Era uma de nossas paixões e fazia parte de nossas vidas. Vivíamos de
manhã à noite pensando nas marcas, e elas eram nosso bem mais precioso. Era
um tempo que colecionávamos pedras, pipas, bolinhas de vidro, figurinhas
de história, de futebol e de chicletes de bola “Ping-Pong”, que traziam em
todos os pedacinhos embrulhados as aventuras do Bolão (“Bolão nos esportes”;
“Bolão nas travessuras”, “Bolão nas olimpíadas” etc.). Mas a nossa grande
paixão era colecionar marcas de cigarros.
Era um tempo em que nas ruas o lixo varrido era coletado por carrocinhas
de cor verde, da prefeitura, e os fumantes jogavam os maços vazios de
cigarro no chão ˗ e nós, antes dos coletores, apanhávamos para colecioná-las.
A moda em toda cidade, entre as crianças, era colecionar maços de cigarros
vazios, e havia um grande mercado de troca e uma variedade de marcas.
Nós as organizávamos em plásticos e alguns chegavam até a comprá-las de
outros colecionadores, pela dificuldade de encontrar algumas que as
fábricas deixavam de fabricar. Algumas ainda povoam meu imaginário, embora
não tenha o hábito de fumar. Lembro-me das caixinhas do Cigarro Fulgor, do
maço de cigarros Camel, dos cigarros LS, do Hudson, Negritos (que tinha
gosto de chocolate no papel), do Lark, Continental, do Lincoln; Sudan Extra
Porto, do Chesterfield; do Parliament; do Luiz XV, Elmo, Hollywood, Kent e
Macedônia (os “quebra˗peito”), Pullman, Mustang, Vila Rica (do Gérson) e
Astória (da Cia. Souza Cruz), que, com certeza, homenageava a Waldorf-Astória,
fábrica de cigarros alemã criada por Emil Molt. Essa empresa tornou-se
famosa por estabelecer a primeira escola Waldorf (Waldorf School), em
parceria com o iluminado Rudolf Steiner. No princípio, era uma escola para os filhos dos funcionários da Waldorf-Astoria-Alemanha. Hoje, existem no mundo mais de 900 dessas escolas Waldorf, espalhadas por 83 países. A filosofia idealizada por esse mestre, chamada de Pedagogia Waldorf, tem suas raízes na pesquisa científica˗espiritual.
As marcas foram e, com elas, o vício do cigarro. Porém, algumas deixaram
registradas em nosso inconsciente os momentos de arrebatação que, através
do colecionismo, transportava-nos para outras dimensões da mente.
É a marca de uma infância que marcou nossas vidas.
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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor dos Cursos de Comunicação da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).
Verdade,Carlinhos!
Lembro-me dos que a organizavam em ordem alfabética,os maços deveriam estar impecáveis.
Erico