. De uma notícia escabrosa sobre violência à outra, os piracicabanos vão duramente se habituando a perceber que a insegurança que ronda as ruas da cidade não é apenas uma sensação. Sequestros relâmpagos diários, assaltos frequentes a estabelecimentos comerciais, recordes semanais de roubos de veículos, homicídios escabrosos, tráfico intenso… E, mesmo assim, em Piracicaba nada de efetivo foi feito nos últimos dez anos para se inibir ou mesmo coibir tal situação – como mostram as estatísticas, sempre em escala ascendente, que dimensionam a violência em nosso município.
Hoje, nos assustamos e nos revoltamos com mais uma nova, brutal e trágica ocorrência envolvendo inocentes. Hoje, nos chocamos ao ver canais de televisão e jornais impressos tornarem públicos mais uma morte tenebrosa de um cidadão piracicabano: uma criança, de 9 anos de idade, atropelada por um veiculo em alta velocidade, conduzido por bandidos que – em fuga, após terem furtado o veículo – tentavam desvencilhar-se da polícia. Sentada no colo do avô, junto ao muro de uma escola, Raynara, aos 9 anos de idade – vale repetir, aos 9 anos de idade – morreu de forma estúpida, violenta, desumana. Hoje, nos chocamos mais uma vez ao vermos que a cidade tornou-se novamente um cenário de grotescas, dantescas e absurdas passagens. Mas, e amanhã? Haverá um amanhã diferente? Nosso medo, nosso espanto, nossa indignação, nosso ladrar surtirão algum efeito positivo? Provavelmente não.
Os cães ladram – e agora é hora de ladrar – mas as caravanas passam (e em Piracicaba parece que sempre vão passar sem que nada aconteça). Qual será o próximo caso? Quais e quantas serão as próximas vítimas? O dia a dia suja as nossas mãos de sangue e nada fazemos. Afinal, Raynara – e outras tantas e tantas e tantas vítimas – morreram por quem? Por quê? Sua morte triste e marcante ao menos serviu para que mudanças possam acontecer? Será que as vítimas de violência de nossa cidade ao menos se tornaram mártires que nos impõem momentos de mudança? Infelizmente, não. E, por isso, o sangue escorre vermelho de nossa consciência, vítima de nosso conformismo, de nossa inércia – e da inércia de nossos políticos.
Deixemos as preferências político-partidárias de lado neste momento. A hora é definitivamente de ação. E nossa ação não pode ser apenas fruto de uma expectativa pautada em projetos que venham de cima para baixo. É hora de participarmos ativamente das políticas públicas de nossa cidade – sugerindo, cobrando, debatendo, pensando, atuando socialmente. Sim, cumpramos o nosso dever: ladremos! Ladremos muito! Façamos a nossa parte. Lutemos por justiça, sim. Lutemos por ações e medidas sociais que, de fato, possam causar algum impacto na cruel realidade que vivemos. Colaboremos, ladremos e mordamos se for preciso! Mas não deixemos mais a caravana passar incólume, marquemos nela o nosso sinal.
Ladremos por Raynara. Ladremos por todas as vítimas da violência que nos domina e destrói nossa liberdade. Pois se nem o nosso ladrar restar às vítimas, o que mais poderemos oferecer a elas? Talvez apenas, infelizmente, o contínuo vermelho de nosso rosto cheio de vergonha e de nossas mãos cobertas de sangue.
Hoje pela manhã, ao ler sobre a notícia do atropelamento e, logo depois, ao saber da morte da Raynara, a tristeza foi tão grande que chorei.
Mais uma morte estúpida de inocente na cidade, no estado, no país.
Agora, ao ler a maneira corajosa, emocionada, revoltada com que o editorial nos mostra uma realidade não mais suportável, senti solidariedade aos meus sentimentos e chorei novamente.
Tenho consciência que chorar não adianta. Precisamos lutar por uma justiça social sem violência.
Senti esse editorial como uma convocação.
Parabéns, Sr. Editor.
Revoltante! Não dá mais para suportar tanta violência!
Fiquei sabendo na quinta-feira, pois meu marido é médico ultra-sonografista e estava de plantão. Foi chamado às 11h da noite para atender essa menininha. Voltou triste porque o estado dela era muito grave. Rezei muito naquela noite por ela, pois tenho netinhas quase da mesma idade e imaginei a dor dos pais e avós. Mas no dia seguinte, vi na tv que ela não resistiu. Muito triste mesmo. E os assassinos, certamente, logo estarão soltos, pois não existe espaço nas cadeias para tanto bandido!Revoltante!
Além de ações políticas e nisso eu incluo TODOS os cidadãos e não apenas os políticos, penso que precisamos intensificar nossas orações, independentemente do credo… creio que a corrente de orações emana e forma uma campo energético de profunda proteção e elevação…afastando-nos dos riscos de tragédias familiares e sociais como esta! Precisamos mais de Deus agindo em nossas vidas… para isso, precisamos deixar que ele atue, e a oração é o canal de ligação com ele! Façamos a nossa parte agindo politicamente, denunciando, exigindo ações concretas dos nossos representantes…mas sem nos esquecermos da energia que vem da misericórdia divina…o sagrado já não faz mais parte do nosso cotidiano, por isso, a vida de quem quer que seja não tem valor para muitos…para os que matam e para que assiste a tudo isso indiferente!