Efeito borboleta é o termo para designar uma ação em rede, desencadeada por um determinado evento simples e aparentemente aleatório. A teoria do efeito borboleta defende que há uma conexão complexa entre acontecimentos supostamente desconexos. Segundo essa teoria não há eventos isolados, toda atividade realizada coloca em movimento reações e consequências inesperadas e não controláveis. O rotineiro bater de asas de uma borboleta pode gerar efeitos gigantescos do outro lado do mundo.
Às vezes, no cotidiano das ações e dos acontecimentos, pode-se perder a perspectiva dessa conexão profunda entre todas as coisas. Decisões tomadas em um determinado âmbito da vida podem produzir sérias sequelas em outras áreas, gerando situações não esperadas. Na dinâmica do efeito borboleta, as consequências de uma ação aparentemente isolada podem ser devastadoras.
É preciso sempre analisar quais os impactos e os possíveis efeitos a se desdobrarem de uma atitude tomada. A prudência e a sabedoria se revelam fundamentais. A capacidade de ponderar e discernir antes de qualquer ação, assumindo uma postura crítica e reflexiva, pode evitar que se acabe ficando refém de efeitos colaterais não previstos e também não desejados.
No plano político o efeito borboleta é quase uma realidade incontestável. Mas o senso comum, na superficialidade e generalidade de suas conclusões, não consegue identificar isso. Além de não relacionar causa e efeito, o senso comum também não é capaz de equacionar o alcance de uma determinada decisão política, entendendo suas escolhas de maneira pontual, fragmentada e inconsequente.
É um grave equívoco quando se desconsidera as interações existentes entre as múltiplas áreas do tecido social. Definições no campo da economia, por exemplo, impactam e repercutem profundamente em todas as outras dimensões da vida. O corte de investimentos na área social implica o aumento dos índices de violência, o aprofundamento das desigualdades sociais, o agravamento da pobreza e da vulnerabilidade etc. É o perverso efeito borboleta da política econômica neoliberal. Mas o senso comum não percebe tais conexões.
Agora é preciso indagar: quais as consequências futuras, na lógica do efeito borboleta, de se fomentar uma mentalidade cultural de tipo neofascista? Qual a sociabilidade que será produzida a partir do desdobramento do culto às armas, da exacerbação do individualismo, da legitimação de atitudes de intolerância e preconceito, do elogia à ignorância, da desvalorização da ciência, da exaltação de um desenvolvimento predatório em relação ao meio ambiente, do desprezo à democracia, da desconstrução dos princípios de paz, solidariedade e direito? Que mundo brotará de tudo isso?
Os princípios e valores que regem uma determinada cultura configuram-se sempre como inspirações para se projetar as relações humanas e as próprias estruturas sociais. Mesmo que essa sociedade se encontre mergulhada em conflitos, há um projeto utópico que se desvela como referência, como grande meta a ser alcançada. Devemos ter a crença de que a sociabilidade humana possui como horizonte relações sustentáveis, onde todos cabem e encontram uma morada mais justa. Ações mais coerentes, solidárias e tolerantes só podem trazer como consequência, no movimento do efeito borboleta, a felicidade e a perspectiva de uma sociedade que coopera e acolhe as diferenças, particularidades e pluralidades. Este entendimento é que nos faz prosseguir com esperança e coragem.
Adelino Francisco de Oliveira é doutor em filosofia, professor no Instituto Federal campus Piracicaba e pré-candidato à prefeitura de Piracicaba pelo Partido dos Trabalhadores.