Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.
Rubem Alves.
Leva tempo. Uma vida inteira, talvez. E, mesmo assim, é possível que não nos graduemos nesse curso. Nem sequer nos matriculemos, como disse Rubem Alves. Minha avó sempre dizia que se Deus nos deu dois ouvidos e uma boca é porque devemos mais ouvir do que falar. Porém, vivemos em um mundo de faladores.
Quando uma conversa é iniciada, torna-se difícil censurar a vontade de falar, de palpitar, de aconselhar, de julgar. As pessoas falam sem parar, são compulsivas. O outro está falando e a cabeça de quem está ouvindo organiza a resposta antes mesmo da fala ser concluída.
Também é comum emendar assuntos uns nos outros; não esperar o outro terminar, falar paralelamente; outros adiantam a fala, pensando que já tinham comentado sobre o assunto ou então, repetem mil vezes a mesma coisa, usando 100 palavras quando poderiam contar algo em apenas 50.
Ouvir é fácil. Difícil é escutar! Ouvir depende unicamente do sentido da audição. Escutar é mais amplo; implica em prestar atenção. Quem escuta, ouve; mas quem ouve não necessariamente escuta. Escutar exige o silêncio interno e, no ritmo da modernidade, isso não é uma tarefa fácil.
Em algumas situações, somos obrigados a ouvir, pois trata-se de um amigo, de uma pessoa querida ou de um cliente, mas isso não significa que precisamos conversar com todos, principalmente com aqueles que só tomam nosso tempo e não acrescentam nada. Quando o outro estiver falando é necessário conter a ansiedade. E quando falamos também!
Se for nossa hora de falar, pausas são necessárias. Para que o diálogo flua mais agradavelmente, também é importante ser breve e direto. E lembre-se: ninguém gosta de conversar com pessoas que só falam sobre o que gostam e pensam que sabem tudo sobre tudo. Como afirmou Ivan Maia, especialista em relacionamento humano e reconstrução emocional, “é muito melhor ser um pseudo-tolo com portas abertas e acesso pleno, do que um pseudo-sábio com portas fechadas e inimigos pela frente.”
Comece a ouvir mais do que falar e logo estará escutando!
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Fernanda Rosolem é jornalista, pedagoga e música.
Prezada Fernanda,
Você nos faz um sábio e belo convite… Aprender a ouvir compõe-se como exigência fundamental para os que vislumbram sair da boçalidade e contemplar o mundo de maneira mais profunda…
Esteja bem!
Obrigada, professor! Que esse convite nos ajude a despertar e a viver melhor! Abraço
Nem falei nada…só fiquei aqui na escuta de tudo, querida rsrs. Boas palavras. É isso mesmo! Beijos.