O conceito de cidade inteligente contempla a compreensão de que a tecnologia – com todos os seus avanços e potencial de criar inovações – deve ser aplicada para se construir estruturas sustentáveis, do ponto de vista ambiental. A sustentabilidade é uma questão determinante para o futuro das cidades e suas populações. A concepção de cidade inteligente parte do princípio de que o desenvolvimento tecnológico deve dar suporte para a edificação de cidades ecologicamente sustentáveis. Mas é preciso tornar essa compreensão um pouco mais complexa.
Para além de demonstrar capacidade de instrumentalizar as inovações no campo da tecnologia, de maneira a colocá-las a serviço da sustentabilidade ambiental, o conceito de cidade inteligente deve remeter também à capacidade de equalização dos problemas de ordem sociais. A destruição ambiental, consequência de uma visão equivocada de progresso, aliada à pobreza, fruto de uma estrutura social injusta e desigual, revelam a inoperância e insustentabilidade do atual modelo de cidade. A noção de sustentabilidade – ambiental, social e econômica – passa a ser o aspecto central de todo o processo de desenvolvimento urbano.
O que se coloca em pauta é a busca por um equilíbrio dinâmico na convivência entre o ser humano e a natureza. Superando uma perspectiva predatória – que degrada, desmata e polui o meio ambiente –, a noção de desenvolvimento passa a vislumbrar o ideal de qualidade de vida. O contato e a integração com a natureza passam a ser entendidos como fundamentais para que a vida alcance certa harmonia e qualidade.
Para tanto, torna-se urgente construir um outro modelo de cidade, agora consciente da importância da utilização sustentável dos recursos naturais e da divisão justa das riquezas sociais. O convívio diário com os vários tipos de poluição – sonora, atmosférica, hídrica, visual, do solo etc – acaba tendo como consequência uma vida estressada e mais susceptível a doenças. A cidade inteligente faz uso da tecnologia para solucionar os graves problemas que permeiam a vida urbana e impedem com que a vida tenha mais qualidade.
Por trás do conceito de cidade inteligente aglutinam-se concepções contemporâneas de gestão pública, que articulam, no processo de administração da cidade, os princípios de ética, competência, impessoalidade, transparência, eficiência e justiça. Os cidadãos devem ter direito à cidade. Para isso torna-se fundamental uma gestão que seja capaz de democratizar o acesso aos bens públicos e sociais.
A cidade inteligente compreende que o investimento em tecnologia pode se constituir como a grande saída na busca por soluções criativas e inovadoras para os velhos problemas das cidades. Questões delicadas como mobilidade, moradia, produção de energia, descarte do lixo, saneamento, utilização da água etc., precisam ser enfrentadas a partir de uma modelo ecológico de cidade.
A tecnologia pode ser um relevante instrumento para a promoção do direito à cidade, no fortalecimento da cidadania política. A cidade deve se constituir como o lugar de todos, aberta à toda diversidade e pluralidade. A cidade inteligente é aquela que ao mesmo tempo em que procura minimizar os impactos do desenvolvimento sobre o meio ambiente, utilizando de maneira racional e não predatória os recursos naturais, também abraça seus cidadãos, garantindo direitos e promovendo justiça social. O modelo de cidade inteligente deve ser a inspiração constante para o gestor público. A construção de uma cidade ecologicamente sustentável e socialmente justa é o que deve estar no horizonte das ações implementadas no âmbito da municipalidade.
Adelino Francisco de Oliveira é filósofo e professor no Instituto Federal campus Piracicaba.
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