“Piracicaba que adoro tanto, cheia de flores, cheia de encantos…” Será? Será que a cidade de Piracicaba ainda é cheia de flores e encantos ou há muito ela já deixou para trás o ar campesino que lhe garantia epítetos lírico-bucólicos? A agitação das ruas, o vai-e-vem do trânsito cada vez mais perigoso e fatal, as fábricas e suas chaminés, o crescimento urbano em larga escala, a violência, o tráfico de drogas e o descaso para com o rio e a natureza antes exuberante já não permitem mais que o piracicabano exalte a plenos pulmões as belezas pastoris do “lugar onde o peixe para” (ou parava).
A ideia torta baseada na busca pelo tal “crescimento pujante” vem construindo uma Piracicaba cada vez maior e mais desordenada, mais mal educada e perigosa. Os números que apontam para a qualidade de vida do piracicabano estão aí para provarem isso: altíssimos índices de violência, problemas insolúveis na saúde pública, tráfico de drogas em crescimento avassalador são dados que não nos permitem ver a cidade sobre outra ótica.
O “filho ausente” já não reconheceria a terra e a gente pelos quais ele tanto “suspirara”. O ar pacato e interiorano do piracicabano vem tornando-se estranhamento, desconfiança e medo. Medo de sair às ruas, desconfiança em relação às pessoas nos bancos, nas praças… E estranhamento diante de uma cidade que sobe cada mais vez mais horizontalmente – fazendo com que um sem-fim de prédios e apartamentos apertados sufoquem as casas nas ruas.
Sinais dos tempos, progresso, desenvolvimento – justificam muitos pelas tribunas e palanques. Problemas da “vida moderna”. Mas ao confundir crescimento com desenvolvimento, o piracicabano – e o paulista, de maneira geral – tem pressa de ver as luzes da urbe iluminarem suas contas bancárias. Esquecendo-se que uma sociedade só é justa quando ela é justa para todos os seres que a compõem – sua gente, sua natureza e seus animais -, o piracicabano parece apoiar, ainda e cada vez mais, a tradição que vê nas grandes construções arquitetônicas o sinal (falso) de melhoria nas condições sociais.
Fato é, porém, que apesar de tudo ainda continuamos todos a amar esta cidade – mesmo que saudosamente não mais vejamos nela, com tanta frequência, os traços de nosso passado caipiracicabano. Ao completar seus 247 anos – próxima também de atingir a marca dos 400 mil habitantes – talvez seja hoje a cidade quem, triste, canta o verso famoso de seu hino: “ninguém compreende a grande dor que sente…”
Reconhecendo, todavia, o potencial e a “pujança” tão obcecadamente procurada, este Diário contempla o progresso atingido pela cidade – desejando, porém, que agora ela passe a crescer somente nos aspectos sociais, educacionais e humanos.
Parabéns, Piracicaba! Que você possa reencontrar o caminho cheio de flores e de encantos de outrora – esse é hoje o nosso maior desejo!