O Brasil pós-golpe de 16 tornou-se verdadeiramente um grande programa de auditório – desses dos mais bregas e idiotas que invadem a televisão aberta aos domingos à tarde e à noite. No centro da tela, um governo auto-imposto cujo líder maior busca agora publicidade a qualquer custo.
Nos bastidores, ministros envolvidos em escandalosos casos de corrupção (revelados a partir de um sem-fim de provas documentais como vídeos, áudios e fotos de malas abarrotadas de dinheiro. Elementos de um show televisivo capaz de deixar até mesmo o “homem do baú” de queixo caído).
Na hora do intervalo, a programação é interrompida para se exibir uma deputada – com implicações na Justiça do Trabalho – cercada de homens semi-nus, em um iate, defendendo a sua honra e o direito de se tornar, nada menos, do que ministra do trabalho.
Na claque, o público vocifera contra esse ou aquele líder político – mas cala-se diante das piadas ditas pelo grande show-man do Brasil atual.
O Show do Milhão do governo continua a dar chances apenas àqueles que, antecipadamente, já sabem as respostas. Na tribuna dos universitários, os participantes já estão com suas opiniões prontas, escritas previamente, mesmo antes de eles ouvirem as perguntas. O show segue assim um padrão de normalidade, parece cumprir o que a “lei” dos palcos e das atrações populares determina.
Apoiando as respostas dos universitários, jornalistas e comentaristas sorriem ironicamente e legalizam tudo em seus jornais – afirmando confiantes que a resposta em voga está certa (mesmo quando até representantes da ONU dizem que tudo está errado).
Pode-se entregar o prêmio aos desafiantes – mais um milhão os espera.
No domingo à noite, o show patético do governo adentra aos lares brasileiros mostrando um presidente da república fazendo piadas sobre corrupção em seu governo e contanto histórias sobre o fato de que se aprovar uma reforma previdenciária que determina que o brasileiro se aposente apenas aos 65 anos é salvação do país.
Todos riem, batem palmas e aprovam.
Que pena.
Pena, mesmo, é que o Sílvio Santos não coloque mais no ar o clássico “A Semana do Presidente”, como ele fazia durante a ditadura militar que destruiu o país. Teríamos semanalmente mais atrações assim.
Desliguemos nossa televisão por alguns anos.
Afinal, às vezes, como agora, é melhor quebrar as antenas e os receptores de sinal.
A televisão, nesse caso, realmente nos deixa – como cantavam os Titãs – burros, muito burro demais.