O auditório estava lotado com alunos de três cursos, entre eles os de Pedagogia. Eu fazia parte da mesa, discutindo redes sociais e novas tecnologias. Da plateia vem certeira em minha direção a pergunta: você concorda que crianças usem redes sociais? Sim, respondi sem vacilo. Em seguida tentei explicar que não se trata de qualquer rede e que deve haver sempre um bom acompanhamento dos pais. Que cada rede devia ser adequada à idade da criança. Hoje, sem percebermos, as crianças já usam as redes, principalmente nos jogos eletrônicos presentes em nossos celulares e nos consoles de videogames.
Houve um burburinho de indignação de futuras e atuais professoras com a minha posição. As redes sociais não pareciam ser tão bem vistas ali, quanto no curso de jornalismo que frequento diariamente. Na ocasião, eu havia dito que meu filho de pouco mais de dois anos já pegava meu celular e fazia algumas brincadeiras. Hoje, com quase cinco anos, já se comunica comigo e com a mãe enviando mensagens de texto, emoticons, fotos, áudios e vídeos via WhatsApp – usando ora o celular de um ora o do outro. Enfim, meu filho de quatro anos já faz uso de redes sociais no celular. De maneira limitada e com acompanhamento, mas usa.
Desde 2012 a pergunta das professoras ficara em minha cabeça. Estaria eu certo ou errado? Fui muito liberal ou as professoras é que eram demasiadamente conservadoras? O tempo foi passando e a pergunta, embora eu tenha sido categórico no debate, parecia-me agora sem resposta. E assim ficou. Dia desses deixei meu filho sozinho na sala vendo TV por um tempo, porque precisava resolver questões importantes ao telefone e fiquei no quarto. A situação me incomodou, já estava na hora de dormir, mas era uma conversa que não podia ficar pra outra hora. Conversei o quanto deu. Depois de um tempo, preferi deixar o assunto importante pra depois e fui preparar o garoto pra deitar.
Noutro dia, caminhando pelo parque com meu pequeno, vejo um pai, celular na mão, esbravejando com a filha de uns sete anos porque estava num brinquedo do parquinho enquanto a irmãzinha serelepe de dois anos descobria os perigos da vida em outro canto, sozinha. O pai ameaçava levar as duas embora e não voltar mais ao parque se a mais velha não tomasse conta direito da irmã. E dito isso, voltou à conversa sobre pagamento de multas, pelo jeito de um carro que negociava.
Demorei três anos entre a pergunta das futuras professoras e a minha melhor resposta a elas. O problema não está nas crianças usarem as redes sociais e supersmartphones. O problema está em nós, adultos, que ainda não aprendemos a lidar com nossas redes, sejam digitais, reais ou afetivas.
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Wanderley Garcia é jornalista e professor do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba.