Muito se tem falado ultimamente por conta da greve dos servidores públicos de Piracicaba. Vemos as mídias se dividirem entre os que se opõem veementemente às manifestações grevistas e outras que abrem seus espaços às palavras das categorias reivindicantes, em balanças desiguais. Os ambientes virtuais também se conectam e desconectam dos demais, formando polos divergentes. Todos têm opiniões a partilhar ou a refutar, nunca em uníssono, pois também aqueles que concordam, entram em conflito de ideias por vezes. Há urgências a se discutir, a se debater, a se decidir – é a sociedade de novo se movendo e se recuperando do torpor em que esteve mergulhada.
Procuro aqui situar e apresentar o lugar em que estou assentada, o chão da escola da rede pública, para pensar uma conexão: neste universo tão relevante da escola, todos os dias é possível também vivenciar conflitos, ansiedades, inseguranças, intolerâncias e desajustes de comunicação entre as crianças. Afinal, reproduzem aquilo que observam todos os dias, seja em seus lares, através de mídias jornalísticas ou por redes sociais de acesso. Além disso, bem previsível que as crianças e adolescentes, diante da exposição irremediável ao panorama da pandemia, afetadas por perdas irreparáveis de familiares e por prejuízos emocionais decorrentes de um isolamento social prolongado, ao retornarem ao convívio nas escolas se sentissem deslocadas, ansiosas ou desmotivadas.
Neste grande caldeirão de questões prementes para seu futuro ao invés de encontrar um lugar de segurança, de apoio e ludicidade, se depararam com situações poucos resolvidas, titubeantes, desestruturadas e há muito tempo ainda em “manutenção”, parecendo ainda depender somente dos esforços das “formiguinhas”(equipe escolar)para sua sustentação. Seria de se esperar apoios vindos de profissionais especializados em psicologia e psicopedagogia para compor o quadro escolar, com intuito de dar suporte com dinâmicas específicas e atendimentos individualizados às crianças traumatizadas, pelo menos nos primeiros meses letivos.
Entretanto, para “as formiguinhas” que se comprometeram a encaminhar os dois anos letivos precedentes com seus próprios recursos e estruturas, sobrou apenas o discurso em Rádio de nosso gestor municipal – de que pouco trabalharam. E, em meio ao embate de palavras que tais acontecimentos suscitam e as poucas ações de nossos administradores públicos a fim de solucionar problemas de reajuste da inflação nos salários de seus funcionários (apesar do superávit de impostos arrecadados), ficamos ainda a espera de um planejamento e incremento efetivo para apoio às comunidades escolares, às famílias cidadãs e aos servidores públicos.
Queira que o bom senso, ou melhor – a iluminação divina – possa tocar nas mentes e nos corações desses governantes para que juntos enquanto sociedade unida possamos promover a confiabilidade e o desenvolvimento pleno de nossas crianças! Por enquanto, ainda só nos resta lamentar o tempo perdido e o tanto do capital humano desperdiçado por mesquinharias.
Márcia Scarpari De Giacomo – Professora do Ensino Fundamental 1 – Mestre em Educação – Unesp de Rio Claro.
Falou tudo, Márcia!!!! Estamos passando por uma turbulência onde os únicos, realmente, preocupados com as crianças somos nós, professores e demais funcionários da escola… O resto é balela, como sempre!!!! Que Deus nos abençoe e nos encorage a enfrentar e a passar por esse governo sem o mínimo de senso democrático.
O texto Um Lugar de Fala da professora Márcia é uma reflexão que nasce de quem está no cotidiano da vida escolar, cotidiano este, rico de possibilidades, porque cotidiano constituído de relações de pessoas. Portanto, não fala do lugar do poder, principalmente de um poder que deveria, pela natureza mesma do serviço público, estar a serviço do bem comum. É justamente isso que o texto denuncia e reivindica porque fala do lugar do saber. Denuncia um governo local longe da realidade cotidiana e, reivindica ao poder uma mudança de mentalidade e de sensilibilidade às realidades dos servidores públicos que movem-se na educação, na saúde, alhures. Enquanto o Estado – seja ele, local, estadual ou federal – estiver desconectado das necessidades e demandas da sociedade civil não é um verdadeiro Estado. O verdadeiro diálgo reivindicado é um imperativo ético, portanto! E o diálogo possibilita a liberdade. Assim, como diz Pierre-Joseph Proudhon “a política é a ciência da liberdade”. Que os funcionários públicos, principalmente de Piracicaba, em movimento de luta, não negociem suas liberdades!
Nos, funcionários públicos, estamos felizes com a repercussão da greve, não desistimos seu prefeito, estamos em estado de greve.
Marcia, você resume muito bem em poucas linhas uma dificuldade que professores e demais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem enfrentam diariamente sem a devida valorização e contrapartida dos orgãos competentes e as vezes até mesmo da sociedade. Se faz necessário o diálogo aberto entre todos envolvidos para que se crie uma conexão para um amplo avanço no relacionamento e consequentemente no desenvolvimento dos trabalhos em beneficio principalmente dos alunos