Quando eu era menino, facilmente me influenciava. De hora para outra me tornava cowboy, astronauta – às vezes era um índio, às vezes um mocinho que salvava as pessoas de grandes ameaças. Na adolescência, vivi também de espelhos, confundindo minha personalidade com a das pessoas que conhecia, alternando-me de fase em fase até que na maturidade compreendi melhor minhas aptidões até conseguir seguir meus próprios caminhos. O que sei, de fato, é que minha personalidade foi formada à sombra do que li, assisti, vi e ouvi. Sou o fruto de múltiplas experiências e convivências, como qualquer outra pessoa. Na verdade, todos somos resultados de lugares e pessoas, eventos e situações que nos moldam, dia a dia. Aprendi depois que também influencio, com palavras e, especialmente, atitudes. Somos todos professores e alunos uns dos outros e não há como nos livrarmos dessa dinâmica que nos faz ensinar e aprender o tempo todo.
Ultimamente, porém, tenho me impressionado com o que vejo – porque desde muito novo ouvi de meus pais que certos exemplos não são para ser seguidos. Há posturas boas – em contrapartida, há algumas deploráveis, que devem ser esquecidas. Mas não são todos que pensam assim, até porque alguns exemplos parecem despertar nas pessoas coisas que fazem parte delas, que estão adormecidas pela vida, pela ética ou mesmo pela orientação familiar e religiosa. Tenho me assustado vendo e ouvindo pessoas que de alguma forma fizeram parte de minha vida tendo atitudes e reações que nunca esperava delas. Alguns se mostram violentos, outros devassos, xingam, falam palavrões e, o pior, defendem estilos antes impensáveis para elas. Vejo amigos, ou antigos amigos, não sei ao certo, louvando pena de morte, tortura, discriminação, preconceito, desrespeito, abuso, agressão física, como comportamentos normais. Mais ainda impressiona quando são pessoas que professam minha fé. O que me desgosta é não conseguir elaborar se as conhecia de fato, se foram transformadas ao longo do tempo e, mais ainda, como não pude perceber essas características de suas personalidades. Afinal, de que lhes valeu a fé? De que lhes valeu o exemplo de Cristo se tão facilmente se esqueceram dEle e do que ensinou?
Vivo um momento de dor, de susto, espanto e decepção! Muita decepção! Estou decepcionado com a sociedade que se deixa levar pelo descaso com a vida e com pessoas que achava que conhecia. Chego a desacreditar do futuro, da justiça, da paz, da solidariedade. Estou profundamente entristecido em ver que algumas referências naturais, que deveriam influenciar para o bem, dar o exemplo para a paz e para a harmonia, alguns Padres, alguns Pastores, Políticos, Governantes, religiões, poderes instituídos, menosprezando o bom senso, a inteligência, a bondade e a vida para defender pensamentos, exemplos e posturas indefensáveis. Temo que nos tornemos milícia coletiva, exército do mal, um grupo de extermínio comunitário, uma terra de impiedades, um país dependente da arma, da bala, da tortura e do desagravo para resolver seus problemas se não nos propusermos seriamente a elegermos pessoas mais dignas, mais íntegras de caráter, de melhor formação moral, que se voltem ao bem mais que ao mal, ao consenso mais que às diferenças. Chega dessa influência podre que só faz despertar o que há de pior nas pessoas, temos que melhorar a sociedade por inteiro, a começar de quem tem a evidência e o dever de dar bons exemplos, afinal, como diz o ditado, “o exemplo vem de cima”.
Rev. Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.
(Foto de capa: reprodução de tela de Candido Portinari)