Política tributária progressista: Lula/Hadad na contracorrente

Política tributária progressista: Lula/Hadad na contracorrente

Para que serve um governo que se diz de esquerda, se ele não atua para melhorar a distribuição da renda, tendo sido eleito, a duras penas, pelo povo de um país em que a concentração da renda se perpetua historicamente, lançando mão inclusive de gastos públicos favoráveis aos ricos e de tributos que oneram os mais pobres? Para quase nada.

Então, aplausos ao governo Lula pela audaciosa medida redistributiva que Hadad está agora mesmo submetendo ao Congresso para reforma progressista do imposto de renda e, finalmente, tributação dos muito ricos. Aplausos pelo acerto e pela coragem. E torcida para que a iniciativa não dê em nada. Muita torcida, porque a probabilidade é que naufrague nas águas turvas de um Legislativo absolutamente avesso ao uso do poder para melhorar as condições de vida da massa; também porque se trata de uma medida de política econômica numa era global de obstáculos quase intransponíveis ao uso desse instrumento pelos governos.

À parte o mérito social e ideológico do que Hadad está oferecendo, caberia discutir uma série de problemas que a coisa envolve, tanto de natureza econômica/tributária/orçamentária, quanto no que diz respeito à capacidade de articulação do governo de coalizão de Lula para que não seja derrotada. Os meses que virão serão tomados por debates a este respeito.

As discussões e disputas que acontecerão não podem desconsiderar um fato: Hadad e Lula nadam contra a corrente, contra a correnteza, na verdade: estão na contramão em relação ao chamado mainstream do pensamento econômico. Sim, pois o que tentarão é emplacar medidas de política econômica num mundo em que já não existe política econômica. E, pior, num mundo em que os obstáculos à política econômica foram colocados exatamente para evitar que a política/o poder/o Estado/o governo venha a favorecer os pobres que, do mercado, têm muito pouco a esperar.

Entenda aqui (https://www.valdemirpires.com/post/j%C3%A1-n%C3%A3o-existe-pol%C3%ADtica-econ%C3%B4mica) porque já não existe política econômica e o que isso significa.


Valdemir Pires é economista e escritor. 

 

foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

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