Preferências políticas e ideológicas à parte, um olhar histórico sobre o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva obrigatoriamente tem de reconhecer nele o maior líder político brasileiro pós-ditadura militar – senão o mais importante dentre os mais importantes do entre séculos XX-XXI no Brasil, sendo também um dos mais celebrados no mundo.
Recuperando-se a ideia original de política, o da “polis” grega, aquela que leva em conta a praça e o povo, Lula ganha de lavada de qualquer político brasileiro que conhecemos. Quem, senão Lula, é capaz de reunir em torno de si, hoje, numa praça, centenas de milhares e milhares de cidadãos dispostos a ouvir suas propostas e apoiá-lo em suas ações e afirmativas?
Nesse sentido, Lula é um FENÔMENO. Ferozmente combatido pela grande mídia desde sua entrada na vida pública, Lula resiste há décadas a ataques atrozes daqueles que, mancomunados com os detentores do poder econômico do país, recusam-se terminantemente a aceitar a força de um representante aclamado pelo povo. Figura pública das mais atacadas em capas de revistas e jornais impressos, acusado exaustiva e deliberadamente em matérias mil exibidas nos telejornais dos impérios da comunicação, destruído por canais por assinatura e por rádios comerciais, Lula resiste e – dia a dia – amplia sua popularidade, desafiando a lógica e o poder de seus adversários.
Como explicar esse fenômeno? Por que nenhum outro político nacional consegue ter semelhante poder de penetração e aceitação popular?
Lula é um fenômeno também porque, como nenhum outro político brasileiro, angariou o respeito de importantes comunidades internacionais e o apoio de líderes como Barack Obama (EUA), Felipe Gonzalez (Espanha), Fernando Lugo (Paraguai), José Mujica (Uruguai) e Juan Manuel Insulza (OEA). Na mesma batida, Lula é um FENÔMENO reconhecido até mesmo por parte importante da imprensa internacional que – diferentemente da brasileira – vem, de maneira neutra, acusando em seus respectivos jornais (como, por exemplo, o americano The New York Times e o espanhol El Pais) as irregularidades jurídicas e a possível perseguição do judiciário contra o ex-presidente.
Lula é um FENÔMENO porque, mesmo enfrentando um processo judicial duvidoso e contestado por infindáveis juristas dos mais importantes do país, mantém-se em primeiro na intenção de voto para a eleição a presidente do Brasil. Lula é um FENÔMENO também porque, mesmo ante mais um recurso judicial negado, mesmo ante a ampliação de sua pena, mesmo assistindo aos meios de comunicação divulgando oficialmente o resultado final de seu julgamento antes mesmo do julgamento em questão começar, Lula resiste e encerra seu dia falando a milhares de militantes e seguidores em praça pública.
Lula é um FENÔMENO ainda porque, mesmo após ter governado o Brasil por oito anos e ter sido – bem ou mal – responsável pela eleição e posterior reeleição da ex-presidente Dilma (fato, aliás, também único na história do país), ele encontra aceitação popular maciça e única a lhe impulsionar a concorrer a mais uma eleição presidencial. Lula é um FENÔMENO porque, apesar de alguns descaminhos ocorridos durante seu governo e em especial no de Dilma (e muitos deles realmente não podem ser negados), seus sucessivos governos marcaram positivamente, e como nenhum outro, a história do Brasil – exemplificando ao mundo a preocupação com políticas públicas voltadas a causas sociais das mais variadas.
Por fim, Lula é um FENÔMENO porque, mesmo no dia de seu julgamento (ou no de seus julgamentos), ele entra e sai do(s) tribunal(ais) acolhido e carregado pelo povo – e se apresenta (e é reconhecido) – independentemente das sentenças judiciais a ele aplicadas – como candidato do povo.
Lula caminha historicamente para a mitificação. Afinal, sua condenação e/ou possível prisão fariam dele um herói definitivo. Sua absolvição, por outro lado, lhe abriria os caminhos para mais uma eleição histórica. Que outro político é ou foi capaz de mover-se nas esteiras de seu tempo como Lula? Que outro político, até este momento de nossa história, participa de tal forma da crônica política do Brasil?
Certamente, nenhum.