O PSDB e as eleições em São Paulo: mais batatas aos paulistas.

As eleições de domingo, 5 de outubro, confirmaram o estado de São Paulo como o ninho dos tucanos do Brasil. A vitória esmagadora de Geraldo Alckmin – que prossegue no governo paulista pelo segundo mandato consecutivo (e praticamente pela quarta vez, a contar as vezes que assumiu o governo em substituição a outros governadores psdbistas) – a vitória de José Serra para o senado e a votação expressiva de Aécio Neves consagram o eleitor paulista como tucano convicto e irremediável.

Que pese aos tucanos, parece que não bastaram os problemas de segurança que assolam São Paulo há décadas – e que se avolumam numa onda cada vez maior. Igualmente, não bastou contra o atual governador a crise da falta de água – piorada pela falta de estratégias e incompetência de Alckmin no setor. Do mesmo modo, não teve efeito na votação do PSDB a crise na educação paulista – que vem culminando na eminente falência de universidades estaduais  (USP, UNESP e UNICAMP). Não bastaram na hora do voto a lembrança do movimento do povo nas ruas, que exigia – entre outras pautas – a saída do governador. Não foram suficientes para a não eleição expressiva dos psdbistas os casos de corrupção do Metrô e das licitações irregulares, trensalhões e propinodutos – obviamente pouco propalados pela mídia.

Uma parede de “tefal” parece blindar os candidatos do PSDB dos ovos pobres que lhes cobrem a face no estado de São Paulo. No entanto, e inversamente proporcional ao paulistas, os mineiros optaram pela troca do partido que vinha governando o estado, o PSDB. Curiosamente, o estado que deveria ser o ninho do candidato tucano à presidência da república optou pelo câmbio de seu principal líder. A terra de Tancredo Neves (avô de Aécio) e Itamar Franco  fez a opção pelo PT – fato que não deixa de surpreender, uma vez que uma das principais bandeiras da campanha do candidato psdbista à presidência da república é a sua gestão no governo mineiro. Paradoxo? Sim. Paradoxos não faltam na votação ocorrida domingo, especialmente nos antigos estados do “café com leite.”

Maior colégio eleitoral do país, São Paulo fez valer – mais uma vez –  a força de sua ideologia natural (burguesa, rural, católica e branca). A força da tradição paulista – que fecha os olhos para os seus próprios defeitos enquanto aponto os erros do outro de forma dura e implacável – novamente foi a tônica que norteou a votação neste primeiro turno. Amparada pela mídia – que abertamente apoia o partido tucano e explicitamente lhe pede votos -, pautada no comodismo e no medo do novo, a chapa psdbista emplacou mais quatro anos de domínio no estado de São Paulo – somando-se aí mais de duas décadas no poder.

A pátria paulista mostrou sua face – e repousa agora, congratuladando-se a si mesma, em berço de ouro. Herança que vem de longe – de plagas separatistas e de ideias de segregação que, à maneira de Paulo Prado e Caio Prado Júnior, viam no paulista um brasileiro à parte, diferenciado dos demais -, o paulista voltou às suas origens e elegeu os que lhe são espelho.

Resta saber agora se – sendo eleito Aécio Neves, com a força do estado de São Paulo lhe fomentando a  “onda da razão” – em quem os paulistas vão colocar a culpa pelos problemas que corroem o seu estado. Certamente – e não é difícil imaginar – ela será atribuída a outro (característica, como já apontada, bastante comum ao paulista). Ou melhor. A culpa pelo caos em São Paulo deverá ser atribuída a outra  – a quem os paulistas, num apuro gramatical inventado (tipicamente paulista também), intolerantemente não chamam de “presidenta.” É esperar para ver.