É bem delicado falar em “lições da pandemia” em um cenário tão profundamente marcado por dor, perdas e sofrimentos. Mas toda crise pode ser também um tempo no qual o novo seja germinado. É a velha percepção de que da crise podem brotar também as possibilidades de renovação. A dor e o sofrimento, quando iluminados pela esperança, podem apontar para a dimensão da superação, acenando para uma nova realidade, agora transformada.
O que exatamente essa grave pandemia nos ensina enquanto sociedade? Quais as lições mais evidentes e fundamentais que a Covid-19 duramente nos impõe? Agora é imprescindível que a sociedade demonstre capacidade de escuta e discernimento. É preciso compreender a situação histórica que se revela, para pedagogicamente construir mecanismos que possibilitem a sua superação.
Talvez um primeiro aprendizado seja em relação à importância do Estado, na dinâmica de garantir direitos e estruturas básicas de assistência. O sistema público de saúde (SUS), com atendimento gratuito e de qualidade, é um direito que deve ser assegurado por um Estado forte e atuante. A saúde não pode ser reduzida à condição de mera mercadoria, sendo gerenciada como um negócio por empresas que não têm nenhum comprometimento com as pessoas. A saúde é um direito, que deve ser garantido para todos, pelo Estado.
Outra lição central remete à maneira com que as sociedades concebem o sentido de desenvolvimento e progresso. O tema da sustentabilidade ambiental e social deve assumir uma condição cada vez mais estruturante na dinâmica das sociedades. É preciso que se torne cada vez mais evidente a compreensão acerca da ecologia integral, ressaltando o vínculo inseparável entre vida humana e planeta terra. A transição ecológica deve perpassar todos os setores, apontando para um outro padrão de desenvolvimento e concepção de vida. Ecoa a forte compreensão de que a vida e a natureza compõem uma mesma totalidade complexa, profundamente entrelaçada.
A pandemia relembra e reforça ainda o lugar da solidariedade, como princípio ético fundamental. A vida revela-se como um delicado, frágil e intrincado entrelaçamento. Há uma solidariedade profunda, que nos lança ao outro, exigindo gestos de cuidado e compaixão. As graves desigualdades sociais já alcançaram um nível insuportável. É preciso agora avançar e construir, politicamente, um mundo de equidade, capaz de reconhecer a dignidade de cada pessoa.
O desafio político consiste em traduzir todos os ensinamentos advindos com a pandemia forjando novas formas de organização social. O município, espaço onde a vida real e cotidiana acontece, é o lugar privilegiado para começar a semear o novo tempo, que deve ser demarcado pela cultura do bem viver. Economia solidária;fortalecimento da democracia, com ampla participação popular; diálogo profundo com natureza e um mergulho radical nos dramas do mundo para conhecer o próximo – acalentando a profunda empatia – sinalizam para este processo de reconstrução humana e social. Eis as diretrizes éticas para os projetos políticas que se apresentam na cidade.
Vamos juntos, com esperança sempre!
Adelino Francisco de Oliveira é filósofo, professor no Instituto Federal campus Capivari e pré-candidato à Prefeitura de Piracicaba pelo Partido dos Trabalhadores.
Precisamos dessas lições de ânimo e esperança para conseguirmos sobreviver nesta realidade de crise política e sanitária.