Piracicaba e os Direitos de Cidadania

Piracicaba e os Direitos de Cidadania

A cidade de Piracicaba comemora 257 anos de história e seu grande desafio continua sendo garantir o acesso aos direitos de cidadania para todos os seus habitantes. Toda cidade é fundada com uma perspectiva, poderíamos até dizer com uma vocação universal: proteger e propiciar condições dignas de existência para todos e todas que nela vivem. As cidades são criadas, politicamente, para assegurar direitos, em um contexto no qual todos se sintam, sob o prisma da lei, seguros e protegidos, alcançando o bem-estar e a felicidade. Para isso servem as cidades e com Piracicaba não é diferente.

O aniversário de 257 anos não deixa de ser um marco histórico simbólico. A data configura-se também como um convite para que Piracicaba volte os olhos para contemplar o seu passado, ponderando sobre acertos e equívocos, e projetar suas possibilidades de futuro, tendo sempre como referência o princípio ético de avançar na universalização da garantia dos direitos fundamentais de cidadania, erguendo-se como uma cidade comprometida com a produção da justiça social e ambiental. Infelizmente ainda estamos muito longe disso!

O fato é que essa cidade que almejamos do ponto de vista político, capaz de proteger tanto seus cidadãos quanto o meio ambiente, ainda não nasceu! Apesar de seus 257 anos, Piracicaba ainda está engatinhando quando o tema é a justiça social e ambiental. Em um desvio dramático de sua vocação primeira, sob o domínio dos poderes econômicos mais mesquinhos, vorazes e antidemocráticos, a cidade de Piracicaba está longe de se constituir como uma cidade para todos e todas, atenta aos direitos sociais e ambientais. Em uma triste realidade, a vasta maioria de sua população ainda se encontra alijada do direito à cidade e ao meio ambiente. São ilustrativos, por exemplo, tanto o caso do próprio Rio de Piracicaba, que enfrenta constantes ataques – mediante criminosos despejos de resíduos industriais que poluem suas águas e matam os seus peixes – quanto o projeto de construir torres residenciais no local da antiga fábrica da Boyes, em um movimento de total desprezo para com o patrimônio histórico, cultural e também ambiental da cidade.

A palavra cidadania alcançou um sentido muito forte no contemporâneo, profundamente vinculado à noção de proteção e garantia de direitos, visando com que a existência de todos e todas possa ser plena de possibilidades. Desde a Grécia clássica, com o exemplo maior do filósofo Sócrates, a concepção de cidadania esteve relacionada com a perspectiva de plenitude ética, ensinando-nos que este exercício é o alicerce para o desenvolvimento da própria vida, que é a política. Para o filósofo do Oráculo de Delfos, a realização humana estaria intrinsecamente ligada à experiência da cidade, local de toda sociabilidade ética e também política.

Para além de reflexões mais objetivas e conceituais, a cidade de Piracicaba, em um discernimento mais subjetivo, acabou por se constituir como o lugar de minha militância e atuação política. Sou grato também por isso! Em Piracicaba pude criar e educar minhas três filhas e aprendi muito nos percursos de uma cidadania ativa: a pluralidade cultural, a diversidade étnica, a dinâmica de uma cidade profunda, marcada pelas desigualdades, pelo fluxo migratório e pelo crescimento das periferias. Aprender, conhecer, refletir e propor: tarefas essenciais para transformar o território, tendo a justiça social e ambiental como referências inegociáveis.

Fundamental tomar esta comemoração da cidade, no marco de seus 257 anos, como o tempo de reconhecer este território incrível. Concomitantemente, como o tempo de se indignar com as misérias e iniquidades. Caminhar pela cidade, conhecer o seu espírito, a sua beleza, o seu encantamento é também reconhecer nos outros, cujo direito de cidadania é vilipendiado, os sujeitos da história de Piracicaba, ao lado dos quais faremos a luta, construiremos pontes que nos lancem a um futuro politicamente reinventado, pleno de possibilidades, de democracia, de muito pão, muito conhecimento, muita cultura, muita educação, muita empatia, muito afeto, muita compaixão!

 


Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba.

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