O dia das mães, em 1984, aconteceu três semanas após a rejeição da emenda pelas volta das eleições Diretas. José Lima Junior escreveu o poema unindo a força dos dois acontecimentos, tão próximos e emocionalmente tão fortes.
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O presente da mãe que não ganhou presentes
José Lima Júnior
Talvez até sem saber
está pra se completar o primeiro mês.
O sinal vermelho não veio
e assinala o convite pra se só-correr
com a cor da esperança.
Esperar, ainda que incerto o salário.
Esperar, ainda que interna a solidão.
Esperar, ainda que imenso o desespero.
E vêm e vão semanas
… quase tudo em vão.
A barriga crescendo à medida da fome.
A roupa rasgando a vergonha de um corpo oprimido
com cicatrizes cruas e nuas.
Enquanto isso…
E, à razão disso…
nos palácios acarpetados se decide
pela continuação-já
das estrebarias pra tantas Marias
nesses nossos dias tontos.
Eles – os poderosos/medrosos – provam
que não querem “amar-elas”.
Por fim,
quem sabe antes da hora nona,
um aperto de parto:
dores pra dois;
ter que gemer gêmeos.
Os gritos desembocam inicialmente
numa carne calada, inerte e fria
– nasceu o morto.
E aquele silêncio assusta e angustia
mais que mil trovões em trevas mil.
Depois, apesar do pesar,
irrompe as pregas e lambuza poros e pelos
o que o sufoco não pôde conter por todo o tempo:
sambando no umbigo do cordão da liberdade,
a vida de novo!
Nasce o que renasce a esperança!
Lindo como o brilho das estrelas
a azular a noite do desamor;
soltando a voz como a exigir sua vez;
trocando, com quem ama, o que mais precisa:
num beijo, leite e deleite!
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Nota dos editores : O texto “O presente da mãe que não ganhou presentes” foi escrito em maio de 1984. Nessa ocasião, o autor diz ter feito questão de lamentar, em termos indignados, a derrota na votação (faltaram 22 votos) pelo retorno das eleições diretas para a presidência da República após vinte anos de Regime Militar. Originalmente publicado no livro “Beijos de Deus nos lábios do mundo”, Editora UNIMEP/Texto & Textura, 2017.
José Lima Junior, bacharel em Teologia, Pedagogia e Filosofia, é mestre em Educação e doutor em Comunicação e Semiótica, com vários livros publicados. Professor da UNIMEP por mais de 40 anos, gosta de se definir como escritor criativo.
(Foto: Senado Notícias)
Querida Bia.
Agradeço a gentileza de publicar esse texto.
Grande abraço pra você e todas pessoas que venham a comungar conosco nessa lembrança/esperança emoldurada ao longo de 40 anos.
Beijão
Querida Bia.
Agradeço a gentileza de publicar esse texto.
Grande abraço pra você e todas pessoas que venham a comungar conosco nessa lembrança/esperança emoldurada ao longo de 40 anos.
Querido Zé Lima!
A alegria é nossa.
Um super abraço!