Chegamos a mais um 8 de março – marco simbólico em que celebramos a luta incansável de todas nós, mulheres. E pelo que lutamos? Lutamos, desde sempre, para que nossos direitos sejam estabelecidos, respeitados, cumpridos e iguais. Lutamos para que não sejamos inferiorizadas, para que não nos diminuam, para que não se negue a nós as mesmas condições que os homens têm de trabalho, de salários, de jornadas, de descanso. Lutamos – por incrível que possa ainda parecer, em pleno século XXI – para que não sejamos sexualmente importunadas nas filas, nas ruas, nas escolas ou em quaisquer outros ambientes e locais. Lutamos – por mais triste e duro que também ainda possa parecer – para que não sejamos violentadas, para que não sejamos agredidas, para que parem de nos matar.
Nunca é demais dizer que a data de hoje – longe de ser um dia de amenidades e galanteios-proforma – é dia de escancarar a nossa coragem e exaltar a nossa batalha diária por dignidade, por segurança, por equidade e por humanidade. Não – nunca é demais repetir que o dia oito de março que nesta terça vivemos tem sabor de luta, tem cheiro de coragem, tem cor de inconformismo e forma de mudança. Multicolor e multiforme, nosso oito de março tem alma de esperança e dureza de diamante – tem brilho de vontade, pele de raio e sangue de leoa. Nosso oito de março não é senão nossa mão erguida em sinal de determinação, não é senão a bandeira de nossa indignação tremulando ao vento de um mundo ainda dominado pela masculinidade bruta, pela ignorância do machismo e pela vileza estúpida da misoginia. Nosso oito de março é dia de dizer que a luta continua – e que ela não pode parar nem para ser celebrada.
Provas de que nossa luta, a luta das mulheres, não tem descanso estão em todos os cantos, em todos os lugares, em todas as casas, no trabalho e no lazer. Afinal, de novo e de novo, não nos faltam – minuto a minuto – registros de assédios, de ataques, de importunações, de atentados, de tentativas de feminicídio, de violências diversas e, infelizmente, de assassinatos contra as mulheres a ocorrerem contra nós pelo simples fato de sermos – nós – mulheres. Nesse sentido, vale lembrar que, mais uma vez, em meio a mais uma guerra que assusta e assola a humanidade – em meio a tantas outras tantas guerras invisibilizadas pela mídia e que ocorrem em continentes e países com os quais a humanidade pouco se preocupa – lá está outra vez a mulher a ser violentada, espancada e morta pelas estradas, vítima fatal que quase sempre o é do predador masculino.
Exagero? Antes fosse exagero. E a realidade está aí, posta aos olhos do mundo, dada em exemplos fartos que não nos deixam mentir – dada em exemplos terríveis como o deputado estadual Arthur do Val (PODEMOS), o qual além de ter abandonado suas funções no legislativo paulista para ir combater numa guerra supostamente a fim de auxiliar na produção de (pasme-se!) coquetéis molotov, aproveitou a desgraça humanitária alheia para tecer comentários repulsivos sobre as mulheres ucranianas que, em fila, tentavam fugir do país. “As ucranianas são fáceis porque são pobres”, disse o deputado em áudio gravado a “amigos” (outros homens) para os quais destacou ainda, de maneira nojenta, a “beleza” das mulheres ucranianas – nunca vista, na opinião asquerosa do deputado, nem mesmo numa fila de boate.
Por isso, reiteremos: a luta não para e não pode parar nem mesmo para ser celebrada, para ser exaltada, para ser registrada. Assim, cumpre dizer ainda que no dia em que celebramos nosso oito de março registramos aqui – neste texto que nem de longe se quer festivo – a moção de apelo que protocolamos em nossa Câmara Municipal de Piracicaba (e que esperamos possa ser aprovada) para que seja devidamente encaminhada à Assembleia Legislativa de São Paulo a fim de cobrar que um processo de cassação desse referido deputado seja instaurado por essa casa. Sim. Nossa luta não para e não pode parar e é por isso, sempre, que nosso oito de março tem sabor de batalha e tem coragem de sobra para seguirmos pela senda que nos levará a um mundo melhor, mais humano, igual e fraterno para todos e – sim – para todas nós.
Vibremos outra vez e outra. É oito de março. E a luta das mulheres, a nossa luta, continua.
(Foto de capa: Natália Vera)
Rai de Almeida é vereadora pelo Partido dos Trabalhadores.