Toda Mulher quer ser Frida Kahlo

Toda Mulher quer ser Frida Kahlo

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Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade.

Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.

Frida Kahlo

Frida Kahlo, artista plástica mexicana, nascida no século XX, companheira de Diego Rivera, contemporiza a memória de uma grande trajetória, a inclinação para ilustrar a arte de maneira espontânea, recorrendo às forças intuitivas e da alma. Assim era a nossa querida Frida: a manifestação do afeto, o apelo para o inconcebível, o robustez das vontades caladas, singelas e intimas do feminino.

Frida Kahlo e suas pinturas comportavam-se como inspiração da natureza, avassaladora, rompendo todas as barreiras, desconstruindo mundos inesperados. A sensibilidade de Frida apontava para suas dores, presságios, desejo interior, margeando os espaços oníricos, quase intransitáveis. Com uma alegria marcadamente surreal, seus retratos intimidavam, sugestionavam formas geométricas, linhas irregulares, escopo do caos e do equilíbrio, do inferno e do paraíso, pormenorizando as contradições e inclinações tipicamente humanas.  Kahlo dispunha de algo único, uma energia vital, clamor visceral para falar, vociferar através de seus desenhos, imagens irreverentes, doloridas, impactantes.

frida1O mundo desconhecido, a afetação do homem, o pranto, a fonte de todas as agruras, o inconsciente ativo, as tristezas do humano estão inscritos nos seus quadros, galgando a sensibilidade e o que não é reconhecido apenas pela razão – outrossim, deliciosamente, pelo coração irrequieto. Frida, muito além de suas composições artísticas, revelava um perfil peculiar, exclusivo, incomparável. Na condição de mulher mexicana, carregava as pompas, os traços físicos a sugerirem um toque, uma excentricidade tipicamente tropical e latina. Retratava a si mesma, tendo como pano de fundo uma paisagem exultante, um mosaico de animais e volumosa vegetação. Seu velho amigo, uma primata ancorado nos seus ombros, alargava sua fisionomia e falava de suas preferências: um contagiante amor, idolatria pela natureza. Frida fugia dos padrões ocidentais de beleza: seus olhos negros, torneados por densa e cerrada sobrancelha, os pelos demarcando o rosto e o buço, os cabelos longos e generosos, amarrados infinitamente em sua trança extensa, tracejavam uma face exótica, inflamada por uma altivez sem medidas. A artista mexicana conclamava pela vida, enfrentando sua deficiência física, confrontando as esperanças, amando, numa generosidade estonteante, meninos e meninas.

Frida Kahlo coloca-se como ícone da sensibilidade e do universo feminino. Viajou pelo mundo, conheceu personalidades, incluindo o polêmico Salvador Dali. O colorido de suas roupas e xales, representando a vivacidade da América Espanhola – profundamente miscigenada –, chamou a atenção da Europa e da América do Norte. Há aqueles a asseverarem que Frida disseminou suas ideias e representações no campo político, conquistando o coração militante do revolucionário bolchevique Leon Trotsky.

frida-kahlo-infertilidadeEsta era a saudosa Frida Kahlo: figura persistente, otimista, cujas representações ecoam no pensamento, sugerem tendências, preparam condutas e comportamentos. É muito comum ver a imagem de Frida estampada em bolsas, roupas, acessórios femininos – se não considerarmos a quantidade infinita de imagens e quadros marcando sua singela fisionomia. Nossa querida artista Mexicana tem um clamor atual, persistindo uma adoração do grande público – sentimento impar que destaca seus trabalhos como o ápice de um estado psicológico, quase letárgico, que sugere diferenças, algo heterogêneo, plural, diverso, irresistivelmente múltiplo. Frida fugia de algumas características, dos traços físicos esperados pelo mundo europeu e do padrão de comportamento da época – e ainda, ousadamente, foge -, trajando-se com cores, impondo-se como gloriosa cidadã  do território latino, arauto de uma ousadia inconteste, tentando revelar a mulher como o compêndio dos sentimentos brandos e selvagens, da liberdade, autonomia, de uma energia vital que atravessa o corpo, a consciência e o espírito.

Não é para menos que, caso se pergunte a uma mulher o que deseja realmente ser – ainda que tímida, sussurrando baixinho, clandestinamente –, ela responderá: em verdade, amigo, gostaria de ser como Frida Kahlo.

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GTS (225)

 

 

 

 

 

 

Maria Teresa Silva Martins de Carvalho é Assistente Social do Tribunal de Justiça de São Paulo e autora do livro “Paixão de Cristo: paixão de piracicaba”.

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