Ben-Hur é um filme clássico, com recursos históricos, escrito por Keith R. Clarke e John Ridley, baseado em um romance de 1880, Ben-Hur: A Tale of the Christ (Ben-Hur: Um conto de Cristo) de Lew Wallace. O livro teve versões para o cinema com o mesmo nome incluindo os filmes de 1925, 1959 e 2015, no qual participaram os atores Jack Huston, Morgan Freeman, Toby Kebbell, Nazanin Boniadi e Rodrigo Santoro. Contada na Jerusalém do tempo de Cristo, a trama mostra o domínio do império romano sobre os judeus que se veem humilhados e afrontados inclusive em sua identidade política, cultural e religiosa. Num dos momentos mais significativos do filme, Ben-Hur se encontra fugitivo e incapaz de reaver o que lhe havia sido tomado, restando-lhe somente uma forma para lutar contra o poder estabelecido, participar de uma corrida de bigas, o que representava, na prática, um confronto mortal já que os competidores praticamente davam a vida para superar a violência da prova. Ben-Hur vence, derrotando o representante de Pilatos e de Roma, o que lhe valeu a restituição de sua riqueza. Porém, para tanto, foi preciso que usasse da mesma moeda de seus oponentes: força e derramamento de sangue. A meu ver, o ápice do filme se passa justamente na cena dessa vitória, quando é reivindicado a Pilatos o reconhecimento e o prêmio. Diante do povo judeu que ovacionava o herói daquele confronto sangrento, Pilatos conclui: “Agora são todos romanos”, constatando que os judeus haviam se tornado como o inimigo, rendidos aos métodos de seus opositores, aculturados pela paixão à violência, colonizados por valores diferentes dos seus.
De muitas formas o dilema do filme se repete nos dias atuais – quando estratégias, valores, comportamentos, método e modos são incorporados em nome da conquista, da razão, do sucesso e da vitória. Pessoas naturalmente pacíficas tornam-se violentas, gente antes compreensiva, misericordiosa e sensível, transformada em truculência, grosseria e desrespeito – judeus demudados em romanos, cristãos amorosos, em arrogantes ambiciosos. Dessa forma, os valores também se alteram e, sem o mínimo da humanidade que nos restava, seremos, em pouco tempo, campo de batalha extremado, violento e dominador. Também não sei que lugar os princípios do cristianismo ocupará no imaginário comum, no código de ética dessa nova sociedade ou no que se transformará, uma vez que a cruz de Cristo tem sido constantemente preterida pela espada de Davi.
No final do filme, nosso personagem encontra seu principal inimigo a quem havia derrotado e é ameaçado por um punhal – mas Ben-Hur o surpreende com os braços abertos num sinal de paz, de rendição, demonstrando que diante da proposta de guerra sempre existe a possibilidade de uma bandeira de paz, de uma resposta fraterna, amiga, que possa recuperar a essência do que realmente se é. Ben-Hur não gostou de ser romano, aquela experiência sangrenta o fez repensar. Essa é minha esperança. Que os cristãos, ora romanos, consigam encontrar o caminho de volta. Que no meio de tanta despersonalização, se tenha coragem para reverter processos, reaver valores, mesmo que isso signifique andar a segunda milha, dar a outra face, deixar as pedras no chão, para que ninguém diga novamente: “Agora são todos romanos”.
Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.
Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.
“Por isso, não aceitar a versão de que: “Estamos no mesmo barco!”…