Quando um ministro da economia vai organizar seus trabalhos a respeito de política econômica, ele se orienta em buscar (em tese) o crescimento da produção e do emprego, controlar a inflação, equilibrar as contas externas e distribuir renda. Nesse processo, podem ocorrer conflitos em relação aos objetivos, mas o ministro e sua equipe devem se instrumentalizar, desenvolvendo uma boa política fiscal, monetária, cambial e de rendas.
Claro que gerir um país complexo como o Brasil exige uma grande capacidade técnica, conhecimento das dinâmicas do país e habilidade política. Toda vez que um gestor público apresenta soluções fáceis para demandas complexas, temos aí uma prática populista.
A pandemia da Covid-19 desestruturou todos os planejamentos que empresas, pessoas e governos fizeram para o exercício de 2020. Mesmo quem (do ponto de vista de finanças) se utilizava de um fundo de reserva para questões colaterais teve que replanejar ou até mesmo desistir de projetos.
A pergunta que se faz é: por que em meio à pandemia da Covid-19 e com todos os desdobramentos econômicos que ela esta gerando, o ministro Guedes decide utilizar um instrumento de política monetária, que é o lançamento e emissão da nota de R$200?
Teoricamente, a criação de uma moeda de valor razoável é para em parte corrigir as questões da inflação acumulada – ou seja, R$100 em 1994 (ano da implantação do Plano Real) equivale, em bens e serviços, a R$621,00 em 2020. A criação de uma moeda de valor alto tem razões tecnicamente salutares para correções inflacionárias.
O lançamento dessa moeda acrescentaria mais 450 milhões de cédulas em circulação no mercado. Numa perspectiva liberal, espera-se mais dinheiro em cédula nas mãos das pessoas, que por sua vez trocam por produtos ou serviços no mercado. Parece razoável, mas vamos refletir um pouco.
O governo por meio da área econômica afirma que a criação da nota de R$200 se justifica, pois irá combater uma provável inflação e facilitar as transações e um possível aumento da atividade econômica (ainda que estamos na era da moeda de plástico). Mas há uma provocação que aqui faço: conforme a teoria monetária, a moeda tem a tripla função de demandar para transação, para precaução (poupança) frente a compromissos não previstos e especulação, para que o agente econômico ( mercado financeiro) aproveite uma oportunidade interessante.
Se estamos em um momento de baixa inflação e a atividade econômica está em baixa, fica claro que a criação desta moeda de 200 reais vai beneficiar o capital improdutivo (mercado financeiro) por causa de sua função para especulação.
A perspectiva econômica desse governo é privilegiar o capital, seguindo a tendência mundial de desviar os recursos que deveriam ir para produção, destinando as operações para o mercado financeiro. Isso retroalimenta a desigualdade de renda e riqueza, promove o aumento do desemprego e por consequência o crescimento exponencial da pobreza.
Para um governo que está em crise, basta ver os escândalos, a ineficiência de gestão do presidente e debandada da equipe econômica – nesse sentido, a criação dessa moeda servirá de espantalho para desviar a atenção da nação do fracasso do ultrapassado liberalismo que Guedes sonha (pesadelo para a nação) para o Brasil, bem como irá atender a ganância insaciável do autônomo e autômato mercado financeiro.
Fleides Teodoro de Lima é professor de Economia e Gestão no Instituto Federal de São Paulo – Campus Capivari