Ai, que saudade do Temer!

Ai, que saudade do Temer!

Aviso de ironia: este texto contém afirmações que expressam o sentido oposto de seu significado literal. Fique atento. (Em época de boçalidades míticas, nunca é demais explicar bem as coisas).

Nunca vou perdoar o desgoverno atual por me fazer sentir saudade do Temer. A gente era feliz e não sabia. Na verdade, a gente não era feliz coisa nenhuma e tudo estava uma merda – mas pelo menos a gente podia se livrar dela todo dia. Um amigo meu, filósofo escatológico, certa vez definiu a filosofia schopenhauereana da seguinte maneira: “o pessimista acha que o mundo vai acabar em merda, o Schopenhauer acha que a merda não vai dar para todo mundo”. Batata! Constatação filosófica pronta: estamos na era do Brasil schopenhaureano: por aqui tudo está dando em merda e ela não está dando para todo mundo. Santo profeta Schopenhauer! O pior é que, ainda por cima, a gente agora só pode passar um fax pra Brasília dia sim, dia não. Senhor! Assim não há… “olho” que aguente! Mas nada de torcer contra, pensemos positivo: ao menos podemos economizar no “Activia.” Ai, que saudade do Temer!

A proctofilia institucionalizada desde janeiro no país, confesso, me pegou de surpresa – e sentado no trono. Nunca pensei que um (des)governo pudesse se preocupar tanto com questões fisiológicas e anatômicas assim. Uau! Inaugurou-se o novo-velho Brasil Acima de Tudo com a fase aquosa do Xixi em Cima de Todos – e a exibição de uma cena de “golden shower” divulgada no twitter presidencial em pleno carnaval. Caramba! Mas era ainda uma fase primária de nossa parafilia pátria. Depois, fomos brindados com profundos comentários e análises pi(n)ctorescas – feitas por aquele de quem não se deve dizer o nome – sobre o tamanho do pênis dos orientais. (Santa observação, Batman! Diria o pobre do Robin, sempre vítima de preconceitos). Agora, mais recentemente, o Brasil adentrou à clássica fase anal freudiana. E tomem polêmicas declarações sobre cocôs e suas variedades: “cocô só dia sim, dia não”, “cocô petrificado de índio não presta para nada” e “vamos acabar com o cocô de esquerda!” Haja merda para ouvir dia sim, dia sim! E que me perdoem os urologistas e proctologistas de plantão. Mas ai, que saudade do Temer!

Esquecendo o golpe de merda que foi dado no país (com o Supremo, com tudo!), e diante da boçalidade proctoverbal do desgoverno atual, sou obrigado a me lamentar por sentir saudades do Temer. Que diabos! Logo eu? É verdade que aquelas mãozinhas magricelas, compridas e sem cor – balançando no ar, aleatoriamente, para lá e para cá – davam calafrios na gente. É verdade que dava muita angústia ver aquela linguinha inflando as bochechas do então presidente toda vez que alguém lhe fazia uma pergunta daquelas. É verdade que as reuniões ministeriais mais pareciam as velhas sessões do “Noites do Terror,” do Playcenter. É verdade que se o Temer aparecesse na minha casa, depois da meia-noite, eu me cagaria todo de medo (perdão pela expressão chula, é o espírito do tempo…). É verdade. Mas, mesmo assim, diante do que temos hoje, até sinto saudades dele. E, como disse, também por isso nunca vou perdoar o desgoverno de agora.

Ademais, vale dizer, Temer sabia usar um palavrório repleto de mesóclises seculares (para não dizer fantasmagóricas) e era “ávido proferidor” de sopopós e trelelés que deixavam Odorico Paraguaçu e o professor Astromar no chinelo. (Lembram-se deles?). “Falar-lhe-hei.” “Procurar-me-iam.” “Dar-lhes-hei.” Esse era o Temer. Era brega. Era velharia. Mas era engraçado. E passava longe, muito longe da verborragia proctosintaticomorfológica com que somos torturados hoje. Verdade seja dita, Temer também nunca trouxe à tona os anais mais nojentos da oralidade, como se tornou prática no desgoverno atual. E, apesar do troca-troca de cadeiras do qual participou – e que tirou uma presidente legítima de sua cadeira presidencial –, Temer nunca mandou qualquer um de seus ministros, em público, fazer um troca-troca. Nada também de “golden showers,” cocôs ou observações sobre o pênis alheio ou sobre o próprio.

Se bem que Temer teve de operar às pressas a próstata. E andou por aí, desconduzindo a nação, com uma bolsinha cheia de xixi escondida debaixo da roupa.

Pensando bem, sei não.

Acho que já era um presságio. Um presságio agourento, claro.

Mesmo assim, ai que saudade do Temer.      

Alexandre Bragion é editor do Diário do Engenho.

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