Ano Novo: Tempo de luta e resistência democráticas
por Adelino Francisco de Oliveira
(*TEXT IN ENGLISH IS BELOW)
“Memória de um tempo onde lutar
Por seu direito
É um defeito que mata
São tantas lutas inglórias
São histórias que a história
Qualquer dia contará”
Gonzaguinha, Pequena Memória para um Tempo sem Memória
Os sinos dobram! Porém, não há muito o que se comemorar. As portas de 2019 já começam a ranger, acenando, talvez, para um horizonte sem aurora, sem devir, sem nada. O novo ano se apresenta, mas o olhar a se projetar se revela vago, condoído e soturno, tomado por total perplexidade. Não há nada de alentador, quando o futuro que se anuncia se descortina apenas como distopia.
Os governos eleitos, fiéis a uma já fracassada cartilha neoliberal, apressam-se em proclamar suas ignóbeis pautas, a decretarem o fim da era dos direitos. Agora é preciso cortar investimentos, flexibilizar direitos, congelar salários, assumir a doutrina do pensamento único. Como cavaleiros de uma versão contemporânea do apocalipse, sem rodeios, nem meias palavras, os donos do poder querem impor e perpetuar um tempo de penúria, de escassez material e também espiritual. Em um profetismo às avessas, enfatizam a concepção hobbesiana “Homo homini lupus est” (‘O homem é o lobo do homem’). Dizem em alto e bom som que não há mais espaço para a solidariedade, para a tolerância, para a diversidade, para a justiça, para os direitos. O novo ano pertence aos empedernidos.
A insensatez dos velhos mandatários, com suas promessas (ameaças) para o novo ano, levanta-se contra toda a esperança. A carcomida dinâmica de exploração e opressão aparece, nos discursos em prol do capital, travestida sob o signo da modernização, do progresso. Com a perspectiva eminente de um cenário de terra arrasada, onde o país passará a ser entregue em detrimento da dignidade do próprio povo à pilhagem do capital financeiro, de forças econômicas internacionais, não há lugar nem projeto para os pobres, os trabalhadores.
Talvez a única certeza possível, diante do difícil prognóstico para o novo ano, seja a urgente tarefa de se recomeçar. O ano vindouro deve se constituir, justamente, como um tempo fecundo de recomeço, compondo um vasto movimento de luta e resistência democráticas. A inspiração referencial deve ser, então, a pedagogia da esperança, contribuição do monumental legado freireano. Na expectativa do ano novo, impõe-se, como exigência histórica, o desafio de se voltar às bases da sociedade, disputando espaços de formação, encontro e articulação, a partir da organização de pequenos núcleos, de maneira a reconstruir as possibilidades de um projeto democrático e popular para o Brasil. Será fundamental que sigamos juntos, com esperança sempre!
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New Year: Time for democratic struggle and resistance
by Adelino Francisco de Oliveira
“Memory of a time in which to fight
For your right
Is a flaw that kills
There are so many inglorious fights
They are stories that history
Any day will tell”
Gonzaguinha, Little Memory for a Time without Memory
The bell tolls! However, there is not much to celebrate. The doors of 2019 already begin to creak, waving, perhaps, to a horizon without dawn, without becoming, without anything. The new year presents itself, but the projected gazing is vague, pitiful and gloomy, taken by total perplexity. There is nothing encouraging, when the future that is announced shows itself only as dystopia.
The elected governments, faithful to an already failed neoliberal book, rush to proclaim their ignoble guidelines, and decree the end of the age of rights. Now it is necessary to cut investments, flexibilize rights, freeze salaries, put on the single thought doctrine. As horsemen of a contemporary version of the apocalypse, bluntly and with no half words, the masters of power want to impose and perpetuate a time of penury, of material and spiritual scarcity. In an inverted prophetism, they emphasize the Hobbesian concept “Homo homini lupus est” (‘Man is wolf to man.’). They say loud and clear that there is no more space for solidarity, for tolerance, for diversity, for justice, for rights. The new year belongs to the unfeeling ones.
The insanity of the old leaders, with their promises (threats) for the new year, rises against all hope. The rotten dynamics of exploitation and oppression appear, in discourses in favor of capital, transvestite under the sign of modernization, of progress. With the eminent prospect of a scorched earth scenario where the country will be handed over to the detriment of the dignity of the people themselves, to the plunder of financial capital, of international economic forces, there is no place or project for the poor, the workers.
Perhaps the only certainty, before the difficult prognosis for the new year, is the urgent task of starting over. The coming year must be precisely a fruitful time of recommencement, composing a vast movement of democratic struggle and resistance. The reference inspiration must then be the pedagogy of hope, the contribution of the monumental Freirean legacy (Paulo Freire, Brazilian educator and philosopher). In the expectation of the new year, it is necessary, as a historical requirement, to face the challenge of returning to the bases of society, disputing spaces of formation, meeting and articulation, from the organization of small nuclei, in order to reconstruct the possibilities of a democratic and popular project for Brazil. It will be fundamental that we continue together, with hope always!