Os livros sempre me causaram certo fascínio. Não que na minha infância e parte da juventude eu fosse um grande amigo da leitura. Preferia muito mais o futebol no campinho e a rua, que trazia tantas possibilidades de brincadeiras. O fato é que os livros sempre despertaram em mim um tipo de encantamento. Lembro-me que lá em casa tínhamos um grande armário de livros. Eram os livros do João Francisco, nosso irmão mais velho, que era também nossa grande referência e inspiração. João era escoteiro, disciplinado e cheio de ética, mas esta é uma interessante memória para um outro texto. Um dos meus projetos de juventude era organizar os livros de nossa singela biblioteca, depositados tão cuidadosamente naquele armário, tomado pela aura da ciência e do conhecimento.
Talvez por essa referência trazida de casa, desde a infância, é que quando eu entrei no seminário dos Padres Salvatorianos, na cidade de Conchas, minha primeira função, na divisão das tarefas e já no espírito de uma educação muito disciplinada, foi ficar responsável pela manutenção e cuidados para com a biblioteca. E ali era uma verdadeira biblioteca, não mais um pequeno armário. Não sei dizer quantos títulos aquela fascinante biblioteca colecionava, mas sei que eram muitos e diversos. Para além dos livros de espiritualidade, religião e filosofia, a biblioteca do Seminário Nossa Senhora Aparecida tinha uma vasta coleção de livros da literatura mundial e também nacional. Acho que lá eu passei minhas melhores horas do ensino médio. Com os Padres Salvatorianos eu aprendi, de uma vez por todas, a amar os livr
É estranho pensar que a cidade de Piracicaba prossiga sem grandes livrarias. Durante alguns anos eu gostava de passar minhas manhãs de sábado na Livraria Nobel, no centro da cidade. Era bom tomar café e ficar por ali, lendo e acompanhando o movimento da cidade. Minhas filhas sempre me acompanhavam. Essa convivência com os livros, até certo ponto gratuita e espontânea, era sempre uma oportunidade de alimentar o espírito. A cidade tem alguns sebos interessantes, até com títulos raros, mas carece de livrarias e cafés.
É verdade que tem a biblioteca do Seminário São Fidélis, dos Frades Franciscanos Capuchinhos. Na primeira década dos anos 2000, logo que cheguei a Piracicaba, tive o privilégio de lecionar no São Fidélis e conviver, bem de perto, com tantos Frades ilustrados, que simplesmente se alimentavam também de cultura e adoravam os livros. Acho que Frei José Carlos Pedroso, por exemplo, vivia literalmente na biblioteca. Na ocasião, o talentoso Frei José Moacir Cardenasi era o responsável pela biblioteca. Ele explicava sobre sua rotina para garimpar novos títulos para uma biblioteca que já somava mais de 60 mil livros. A biblioteca dos Frades Capuchinhos já se projetava como um dos belos patrimônios da cidade.
A questão é entender como uma cidade, designada, inclusive, como universitária, tem conseguido viver, por tão longo tempo, sem livrarias? Como, especialmente os mais jovens, vão aprender a amar os livros se não há livrarias dispersas pelas esquinas da cidade? Falta na cidade uma livraria de encher os olhos, expondo os livros como verdadeiras obras de arte que são. Outro dia, uma jovem estudante me disse que, com o advento da internet, não é mais preciso livrarias físicas, tudo pode ser adquirido de maneira on-line. Talvez seja mesmo isso, as pessoas hoje buscam seus livros em estantes virtuais.
Há uma pesquisa que aponta que a média de leitura do brasileiro é de quase quatro livros por ano. Não sei se essa informação é tão confiável, mas tenho estimulado a leitura entre os estudantes. Sempre que estou em São Paulo com algum tempo para o ócio, gosto de frequentar as livrarias de lá, tomar um café sem pressa, ler e até escrever um pouco. Este breve artigo foi escrito em uma manhã de domingo, no Café Mestiço, da livraria Martins Fontes. Hoje são minhas filhas quem me indicam novos e diferentes lugares, tanto em São Paulo quanto no Rio, para estar com os livros. Oxalá Piracicaba redescubra a plena alegria que é estar no singular espaço de uma interessante livraria e se tiver um cafezinho, tanto melhor!
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba.
