Ouvi Manuela d’Ávila – como pré-candidata ao Planalto (pelo PC do B) – pela primeira vez, quando ela foi sabatinada em um programa da rádio CBN, há alguns meses. Fiquei perplexo. Há tempos não ouvia alguém falar com tanta desenvoltura sobre economia, agenda pública nacional e internacional, conjuntura brasileira, questões sociais, direitos humanos, política geral etc. Bombardeada de todos os lados por inquiridores dispostos a colocá-la em situação difícil ou vexatória – a qual poderia minar sua exposição como pré-candidata -, Manuela distribuiu segurança e sobrou em conhecimento e domínio da arte célebre da dialética. Mais do que isso, em poucos minutos de entrevista a pré-candidata literalmente calou seus entrevistadores – argumentando com habilidade e, ao que me pareceu, verdade –, deixando-os sem novas possibilidades de contra-argumentação. Um show!
Guardei seu nome daquele dia em diante – e fiquei atento ao que encontrava dela pelas redes sociais e blogs alternativos. Já sem espanto em relação à segurança e clareza de suas propostas, fui passando a admirá-la ainda mais no que dizia respeito agora à sua presença marcante e corajosa em momentos cruciais da recente vida política brasileira. Nos manifestos-monumentos em memória de Mariele, lá estava Manuela. Em água-forte-presença ao lado do ex-presidente Lula, por diversas ocasiões (incluindo as que antecederam marcadamente à prisão dele), lá estava Manuela. E mais. Muito para além de uma presença protocolar em cenários emplemáticos, percebi que havia em Manuela nessas ocasiões um ímpeto visível de indignação em forma de postura-corporal e ações verbais e gestuais. Havia, portanto, por parte dela – e estou convencido disso –, comprometimento político e compromisso real com novas e importantes propostas para o Brasil.
Pelas redes sociais, pude conhecer ainda mais e mais dessa natureza forte e ao mesmo tempo meiga e natural que vem falando a grupos de jovens e estudantes em um sem-fim de intermináveis encontros pelo país. Novamente, me admirei. Há uma energia em Manuela capaz de angariar a atenção do público e de se fazer ouvir e entender por ele. Suas declarações são conscientes. Suas posições sociais de extrema importância. Suas lutas (que também são as do povo) são urgentes. Suas propostas assertivas são pautadas em reflexão e conhecimento. E sua maneira de responder ao que lhe é inquirido exala positividade, afirmação e – novamente – segurança. É fato também, e importa dizer aqui, que enquanto descobria essa força-política chamada Manuela atentei também para outros atores políticos do campo progressista que vem ocupando espaços semelhantes ao dela. Nesse ínterim, também passei a conhecer mais de perto a candidatura e as propostas do igualmente “jovem” filósofo Guilherme Boulos. Certamente, ambos, Manuela e Boulos, são hoje importantes destaques do cenário político “à esquerda” – sempre cobrado por fazer surgir novos líderes “pós-Lula” – e devem crescer nacionalmente ainda muito mais.
Nessa segunda-feira (25/06), Manuela d’Ávila participou do programa Roda Viva – da TV Cultura. A repercussão de sua participação nesse programa é gritante. Em meio a uma enxurrada de perguntas ridículas, de questionamentos idiotas, de provocações sem sentido, Manuela sobrou. E muito! Seu nível de preparo revelou-se muito (mas, muito) além do que propuseram a quase totalidade dos que tomaram parte da “roda” de perguntas. Com serenidade, mas com segurança e força, Manuela expôs a fragilidade daqueles que – desejosos por intimidá-la de alguma forma – intentavam tolher-lhe a palavra e conduzir o debate rumo ao absurdo. Novamente, diante desses, há de se destacar: Manuela sobrou.
Sobre esse referido programa e sobre sua produção “tinhosa”, prefiro não opinar. Apenas lamentar.
Diante do desenho do quadro eleitoral que se anuncia, ainda não sei se meu voto vai para Manuela – há talvez boas possibilidades de que isso ocorra, mas quero esperar a definição final do TSE em relação a todas as candidaturas.
Nessa mesma linha, acho bastante difícil que Manuela vença as eleições ou mesmo vá ao segundo turno – o que é uma pena. No entanto, Manuela (e também Boulos, sim) são luzes que começam a brilhar com grande força no campo progressista e democrático – e isso é indiscutível.
Brilham com força a nos encher de uma bela esperança – e de uma certa e curiosa nostalgia. Afinal, ambos mostram que ainda é possível debater e refletir politicamente com inteligência. Mesmo respondendo a idiotas.
(foto: reprodução Instagram)
Alexandre Bragion é editor do Diário do Engenho.
Obrigada por seu texto, Alex!!!! Há esperança, com Manuela e Boulos!!!!