QUE FAZER?

QUE FAZER?

A construção de uma sociedade equânime, sedimentada em uma democracia de alta intensidade, aberta à diversidade e multiplicidade do humano, com estruturas voltadas ao pleno desenvolvimento das potencialidades de cada pessoa – reconhecida em sua dignidade –, constitui-se como o caminho a ser vislumbrado no contemporâneo.

Em um cenário apolítico de pura distopia, marcado por tantos reveses e retrocessos estruturais e conjunturais, torna-se urgente definir metodologias de ação, alcançar alguma clareza por onde começar e saber também o que fazer, contra o risco do imobilismo e da perplexidade.

Torna-se fundamental reforçar a convicção de que a perspectiva de uma sociedade para todos deve se compor como o horizonte utópico inegociável. Suplantar estruturas que gerem opressão e exploração configura-se como tarefa inspiradora, a atribuir pleno sentido à existência. A causa da justiça, da liberdade se compõe como a única luta que de fato importa.

É preciso, antes de tudo, manter uma certa lucidez e equilíbrio emocional, para não sucumbir diante de tantas posturas absurdas, carentes de um mínimo de sensatez, reveladoras de limitadíssimas visões de mundo. O triunfo momentâneo da ignorância e da estupidez pode ser mesmo perturbador.

A constância do pensar crítico e problematizador configura-se como outro elemento basilar para a superação de horizontes estreitos. Atento às contradições da realidade, o exercício do pensamento não se deixa manipular por ardis sensacionalistas e fake news. O pensamento crítico tem sempre um potencial emancipador, capaz de conduzir a processos de libertação existencial e também social.

É fundamental aprofundar o campo da práxis política, de maneira a avançar na compreensão teórica e no fortalecimento da militância e do engajamento. Os discursos apolíticos, que negam a política e buscam, inclusive, a destruição dos partidos, só servem para inviabilizar a mobilização, luta e conquista por direitos. A política se constitui como a via para toda e qualquer transformação social. É por meio da política – do exercício do poder como serviço à coletividade – que se constrói o bem comum. Para uma práxis política libertadora, torna-se preciso a consolidação de uma democracia de alta intensidade, com plena participação popular. É tarefa urgente e irrevogável da política edificar a cidade como o espaço de todos os cidadãos.

Uma radical transformação da sociedade pode ter como origem mudanças cotidianas, a atingirem as relações na esfera micro. Em âmbito menor, com abrangência mais restrita, profundas transformações podem ser gestadas. Há uma força potencial nos pequenos gestos, capaz de irradiar grandes transformações. Muitas vezes pequenas atividades, inseridas no mais cotidiano da vida, tornam-se relevantes e duradouras iniciativas, abrindo novas possibilidades para o conjunto da sociedade.

É imprescindível estreitar ao máximo os vínculos com as bases da sociedade, ouvindo e dialogando com o povo, de maneira a partilhar o dia-a-dia da vida e caminhar ao seu lado. No chão da vida, junto ao povo, nas experiências existenciais mais cotidianas, há uma dimensão de solidariedade, de uma profunda esperança, de uma sociabilidade aberta e fraterna.

A concepção de que a história avança em um movimento dialético sustenta a esperança de que a resistência e luta produzirão frutos. Tal perspectiva não significa aderir a uma leitura triunfalista e messiânica da história, mas possibilita sair do imobilismo, com a confiança de que é apenas a luta quem movimenta a história. Uma outra realidade, compondo uma nova sociabilidade, pautada no princípio da alteridade, pode ser historicamente forjada.

 


Adelino Francisco de Oliveira é doutor em Filosofia, mestre em Ciências da Religião e professor no Instituto Federal, campus Piracicaba.

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