Apesar de estarmos a quase um ano das eleições municipais, o tema da sucessão eleitoral já tomou as redes sociais. A cidade tem debatido nomes, particularmente para o cargo majoritário. Mas é preciso, fundamentalmente, discutir e analisar ideias e projetos em uma perspectiva de se repensar a dinâmica das estruturas da cidade de maneira a permitir que todos possam acessá-la. O fortalecimento da democracia e o direito à cidade devem ser as pautas dessas eleições.
Os debates sobre as eleições e os projetos para a cidade não devem estar restritos apenas àqueles que se colocam como pré-candidatos. Todos os cidadãos devem colocar suas qualidades, conhecimentos e competências para melhorar a vida na cidade, trazendo ideias novas, apresentando propostas criativas, construindo alternativas para uma outra sociabilidade urbana. Torna-se fundamental a concepção da gestão pública a partir da disponibilidade para servir, vislumbrando os interesses coletivos, o bem comum, com transparência e responsabilidade.
O projeto de cidade está profundamente vinculado à noção de política. É por meio da política que se constrói a cidade. Por isso é urgente se resgatar uma concepção de política como serviço voltado ao bem coletivo. A política como reflexo de um profundo e engajado conhecimento, capaz de estruturar a cidade como direito de todos. É preciso enfatizar que a cidade existe para as pessoas. Toda organização da cidade, com seus aparelhos públicos e serviços, deve estar voltada para que a vida dos cidadãos seja plena de possibilidades.
Os espaços da cidade devem contemplar a diversidade, abrindo-se para uma dimensão de cidadania plena e universal. Os direitos e os deveres, equacionados por meio das leis, existem para resguardar a justiça e a equidade de maneira a promover sempre o bem comum. Sob as balizas da ética, a cidade deve se compor como espaço de encontro e convivência entre os cidadãos, lugar de realização individual e coletiva. A cidade é onde as pessoas, os cidadãos, constroem suas vidas, projetam seus anseios e sonhos, buscando sempre a felicidade.
É preciso se superar o marasmo que reina na esfera política, com personagens desgastados, que apenas acalentam o poder pelo poder. A representação de gestores demagogos, carentes de liderança, perdidos em atividades meramente burocráticas, como se governar fosse simplesmente manter a máquina pública de alguma maneira funcionando, não é aceitável. A ausência de proposição de ideias, de alternativas, de novos projetos societários apenas evidencia a pobreza do debate político. É insuportável aquelas figuras políticas que se revelam incompetentes para apresentar saídas criativas e inovadoras que respondam aos problemas cotidianos, mas que insistem em se manter à frente dos espaços de decisão.
Talvez o caminho seja reinventar a política, forjando um novo conceito, com outras perspectivas e distintos personagens, mais dispostos e capazes a pensar possibilidades para a cidade. O poder somente passa a ter sentido se for para melhor servir aos cidadãos e à cidade. O debate eleitoral não deixa de ser uma singular oportunidade para promover essa reinvenção da política, retomando seu conceito genuíno e fundamental: a arte de se estruturar a cidade para o bem coletivo.
A cidadania política convoca cada cidadão a dar sua contribuição para se remodelar a cidade a partir dos princípios de direito, ética, justiça e solidariedade. Isso não é tarefa de uma única pessoa, é mesmo necessário o envolvimento e engajamento de todos os cidadãos. Não se constrói um novo tempo, uma nova cidade, sem o desencadeamento de um amplo movimento de debate político, ouvido toda a sociedade. No período de debate eleitoral, todos os cidadãos devem se colocar como pré-candidatos, defendendo ideias e projetos, para uma cidade que se faz como direito de todos.
Adelino Francisco de Oliveira é filósofo, doutor pela Universidade Católica de Braga, professor no Instituto Federal campus Piracicaba e pré-candidato à prefeitura de Piracicaba pelo Partido dos Trabalhadores.
Excelente prof.Adelino.Leio sempre seus comentarios no IPEDD e acha-os bastante pertinentes e didáticos. Um abraço companheiro