À atriz L.A.
Perdi a aposta que não fiz. Apesar de que sempre joguei comigo. Ai, meu corpo entregue sobre o feltro verde. Ai, minhas fichas entre os dedos. Humm… Queria dar mais um lance. Por que não? Melhor ajeitar a maquiagem. Lá em cima, Deus rola seus dados. Melhor abrir mais um botão da blusa.
No amor, aguardo sempre o girar da roleta da vida com a esperança de quem vai levar um tapa na cara. Azar no jogo. Melhor subir um pouquinho mais a saia. Só mais um pouquinho, assim. Agora talvez eu possa tentar outra vez. Sorte no amor? Quem dera, meu corpo para na tara do bacará.
Me chamam viciada, que eu sei. Bobagem. Mas fato é que sempre às segundas tiro da manga uma carta e aposto a alma para a semana inteira. Saia curta ajuda. Azar no jogo. O filho de Dona Marta me olha sempre morrendo em desejo. Rapazinho sem dinheiro – não serviu nem pra jogador de futebol. Pronto. Uma cruzada de pernas para subir o seu moral. Humm…
Sorte no jogo é o que eu não tenho. (Cadê o meu batom?) Minha figa é meu salto alto no qual ponho meu pé de coelho. Mandinga. Porque jogador bom tem as suas crenças.
Melhor dar mais um lance mesmo sem chance. Azar no jogo. Porque não me apostam? Porque não me rifam e me dividem? Cinco contra uma. Que sem grana é que eu vou pro tudo ou nada. Pro tudo ou nada? Nada!
No fim da jogatina, há sempre na viela o filho da Dona Marta me esperando passar para me devorar com os olhos. Quer meu bilhete, o menino. Será que me atrevo? Moleque. Azar no amor. Fazer o quê? Quem sabe ao menos ele me pega em leilão nalgum lance pobre – garoto. E eu lá quero jogar com qualquer rapazinho? Te ensino, meu filho. Te mostro como perder o tino, como perder a jogada numa noitada.
Porque a sorte está sempre lançada – e eu já perdi antes. Se me arrisco é pelo vício, que gente não pode parar. E viver não é isso? Será que dá para subir um pouco mais a minissaia? Azar no jogo. Azar no amor que eu jogo. Porque no fim das contas tudo é uma e a mesma coisa só. (Achei o batom!). Pronto. Vou pra mais um lance? Quem sabe agora.
Olha lá. Não é o filho da dona Marta subindo a escada?
Alê Bragion é editor do Diário do Engenho.