O texto abaixo constitui-se como duas breves notas críticas acerca das perspectivas eleitorais para 2022. Contribuição encaminhada ao nosso blog, o texto dialoga com outras duas breves notas, do mesmo autor, já aqui publicadas em: https://diariodoengenho.com.br/breves-notas-do-estado-da-arte-i-situacao-socioeconomica-do-brasil/
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“O inimigo avança, retiramos. O inimigo acampa, provocamos. O inimigo cansa, atacamos. O inimigo se retira, perseguimos. Não há caminhos retos no mundo. Só progride quem é modesto. O orgulho obriga-nos a dar passos para trás.”
Mao Tsé-tung.
Nota I.
Avalio que a tendência indicada unanimemente pelas dezenas de pesquisas ao longo deste ano, especialmente nos últimos 7 meses, de que Lula ascende contínua e firmemente e Bolsonaro declina irregularmente, mas declina, está se solidificando em:
1) a situação econômica e social terrível do país para a maioria trabalhadora (trabalhadores sindicalizados e trabalhadores da massa marginal) é a base material dessa superestrutura eleitoral;
2) a dinâmica política acumulou uma ampla oposição na sociedade a Bolsonaro, intensificada pela condução criminosa do combate à pandemia, em particular no conjunto da classe média urbana;
3) a “direita liberal” continua em crise e em declínio político e eleitoral no plano partidário, pelo fato de que ela se associou diretamente ou não ao bolsonarismo, se colocou como sua súdita e mais, ela é a defensora tradicional (identificada socialmente) da política econômica que está arrasando a vida material do povo;
4) a única chance de mudar a tendência estabelecida seria a alteração do conteúdo e da direção da política governamental (econômica, social e externa), abandonar a política neoliberal, isso não ocorrerá. O máximo serão medidas sociais pontuais, que são insuficientes para alterar o efeito/ resultado da tendência estabelecida e captada pelo conjunto das pesquisas;
5) há análises fazendo a média dos resultados do conjunto das pesquisas que apontam o seguinte em termos médios:
Lula 40%
x
Bolsonaro 20%.
Síntese geral do conteúdo, significado e tendência da última pesquisa IPEC (metodologia presencial face a face). Cruze o dado do candidato na “Espontânea” com o dado da “Estimulada” e você tem uma ideia do potencial de crescimento do candidato em sua proporção no primeiro turno com indicação para o segundo quando se observa a rejeição do candidato.
1) Espontânea – Lula 40%
– Bolsonaro 20%
2) Estimulada – Lula 48%
Bolsonaro 21%
3) Lula de 40 para 48%
Bolsonaro de 20 para 21%
Lembrando que Bolsonaro sendo presidente é sem dúvida o candidato mais conhecido pelo eleitorado na cena política atual, em função da exposição natural do cargo. Portanto, no quadro desta pesquisa (e o conjunto de pesquisas dos últimos meses tem apontado a mesma tendência), Bolsonaro está no limite, id est, no seu teto ou muito próximo disso. Os dados de sua rejeição (alta, na casa dos 60%) confirmam esse quadro geral.
Nota II
Conjuntura eleitoral e dinâmica política
Os indicadores macroeconômicos e macrossociais estão corroendo a capacidade política e eleitoral de reação do governo, resultado de sua própria política governamental e nada indica (ser possível) uma mudança substantiva de conteúdo e direção, as medidas sociais pontuais e cosméticas não serão suficientes para tal. Suspeitamos que o cálculo de Bolsonaro seja:
1) garantir o mínimo eleitoral para um segundo turno contra Lula (aí entra a pífia medida social do auxílio Brasil e tais) = garantir entre 25 e 30% no 1° turno;
2) no 2° turno entrar pesado com a campanha de “terror moralista”/ “fake news” contra Lula/ PT/ esquerda; o risco maior é setores de oposição ideológica ao bolsonarismo (tipo “Ele Não”), movimentos inorgânicos eleitoralmente servirem inadvertidamente de “Cabeça de Ponte” para um novo desembarque de Bolsonaro nos redutos populares por meio do desvio do debate eleitoral da “economia” para a “moral e costumes”.
2.1) Movimentos do tipo “Ele Não”, favorecem o desenvolvimento da campanha no terreno no qual Bolsonaro conserva força e relativa superioridade de armas, pois colocar no centro do debate político-eleitoral as questões de “costumes” permite Bolsonaro manobrar e penetrar eleitoralmente no amplo segmento popular dos trabalhadores da massa marginal. A posição crítica que expressamos resumidamente aqui sobre o impacto contraditório do movimento “Ele Não” ocorrido em 29 de setembro de 2018 uma semana antes da votação em primeiro turno está baseada em análise da conjuntura política e eleitoral “confirmada” pelos números e a tendência que estes descrevem, como base utilizamos a sequência de pesquisas de intenção de voto durante a campanha de 2018 feitas pelo instituto Datafolha/ Globo,
Com o agravamento da situação econômica e social nacional (desemprego, subemprego, miséria, fome etc.) e a ausência de instrumentos suficientes e de objetivo político para reverter essa situação por parte do governo, a conjuntura política/ eleitoral empurra o governo Bolsonaro (e as candidaturas vinculadas ao programa econômico e social neoliberal) para uma campanha de reforço da propaganda e das bandeiras “morais” e de “costumes”, esse é o único refúgio para Bolsonaro e seus estreitos aliados.
Por isso, o campo democrático-popular e socialista não deve encaminhar a luta política e a campanha eleitoral para o terreno no qual Bolsonaro concentra o que restou de suas forças de ataque.
A campanha eleitoral de 2022 do campo democrático-popular (que deve ser apoiada pelos socialistas e marxistas) sob a liderança de Lula deve ter como “Leitmotiv” (Preocupação Dominante):
- Combate à Fome e à Miséria (Terra e Pão);
- Pleno Emprego (Trabalho);
- Reindustrialização Nacional e Crescimento Econômico (Modernização e Soberania Nacional e Popular).
Em breve, nova nota se debruçará ainda mais acerca das perspectivas da eleição de Lula. Até lá!
Koba é colaborar espontâneo do Diário do Engenho.