Sem ofensas, mas sem negar o óbvio: a burrice, pura e simples, está na base do bolsonarismo. E que não se confunda aqui burrice com ignorância ou mesmo com falta de estudo. Nada disso. O bolsonarismo vem nos mostrando que as escolas e universidades não deram conta de um elemento mais profundo na mente de nossos cidadãos escolarizados: a burrice. Com força medonha e um tanto oculta, a burrice venceu a escola e os livros, deixou de lado a ciência, o conhecimento e dominou como um câncer a cabeça de brasileiros e brasileiras – muitos até mesmo com curso superior concluído.
Sem esforço algum, o bolsonarismo dialoga com o brasileiro de igual para igual, fala sua língua e entende seus anseios e raciocínios limitados. Não há estratégia nisso, não há plano de comunicação – como afirmam alguns –, não há jogo político pensado – pois seus líderes sequer seriam capazes de tal raciocínio e planejamento. Há apenas uma “fala” de igual para igual com a parte (grande) da “nação” que é rasa, igualmente limitada e, sem dúvida, burra (apesar de, como estamos afirmando, muitas vezes até mesmo escolarizada).
Sem grandes chances de errar, podemos afirmar que o bolsonarismo é composto assim de uma imensa massa (dentre não escolarizados e escolarizados) que se vê reconhecida e amparada num tipo discurso fácil, burro e senso comum. Trocando em miúdos, é triste verificar que, muitas e muitas vezes, nem mesmo uma boa formação acadêmica (como em direito, engenharia, odontologia ou qualquer outra área do saber) é capaz de inibir que se professe aos quatro ventos a fé na ideia, por exemplo, de que “bandido bom é bandido morto”, de que “o Coronavírus é uma ameaça chinesa, que “cloroquina funciona” e outras boçalidades típicas do bolsonarismo raiz.
Nesse sentido, cabe lembrar que muitos cobram da esquerda (e a da oposição em geral) que ela passe a utilizar, justamente, uma estratégia de comunicação mais eficaz e mais próxima do povo – e que possa, assim, valer-se das mesmas armas do bolsonarismo. Triste ilusão. A esquerda, esperamos, jamais conseguirá descer às raias da burrice bolsonarista com a qual se identifica parte expressiva da nação. Jamais a esquerda será capaz (oremos!), nesse sentido, de negar o conhecimento, de professar qualquer crença na matança de negros e pobres, de destilar o ódio contra LGBTQI+, de desprezar a ciência e de apostar que o dinheiro vale mais que a vida. A esquerda, acreditemos, nunca conseguirá ser tão burra e mal caráter.
Na esteira da burrice, cumpre reconhecer também que maior do que o próprio Bolsonaro parece ser o bolsonarismo – ideologia feito crença na qual se irmanam burros de todas as espécies. Para além do “mi(n)to”, os bolsonarista professam seguramente sua burrice por conta própria e – crê este editorial – são até mesmo capazes de descartar seu líder (assim como descartaram o “cavaleiro do apocalipse”, doutor Moro!) se ele, por ventura ou atendendo ao centrão, vier a se desviar das crenças estúpidas que sustentaram os votos que o elegeram.
Pensar dói para os bolsonaristas. Mais fácil, para eles, é agredir, é ofender, é acreditar em boataria. Contra isso, contra a burrice raiz, pouco pode a esquerda. Pouco podemos nós. Triste Brasil. O que nos espera neste país dominado pela burrice é ainda muito pior.