Over The Rainbow

imagesE não obstante a continuidade dos fatos cotidianos e frenéticos, tenho de levar comigo uma mente insana, inquieta e veloz. Entre questionamentos e suposições, minhas linhas de pensamento são delineadas. Nem de maneira constante, nem tão esporádico ao ponto de me fazer esquecer seu último ataque de fúria. Tudo não faz sentido algum, quando as perspectivas são alteradas e englobadas dentro de contextos diversos a aleatórios.

Tento várias ferramentas de entendimento e quanto mais detalhadas, percebo o quão inútil a compreensão se torna perante o irredutível mistério que nos cerca. Se hei de achar respostas, talvez seja em um tempo distante, quanto houver a possibilidade de alcançar um novo patamar de evolução… Se bem que não sei ao certo se essa distinção é verídica ou é mais uma ilusão semeada em minha mente quando eu era frágil o bastante para acreditar nos mais ridículos fatos.

Não quero julgar e nem precipitar conclusões. Se bem que, esta última, acredito ser impossível. O simples reconhecimento da ignorância declarada já é uma conclusão bem densa e audaciosa. Não quero desafiar os clérigos respeitados ou mesmo afrontar por rebeldia as tiazinhas devotas. Não quero compartilhar ideias de ateus, tão arrogantes ao ponto de afirmarem a inexistência de qualquer forma.

20091018115058[1]Por que tem de haver uma verdade única? Por que apenas uma resposta, assim como formas de rituais? Não me atrevo a citar exemplos, porém não quero escolher entre diferentes vertentes e absorvê-las definitivamente. Quero retirar o essencial de tudo aquilo que, para mim, é coerente e construir alguma linha de pensamento organizado ou mesmo compartilhar o que me faz sentir mais próxima da verdade. Se bem que esta também é subjetiva.

Todos os pontos convergem para o mesmo resultado: o limbo. Onde ninguém sabe, ninguém vê, ninguém pressupõe ou aceita. Um mundo oculto ou inexistente. Uma esfera inacessível e procurada incessantemente até o momento da morte. Essa tendência de ter domínio daquilo que espera é frequente desde o início dos tempos. As mais diversas histórias foram contadas, religiões criadas, doutrinas estabelecidas.

E aqui estou eu. Perante um mundo completamente louco, movimentado, de contrastes e projeções. Não sei se minha forma de visualização coincide com todos ao meu redor. Não sei se o toque é real. Não sei entender o que ocorre nos meus sonhos.Carrego comigo um presente: a capacidade de desenvolver um pensamento que não está atrelado a um instinto animal.E é com ele que percebo a minha existência e a questiono. O que está do outro lado? E o lado, faz sentido, é real? Não quero me iludir a seguir algo apenas para confortar a minha inquietude. Não quero me apoiar sob paradigmas ultrapassados. Não quero desperdiçar minha razão livre. Não quero mergulhar em uma visão quadrática, restrita e comum.

A FIM-DO-MUNDOPor mais que o fim se aproxime, e eu nada tenha descoberto, o mistério é sempre melhor que a acomodação. Se busco pelo caminho mais difícil? Pode ser… Mas se a cada dia eu puder me surpreender, então tudo valerá a pena. Não posso ver, mas posso sentir energias diferentes, posso enxergar mais em um olhar materno… E posso garantir que o amor que vibra dentro de mim não tem lógica, não tem religião… O cheiro da chuva, as lembranças arquivadas pela mente… Pequenos sinais que fogem do cotidiano metódico e tedioso. Não quero determinar, afirmar, explicar, ou provar. Porque nem eu, e nem nenhum ser humano pode, de fato, realizar qualquer uma dessas ações.

Quero seguir uma trilha, consciente de sua magnitude e mistério… Consciente de seu absoluto sigilo… E nunca perder a minha capacidade de observar, sentir e questionar. Afinal, como escreveu  Jostein Gaarder: “nós enxergamos tudo num espelho, obscuramente. Às vezes conseguimos espiar através do espelho e ter uma visão de como são as coisas do outro lado. Se conseguíssemos polir mais esse espelho, veríamos muito mais coisas. Porém não enxergaríamos mais a nós mesmos.”

 

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Gabriela1

Gabriela Andrade Ferraz estuda Jornalismo – na Unimep. 

 

7 thoughts on “Over The Rainbow

  1. Parabéns pela crônica. Quando as palavras partem da alma, não há limites para o seu alcance nas mentes dos leitores. “O mistério é sempre melhor que a acomodação.”

  2. ndrade Ferraz, minha afilhada querida. Estou muito orgulhosoa do teu progresso academico. Tens uma agilidade intelectual, que te coloca em constante estado de alerta para matérias e/ou conteúdos que contenham apelos sociais e políticos, o que fazem o teu diferencial como jornalista. E o que é mais incrível – estudante de Jornalismo!!! Parabéns, que Deus multiplique os teus talentos,um grande beijo!!!!

  3. A leitura deste texto nos leva necessariamente a reflexão. Impossível seguir para o próximo parágrafo sem antes fazer uma pausa para pensar em cada frase escrita, cujas palavras foram sabiamente combinadas, dando consistência e harmonia ao texto, nos convidando a continuar a leitura. Parabéns à autora!

    Parabéns também ao site tão bem estruturado com um conteúdo interessante e rico e principalmente pela oportunidade dada aos jovens que tem algo a dizer.

  4. Cara Gabriela,

    Parabéns pelo texto,ele impressiona não só por ser um ótimo texto,mas por mostrar de forma muito sincera e íntima,o que realmente você pensa em relação as dúvidas que fazem parte das reflexões da maioria dos seres humanos.

    Seu texto lembrou-me a música;”Quase sem Querer” do Legião Urbana,mais especificamente,do trecho:
    “Já não me preocupo se eu não sei por que.
    As vezes o que eu vejo quase ninguém vê.
    Eu sei que você sabe quase sem querer,
    que eu vejo o mesmo que você”

    Abraços!

  5. Querida Gabriela,

    Seu texto é mesmo excelente, aborda, em uma perspectiva filosófica, temas densos, profundos, existenciais. É possível perceber diversas influências filosóficas ao longo de suas reflexões. O mais importante, você assume uma perspectiva aberta, crítica e problematizadora, levando-nos a pensar.

    Esteja bem!

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