Levou algumas décadas, mas, este ano meu sonho de contar com um robô em casa, pra ajudar na limpeza, começou a se realizar. Claro que ainda não é bem uma empregada robô, como a Rosie da família Jetson. Lembram? Ela era uma fofura metálica com sua corpulência de matrona equilibrada sobre um pé com três rodinhas. Usava touca e avental de babados, falava com uma simpática voz artificial, reconhecia os membros da família e o cachorro.
Meu robô, pra começo de conversa, é menino, não usa uniforme e tem a insígnia dos autobots, robôs do filme “Transformers”, gravada no corpo. Graças a seu formato, recebeu o nome de Gregor Samsa, aquele personagem do Kafka que, num dia memorável pra literatura, acordou transformado “numa espécie monstruosa de inseto”. Pequeno o suficiente para entrar embaixo da maioria dos móveis, meu Gregor roda pela casa toda, aspirando pó e aniquilando bactérias com seu raio ultravioleta. Quando termina o trabalho, trata de procurar sua fonte de energia, conectar-se a ela e ficar quietinho se alimentando.
Nos primeiros dias, eu não confiava no Gregor. Ficava observando seus movimentos como se ele pudesse fazer corpo mole e ir rapidinho se alimentar sem limpar nada direito. E se ele desse um jeito de incendiar a casa? Nada disso aconteceu, mas foi bom vigiar porque descobri que nossos gatos desenvolveram uma fixação pelo robô. Perseguem-no, armam-lhe emboscadas, estapeiam sua escova giratória ou deitam-se em sua frente para ser escovados. Com o reservatório de sujeira cheio de pelo de gato, a máquina desvia desses obstáculos ronronantes e continua imperturbável até parar para recarregar. Aí, redondo, quentinho e quieto, transforma-se na cama ideal. Os gatos se empilham em cima dele e dormem exaustos de tanta correria.
Essa fofura toda esconde um plano sinistro. Meus gatos não amam o Gregor. Amontoam-se sobre ele, bloqueando as frestas de ventilação, porque pretendem matá-lo sufocado, por superaquecimento e, assim, trazer de volta minha última faxineira humana. Já faz um tempão que a mulher se mandou. Sumiu de repente, levando eletrodomésticos e roupas como lembrança. Os gatos, porém, não se esquecem da ladra gentil, que assaltava a geladeira por eles, dando-lhes presunto fatiado em vez de ração.
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Carla Ceres é escritora.
Oi, pessoal! Aproveitando o espaço, deixo meus votos de BOAS FESTAS pros colegas escritores, pro nosso poderoso chefíssimo, o Alê, e pra vocês todos que nos acompanham no Diário do Engenho.
FELIZ 2014!!!
Sensacional, Carla! Fica com o Gregor… muito mais eficiente… aquece, não rouba, diverte a bicharada, ops, os bichanos e ainda deixa tudo em ordem… Não precisa de registro em carteira… etc tal e coisa! Penso em encomendar um aqui pra mim também!
Abraços e Boas Festas!
Célia.
O Gregor é muito útil mesmo, Célia, e, até agora, não roubou nenhum gato, coisa que uma das ex-assistentes fez. 🙂 Beijos!
Olá prezada Carla, e que tudo esteja bem contigo!
E cá estou eu sendo repetitivo, no entanto creio ser necessário, pois me é difícil comentar teus textos sem falar do estilo tão bem elaborado com belas palavras neles, além disso, o teu sempre ótimo humor falando do cotidiano de tantos, sem ser , digamos, agressiva ou mesmo desleal.
Espero que os peludos ronronantes não sufoquem tanto o Gregor, pois seria uma lástima você perder o seu faxineiro autobot, e torrado pelo aumento da pressão devido ao excesso de calor em seus cibernéticos órgãos!
Parabéns por mais este belo escrito, e obrigado por compartilhar!
E aproveitando eu cá estar deixo meu agradecimento por tua generosa companhia e amizade neste ano, e desejar que no próximo que logo cá vai estar, possamos seguir com esta mesma e intensa amizade, e também que você e todos os que te cercam tenham sempre em suas vidas a felicidade intensa em todos os tempos, um grande abraço e, até o próximo feliz ano novo!
kkkkk Muito boa sua descrição do sufocamento do faxineiro cibernético, Sotnas. Eu que agradeço pela companhia e amizade. Um 2014 excelente pra você e sua família!
Fantástico! Eu quero um negócio desse, Carla!
É legal mesmo, Regina. Beijos!
Olá, Ceres,desde final de 2013 que sumi da blogosfera e quando retorno ganho de presente esta deliciosa crônica. Preciso de uma geringonça dessas, pra minha nova morada: genial!
Sabe amiga, minhas duas gatosas vão estranhar mas, não há perigo de fugirem: todas as janelas terão telas. Beijos!
Bom saber que as gatinhas estarão em segurança, Lúcia. Creio que vocês se divertiriam bastante com um Gregor pra brincar e ajudar na limpeza. Pode até dar boas fotos. Beijos e obrigada pelo carinho!
Querida Carla
Que maravilha deve ser esse Gregor! Quem me dera um para mim… Seria a forma de dar umas folgas à empregada, que às vezes não tenho muita paciência para aturar :))) Mas a verdade é que antes com ela do que sem nenhuma, aí é que bate o ponto!
Achei uma maravilha esta descrição do convívio felino/cibernético.
Estou como o Sotnas – até me sinto mal em dizer sempre a mesma coisa, mas fazer o quê? se adoro a forma (correctíssima) e atraente como você escreve? Pronto, não digo mais nada!
Um GRANDE beijinho
Mariazita
(Link para o meu blog principal)
Obrigada, Mariazita! Você tem cachorro, não é? Imagino como os cães reagiriam a um Gregor. 🙂 Beijos!
Gatos são mesmo muito divertidos! E inspiram nossos contos e crônicas
Veja isso Carla: http://www.youtube.com/watch?v=rBBcA918PqI
abraços e feliz 2014!
kkkkkkk Valeu, Ivana! Vou arrumar uma fantasia pros gatos lá de casa. Beijos!
Hora de providenciar robozinho competente pra despistar, ou distrair, os belos e não menos espertos felinos.
Cadinho RoCo