Cara a Cara com o ETA

Cara a Cara com o ETA

O que diferencia um terrorista de um militante de um grupo que praticou atos de terrorismo? O quanto o passar do tempo, as mudanças da sociedade, a integração daqueles que se serviram de armas às políticas e representação de um país fazem mudar as crenças de quando se foi mais jovem? A memória e a história causam arrepios não apenas no Brasil, como se viu recentemente por ocasião dos 60 anos do golpe militar. Trata-se de um fenômeno mundial, diante de passado recente que é preciso analisar, entender, discutir.

Daí ser tão interessante e motivo de reflexão o filme lançado em 2023, disponível na Netflix, “Cara a cara com o ETA”. Trata-se de uma longa entrevista com uma das lideranças do grupo separatista ETA (Euskadi Ta Askatasuna -em basco: Pátria Basca e Liberdade) , com longa história na Espanha, Josu Tornera. O ETA, criado em 1959, surgiu para lutar pela separação e independência da região basca política e territorialmente. Envolveu-se, durante anos, em atos de violência, sendo acusado de mais de 830 mortes. Em 2018, o grupo divulgou o fim de sua atividade política e sua dissolução. Tal comunicado foi lido exatamente pelo entrevistado do documentário, Josu Tornera. Muitos de seus militantes e líderes foram julgados e presos. O próprio Tornera concedeu a entrevista na França, onde vive sob liberdade condicional.

A figura, a firmeza nas declarações, a tranquilidade com que enfrenta as perguntas do jornalista que busca pressioná-lo a admitir erros, querendo declarações de arrependimento, fazem de Tornera uma figura que segura o espectador pelas quase duas horas da entrevista, mesmo para quem não conheça bem a história do ETA. Ou para quem vá se indignar com sua postura.

Lançado no Festival de San Sebastian em 2023, o documentário foi objeto de protestos de policiais, vítimas do grupo e intelectuais em tentativas de proibi-lo, o que não aconteceu – todas suas sessões estiveram lotadas.

Encontra-se disponível na Netflix.

Excelente sugestão para o fim de semana que se aproxima!

 


Beatriz Vicentini é jornalista e coordenadora/editora do livro “Piracicaba, 1964 – o golpe militar no interior”.

 

 

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