Consumir carne bovina está dentro da cultura alimentar do brasileiro, tanto é verdade que o Brasil é o segundo maior consumidor (38,6 kg/habitante/ano) mundial – estamos falando que 80% da carne bovina consumida pelos brasileiros é produzida no próprio país e seu parque industrial para processamento tem capacidade de abate de quase 200 mil bovinos por dia! A exportação de carne bovina já representa 3% das exportações brasileiras e um faturamento de 6 bilhões de reais (fonte: Embrapa).
Então, vamos pensar juntos, vamos considerar o preço de custo médio (valor que sai do frigorífico) da carne bovina no Brasil em torno de R$18,50. Considerando o consumo de 38,6 Kg/Hab/ano multiplicada pela população economicamente ativa (PEA), estamos falando de um mercado interno de R$75 bilhões/ano (somente no preço de custo) contra um faturamento com exportação na casa dos R$ 6 Bilhões/ano.
A grande força de faturamento dos produtores de carne bovina no Brasil está no mercado interno – apesar de que reconheço a importância da exportação para a contabilidade social brasileira, pois uma balança comercial favorável é positiva.
O problema de mudança por parte da China de alterar o consumo da carne suína por carne bovina se tornou uma oportunidade para os produtores de carne bovina aumentarem seu faturamento, sem aumentar a produção. Pois a mudança da curva de exportação, somada à alta do dólar, pressionou os preços da carne para cima, e isso se tornou um paraíso para os gestores financeiros.
A expansão dos preços sem aumento de produção maximiza o lucro – e como a carne bovina é uma Commodities seu preço é internacional, por isso as empresas do setor de proteína animal operam no mercado de capitais.
Todo esse movimento (de aumento do preço da carne, sem aumentar produção) é para atender o que chamamos de capital improdutivo, ou seja, as empresas querem se rentabilizar e crescer não a partir da produção, mas sim por meio dos ganhos no mercado financeiro.
O jogo é o seguinte, as empresas aumentam o preço da carne bovina, mesmo considerando uma migração do mercado interno para carne suína ou de frango, esse consumo poderá cair para cerca de 30 kg/hab/ano(estimativa minha), essa diminuição de faturamento interno é compensado por duas variáveis. Aumento do preço interno e expansão da exportação. Com o aumento do lucro, o preço da ação da empresa expande.
Para você leitor (a) ter uma ideia, o preço médio das ações das empresas do setor de proteína animal na bolsa de valores era de R$11,00 antes dessa questão chinesa e aumento da cotação do dólar. Após esse movimento de mercado, o preço da ação saltou para R$16,00, o significa que cada investidor que tinha uma ação da JBS, por exemplo, aumentou sua riqueza nesse papel em 31,25%.
Caro leitor e leitora, a mudança de preço da carne bovina pode ter a influência externa, mas a principal questão dessa alteração vergonhosa de preço está baseada, na espírito animal que opera no capitalismo na busca pelo lucro máximo, não se contentando com o lucro ótimo. É o capital improdutivo sacrificando uma população já combalida com as outras questões sociais.
Finalizando, isto é coisa de gente má, oportunista e ambiciosa ao extremo.
Cabe reagir e derrubar esse movimento usando a força do consumo.
Lembre-se que comércio tem 5 mil anos, já o capitalismo tem apenas 500 anos.
Fleides Teodoro de Lima é economista e professor de Economia e Gestão no Instituto Federal de São Paulo – Campus Capivari.