Minha família é protestante há quase 100 anos. Meu avô aderiu à igreja evangélica nos idos de 40, no norte pioneiro do Paraná. Depois disso estivemos envolvidos em vários setores dela, culminando em minha decisão de tornar-me teólogo e pastor. Passei a infância frequentando Escolas Dominicais, ouvindo hinos tradicionais. Na adolescência participei de grupos musicais e do quarteto onde conheci minha esposa. Fui missionário no Centro Oeste brasileiro, Pastor em Igrejas do Estado de São Paulo e Pastor numa Universidade Confessional por quase 9 anos. Como muitos, orgulhei-me de protestantes como Martin Luter king, Nelson Mandela, Rubem Alves. Senti a alegria de ser contado como quem pertencia a uma gente culta e lúcida. Mas o tempo passou até que chegasse o Neopentecostalismo através da pregação de um evangelho que enaltecia a prosperidade financeira como sinal visível da bênção de Deus.
A partir disso, conheci um lado rude e distorcido da crença que tanto admirei. O fundamentalismo, o exclusivismo, que somados à motivação de ganhar dinheiro geraram um povo arrogante e mau. Mas enquanto os exageros apenas rodeavam os muros do protestantismo tradicional era fácil prosseguir, até que eles se casaram com a política, numa união instável e imprópria de seu deus com o poder partidário na imagem de um messias tosco, rude e violento.
Hoje, infelizmente, é o protestantismo histórico brasileiro que se aliou ao secularismo político frequentando palácios, negociando cargos, trocando direitos civis por barras de ouro, atuando como vassalo servil da falsa moral que se arvorou sobre as cores do nosso país. Os novos concílios eclesiásticos são na verdade encontros políticos que por um lado defendem os interesses de uns poucos líderes, por outro criam armadilhas capazes de expulsar de seu meio os que ainda “têm fome e sede de justiça”.
As pregações estão recheadas de moral preconceituosa e insana. Os pastores andam armados defendendo a morte e a banição dos contrários. Prega-se o extermínio aos diferentes e o perigo iminente do comunismo que na mentalidade da nova “mensagem evangélica” ameaça igualar os crentes ricos com os pobres, crentes ou não. Os “crentes de bem” são uma mistura de preconceito e maldade, “sepulcros caiados”, lindos por fora, podres por dentro, a nova versão do jovem rico que ouviu de Cristo: “vai, vende tudo que tem e dá aos pobres” e, por isso saiu de perto, abandonou, preferindo a lonjura desse evangelho.
Chegamos ao Apocalipse. As bestas vivem soltas por onde quer que andemos. Estão nas redes sociais, nos aplicativos de mensagens, no trabalho, nos púlpitos, mas principalmente nos noticiários. O Cristo chora sangue no Monte das Oliveiras junto de uns poucos que em pânico nem conseguem orar enquanto a “igreja” está nos palácio vendendo o cristianismo por trinta moedas de prata. “O povo está morrendo porque lhe falta o conhecimento”, o sentimento humano está em estado terminal e a instituição religiosa é agora mera organização a serviço de defender seus próprios interesses. Estão os protestantes brasileiros contemporâneos em discordância com a Igreja que servem?
Não. Permanecem fiéis ao que seus pastores lhes dizem. São dissonantes, na verdade, do evangelho e do Cristo que aparentemente nada mais tem com a Igreja, deixado de lado por uma gente rompida com o favor divino e seus sinais – misericórdia, partilha, bondade, sabedoria. Um povo que desprendeu amar, vivendo oposto à imagem do Cristo, de costas à vontade de Deus, enamorado pela face do anticristo.
Prof. Dr. Rev. Nilson da Silva Júnior.
FOTO DE CAPA: Clauber Cleber Caetano/PR – https://fotospublicas.com/
Muito boa essa análise do autor. Parabéns