Ora, essa é boa! Minha última crônica, sobre bibelôs que atraem dinheiro, trouxe um fato surpreendente nos comentários por e-mail: 50% de meus leitores já perderam elefantinhos da sorte. E muitos não os encontraram até hoje. Parece que um buraco negro sugou-os pros cafundós da galáxia. Tomaram chá de sumiço. Pra onde foram esses elefantes? Pra onde vai tudo o que perdemos?
Alguns objetos, como os guarda-chuvas, são altamente perdíveis. Desaparecem tanto na rua quanto dentro de casa e só voltam a aparecer nos departamentos de achados e perdidos (mas nunca para o antigo dono) ou no fundo do guarda-roupa (mas só quando o tempo já lhes roeu até as varetas). Parece que o tamanho tem alguma relação com a perdibilidade. Objetos pequenos, como tarraxas de brincos e pen drives, evaporam com desenvoltura. Mas carros também conseguem sumir. Basta que o estacionamento onde os deixamos seja grande o suficiente. Aí, por comparação, o veículo torna-se pequeno e difícil de localizar.
Devemos considerar também a hipótese do roubo. Não apenas para objetos valiosos, mas também para maridos, esposas, namorados e certos bibelôs da sorte, como os elefantes. O mundo dos objetos mágicos tem regras próprias e uma delas diz que bibelôs de elefantes e corujas dão mais sorte quando são roubados.
Mas, calma! Nem todos os elefantes desaparecidos foram roubados. Alguns só se perdem na bagunça doméstica. Nesse caso, como dizia minha avó, “o que a mão não leva, a casa devolve”. Um belo dia, você vai esbarrar com eles outra vez. Será uma surpresa agradável. Ao abrir uma caixa de badulaques, você encontrará a manada inteira a sua espera. Pode até haver uns dois ou três elefantes dos quais você nem se lembrava. Acolha-os com carinho, são filhotes. Nasceram no cativeiro do esquecimento.
Agora aceite os fatos: a principal causa do sumiço de bibelôs é a quebra. Seu elefante pode estar cruelmente espatifado, repousando em cacos, no lixão municipal (se quem o esmigalhou foi um adulto), ou num cemitério clandestino, em sua própria casa (se quem o roeu e enterrou foi seu cachorro), ou no meio dos brinquedos (se quem o pulverizou foram as crianças ao tentar e, de certa forma, conseguir teletransportá-lo pro além).
Aceitou os fatos? Então esqueça o assunto. Pra que esquentar a cabeça com bobagens materiais? Preocupe-se com os seres vivos de estimação, que desaparecem por conta própria, sem saber o que fazem. Cães, gatos, calopsitas e namorados saem batendo perna (ou asas) e se perdem ou são roubados. Faça o possível para reencontrá-los. Cuide melhor dos animais e agradeça a quem levou o humano.
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Carla Ceres é escritora
A mesma delícia de sempre!
Beijos.
Obrigada, Suzane! 🙂
Pois é, Carla, creio piamente que buracos negros existem! Pois se o Triângulo das Bermudas é capaz de “engolir” navios inteiros, pequenos buracos negros devem existir em todas as casas, nos fundos de armários ou frestas de assoalhos, uma espécie de quinta dimensão que coexiste com esta.
Deduzi isto depois de colecionar dúzias de meias sem seus devidos pares que somem sem deixar vestígios. Ficaram à espera do par por tantos anos que as joguei fora…Parabéns pelo texto!
Sumiços de meias, é? Hum, tem cara de coisa de elfos domésticos, Ivana. 🙂 Beijos!
Estimada Carla,
Que texto interessante, além de suave e agradável… recomendei aos meus alunos, que vivem perdendo cadernos, lições etc Outro dia um, incrivelmente, perdeu a própria bermuda… Já recomendei seu texto…
Esteja bem!
Mais embaraçoso do que perder a bermuda é que ela pode aparecer na casa de quem não devia. Pelo jeito, esses seus alunos sabem se divertir, Adelino. 🙂
Abraço e obrigada!
Divinamente cômico seu “relato” Carlinha! Amei!! Agora, euzinha aqui não costumo perder muitas coisas… horas de sono, paciência, a beleza com certas chatices, mas dias desses procurava doidamente uma peça íntima desaparecida… uau… ainda bem que a ninguém tinha que dar explicações… livre, leve e solta… portanto… se não foi pra nenhuma macumba, tá de bom tamanho, caso contrário, exorcizar-me-ei… [risos]…
Bj. Célia.
Muito obrigada, Célia! Peça íntima desaparecida e macumbada só se resolve com sal grosso. Descubra quem a afanou e dê um tiro de sal grosso na criatura.
Boa pontaria! 🙂
Beijos!
Huahuahua Carlinha, eu e uma amiga na época do curtinho desenvolvemos uma tese de que as coisas que caem no chão (tipo borracha – se cair já era) vao para o menos (-) infinito ja que possivelmente é uma realidade alternativa, daí. A troca de sinais. Mas os amigos nos chamavam de nerd entao paramos com a tese!
Me diga uma coisa? Alguma caneta bic já acabou por completo em suas mãos?!
não né, isso porque elas viram clips quando estão acabando!
Nossa morri de rir com teu texto e pude viajar com minhas viagens neres antigas! Beijos!
E eu gostei de saber o que acontece com as canetas bic, Camila. Só mesmo uma cientista pra explicar. 🙂 Beijos e obrigada!
Olá Carla, que tudo permaneça bem contigo!
Quem não deixou de encontrar algo ou alguém, e muitas vezes somem como por encanto, e quando já estamos cansados de procurar, desanimados como no meu caso de um pen drive repleto de arquivos de imagens que pensei ter perdido no hotel em Poços de Caldas, e já quase madrugada quando me preparava para dormir. Estava desligando o lap top para guardar o pen drive apareceu bem ao lado, depois daquele dia penso sempre que, tal como o tempo minha memória deve estar se distanciando deveras deste cérebro já um tanto usado, risos!
Mas por cá não se perde nada, principalmente o bom humor que teus escritos sempre nos oferecem, parabéns por mais esta bem elaborada crônica que além de divertir faz tantos de nós leitores nos sentirmos normais, pois se até um elefante pode se perder os pequenos objetos então têm maior facilidade!
Obrigado por compartilhar sempre este teu estilo de escrever e compartilhar belos textos.
E também pelas visitas, sempre tão gentis além dos comentários também> E assim eu desejo que tenha em teu viver a intensa e deveras felicidade, enorme abraço e, até mais!
* Eu fiz muitas imagens sim, em Holambra e Atibaia, e com certeza vou postá-las junto aos textos ou mesmo lá no outro espaço onde exponho somente as imagens, e, claro que não posso deixar de escrever ao menos uma linha, critica ou não!
Ainda bem que encontrou o pen drive com as fotos, Sotnas! Seus trabalhos são ótimos. Seria um pecado perdê-los. Obrigada pelo carinho com os meus textos! Abraço!
Eu perco guarda-chuva aos montes, Carla. Até posso ter desapego por coisas materiais. Mas é complicado exercitar essa virtude quando a chuva pega a gente de jeito, com todos os pingos do universo… Seus textos são de uma legítima humorista, sou fã de carteirinha. Beijos!
Muito obrigada, Érico! Deviam inventar um guarda-chuva hidrobiodegradável, que resistisse a meia hora de chuva e depois desaparecesse, né? Ele podia evaporar de forma útil à natureza, talvez transformar-se em ozônio. 🙂 Beijos!
Lá em casa, o que mais some são as chaves. A gente faz cópias e elas vão sumindo. Aí, qdo só resta uma, ficamos com medo de não poder mais entrar em nodso abrigo, fazemos cópias de novo, que tb começam a desaparecer. Será que é o meu elefantinho que me fica pregando peças?
Adorei a crônica. Sobre agradecer a quem some com os humanos, é uma questão filosófica e muito relativa.
Beijo!
Querida Regina, o chaveiro não está fazendo cópias das suas chaves. Ele está, na verdade, vendendo chaves-bumerangue pra você. São chaves amestradas que sempre voltam pro chaveiro que as fez, pra ser revendidas. Você compra as chaves, leva-as pra casa e elas aproveitam o primeiro descuido para voltar à oficina onde nasceram. Denuncie ao PROCON. 🙂 Beijos!
Minha querida
Como sempre uma crónica deliciosa de se ler, eu normalmente perco os óculos de ver ao perto…e por vezes estão na cara rsrs.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Parece coincidência… e não é que, hoje, depois do almoço, quando eu ia tirar uma soneca, procurei minha gata Rouquinha (mia bem pequeno, é idosa e foi tirada da rua), que está comigo há 2 anos, sumiu… Não a encontrava nos lugares de costume, o apto. é todo telado. Aí, fiquei maluca! depois de 1 hora fui descobri-la numa estreita prateleira, sobre dvds, quase imperceptível. Ah que alívio!
Menina, crônica tão gostosa! Obrigada,Carla, pelo prazer que é ler seus escritos inteligentes e agradáveis. Beijos!
Gatos têm mesmo uma incrível capacidade de desaparecer, Lúcia. Uma vez, meu marido e eu perdemos dois gatos ao mesmo tempo, dentro do nosso quartinho de badulaques. Não tinha como saírem de lá, mas sumiram. Reviramos tudo e os dois continuaram bem quietinhos, escondidos dentro de um tapete enrolado. O tapete virou um rocambole com dois gatos de recheio. 🙂 Obrigada pelo carinho! Tudo de bom pra você, sua família e a Rouquinha! Beijos!
Carla,
Adorei o ‘chá de sumiço’ ! Na verdade, o que não venho gostando muito é de perder contato com alguns queridos que o tempo por vezes insiste em deixar escondidos…
Abçs e bjs,
Safyra
Pois é, minha linda, gente às vezes também toma chá de sumiço. 🙂 Obrigada pelo carinho! Beijos!
Carla… que delícia de texto e qu e delícia de comentários e respostass… essa eu nunca vi “rocambole de tapete com recheio de gatos” (rindo muito aqui!!!)
Mas quando os humanos desaparecem de nós, sem razão aparente, ai sim o “Chá de Sumiço” é perigoso e contagiante…
Mas olha, posso perguntar? E se nós todos dermos chá de sumiço nessa politicalha indecente que se espalhou pelo Planalto Central???
O problema é que eles conhecem bem a fórmula do chá: Deram sumiço na dignidade do povo, deram sumiço no dinheiro do povo e até na propria sorte da Nação.
Doce beijo de admiração pela escritora fantástica que és…
Parabéns pela premiação!
Maravilhoso texto, Carla! Eu me divirto muito com eles. Parabéns!