Eu uso errado as redes sociais. Não uso muito, é verdade. Não tenho perfil no Twitter ou no Instagram. Demorei para me render ao Facebook. Não tenho muitos ‘amigos’. Quase não posto fotos. Se alguém entrar no meu perfil a fim de bisbilhotar minha vida ficará decepcionado. Não tem nada sobre minhas últimas férias, não tem foto do fim de semana, não tem fotos na praia ou no shopping.
Sigo alguns perfis de jornalistas, políticos, professores, alguns perfis oficiais de jornais (BBC, El país, TIB etc). Compartilho muitos textos de opinião, meus e de outros, muitas notícias. Em média, minhas postagens sobre educação, política, cinema, literatura e atualidades têm de 3 a 10 ‘curtidas’. De vez em quando 1 ou 2 comentários. Hoje tirei uma foto, achei que ficou boa, resolvi mudar minha foto de perfil. Em algumas horas eis que a foto tem mais de 50 curtidas. Ah, o poder das imagens…
Confesso que isso me deixou frustrada. Tenho tanto para dizer, escrevi tantas linhas durante 2019, mas é uma foto que recebe atenção. Não sei bem o que estou fazendo no Facebook. Eu não sei usar rede social. Queria interação, leitores, pessoas com quem trocar ideias. Mas acho que estou no lugar errado. Será que há lugar para isso? Para trocar ideias? Muitos, inclusive eu, já disseram que as redes sociais seriam a Ágora do século XXI, no entanto, a comparação não me parece adequada. O Facebook está mais para pracinha de cidade do interior.
Sim, aquele lugar onde as pessoas vão (ou iam?) exibir a roupa nova no final de semana, indo e vindo de uma ponta à outra. Lugar onde as panelinhas de jovens se reuniam para fofocar a respeito dos membros das outras panelinhas. E era só isso. Raramente alguns amigos se juntavam para conversar e discutir algo realmente interessante e produtivo que não envolvesse a roupa da fulana, a traição do sicrano, a gravidez da filha do beltrano entre outras futilidades do tipo.
E o Facebook parece isso: uma grande pracinha de interior onde todos desfilam suas roupas novas, namorados, filhos, carros novos… Ninguém quer saber de nada sério no Facebook. De sério já tem o trabalho, o casamento ou o namoro chato, o trânsito de todo dia, o jornal – que ninguém assiste mais, porque só tem tragédia mesmo. Então, bora fazer pose na pracinha! E se quiser fofoca, para isso tem o WhatsApp, sempre com uma boa teoria conspiratória que a gente logo passa adiante…
Será que vale a pena manter meu perfil no Facebook? Será que vale a pena escrever este texto? É bem provável que eu esteja no lugar errado, me incomodando com o que é normal para todo mundo. Assim como muito cedo quis fugir da cidade pequena com sua pracinha, sinto que não há muito para mim nas redes sociais. Talvez seja hora de partir em busca de uma nova Ágora de verdade, de um lugar em que se queira mais do que aparência, no qual se possa conversar, trocar ideias, pensar o mundo, construir alternativas.
Francine Ribeiro é filosofa e professora de Filosofia no Instituto Federal campus Capivari.
Gostei do texto. Acrescentaria: Hoje em dia não precisa mais conversar com as pessoas, é só leitura e fotos de fofoca. Me fale pra que eu preciso saber onde a Maria foi? tudo babioli…
Pedro Zagatto, obrigada pelo comentário! Parece que falta educação digital. As redes sociais e a internet em geral são subutilizadas ou mal utilizadas. Precisamos repensar nossa relação com essas ferramentas urgentemente.