Matérias publicadas pela imprensa piracicabana nessa última terça-feira (06/ago.) – em especial pelo Jornal de Piracicaba e Gazeta – revelam a falácia do discurso do poder municipal que afirma que trata 100% do esgoto da cidade. Como indiciam as matérias, talvez Piracicaba trate 100% apenas do esgoto “capitado” – o que, convenhamos, é bem diferente do que afirmam os gestores locais.
De acordo com o divulgado pela imprensa nas referidas matérias, por exemplo, uma erosão no bairro São Francisco é causada – há pelo menos dois anos! – por esgoto clandestino. Ora. Dois anos! Não seria esse um tempo suficiente para que a Prefeitura Municipal pudesse ter descoberto quem são os responsáveis por esse “esgoto irregular”? Dois anos para se resolver uma questão tão básica e nada até agora foi feito.
Em relação a esse caso, vale ainda lembrar que o Semae alega não ter dinheiro para resolver o problema. Todavia, a empresa Águas do Mirante receberá este ano nada mais na menos do que R$ 82 milhões de reais para cuidar do esgoto da cidade. Seria demais perguntarmos se, mesmo com tanto dinheiro vindo dos cofres públicos e do bolso dos cidadãos piracicabanos, não haveria como a Águas do Mirante resolver a demanda? E mais: se a erosão tivesse ocorrido no Centro – e não em um bairro periférico – a solução para o problema já não teria sido encontrada pela Prefeitura?
Nessa mesma via, a matéria publicada na terça-feira pela Gazeta alerta para o aparecimento de espumas e mau-cheiro no córrego que corta o bairro (ironicamente) denominado Água Branca. Em outra ocasião, no dia 28 de julho, outra matéria do Jornal de Piracicaba mostrou também que a população de Anhumas ainda sofre com esgoto a céu aberto.
Como se pode comprovar por meio da imprensa piracicabana, o histórico de problemas com o esgoto em Piracicaba vem de longa data. Nesse sentido, vale lembrar que, no dia 26 de junho, outra matéria do Jornal de Piracicaba já dava conta das reclamações de moradores do bairro Alto da Boa Vista – que convivem com vazamento de esgoto há um ano. Diante de todos esses fatos documentados, uma pergunta se faz novamente necessária: será que R$ 82 milhões não são suficientes para a Águas do Mirante fazer a manutenção do esgoto da cidade?
E tem mais. Em 17 de maio, outra matéria veiculada pelo JP retratou o despejo ilegal de esgoto na Lagoa do bairro Santa Rosa – esgoto esse oriundo do Distrito Industrial Uninorte. No dia 27 de abril, mais outra matéria revelou que no Parque Piracicaba, principalmente em dias de chuva, o esgoto verte no meio da rua! Pois bem. Se o esgoto está vertendo pela rua em dias de chuva é porque há problema de interligação entre a galeria de águas pluviais com a rede e esgoto – é evidente.
Diante de tantas ocorrências, no entanto, a Prefeitura de Piracicaba e o prefeito Barjas Negri – ao invés de enfrentaram os reais problemas de saneamento da cidade e aplicarem uma tarifa social de água para as famílias mais pobres – preferem instalar pelas ruas placas que indicam que Piracicaba trata 100% do seu esgoto. Ora veja. Você acredita nisso?
Em tempo de pós-verdade, parece que as falácias e as propagandas enganosas descem esgoto abaixo também por nossa cidade.
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Rai de Almeida é advogada e ex-vereadora.