Antes de existirem os jornais, no seio da democracia ateniense, surgiu a esfera pública – local destinado a discussões políticas, sociais, da formação de opiniões e da legitimação do poder, dos quais participavam os cidadãos. Após a aparição dos jornais, ela migrou para esse meio, ficando a imprensa responsável por ser a mediadora do debate, sendo seu papel fomentar discussões que sejam de interesse público, de maneira imparcial.
Recentemente, com as manifestações que dividiram o país em “grupo pró-impeachment” e “corja petista” – mesmo que boa parte deste segundo grupo não seja de coligados ou apoiadores do partido -, foi possível observar, através do conteúdo divulgado pelas grandes empresas de comunicação, que a imprensa esqueceu o seu papel.
Que o Brasil está afundado até o pescoço em corrupção, todos sabemos, e aqui posso afirmar que a grande mídia tem a sua parcela de culpa, por omitir ou dar pouca atenção a alguns atos de ilegalidade e também, por não investigar todos os lados com a mesma assiduidade. Podemos citar como exemplo dessa imparcialidade e descompromisso o fato de vários políticos da oposição terem seus nomes mencionados, em algum dos casos mais de uma vez, em delações premiadas do esquema de corrupção da Lava Jato.
Durante os protestos que clamavam pela queda da Presidente, as grandes empresas jornalísticas, como a Rede Globo, fizeram cobertura televisiva durante horas, mostrando a situação em várias capitais do país, os grandes jornais impressos estamparam suas capas e trouxeram matérias que percorriam páginas e mais páginas como se tudo fosse um grande e espalhafatoso carnaval, e a internet foi bombardeada com incansáveis reportagens, atualizadas de minuto a minuto.
No entanto, nos dias que se seguiram, houve manifestação a favor da democracia e contra o golpe na presidente Dilma, e foi perceptível a disparidade na cobertura midiática, além da tentativa de abafar a importância do movimento, utilizando determinados ângulos para registros fotográficos que demonstravam uma manifestação com menos adesão do que realmente estava acontecendo ou então desviando o foco do intuito da manifestação, que era contra o golpe e a favor da democracia, como sendo uma manifestação apenas pró-PT.
Além disso, faz-se importante ressaltar o destaque dado a qualquer notícia relacionada ao governo federal, ao Partido dos Trabalhadores, à atual presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula – e o esquecimento de escândalos envolvendo o governo estadual ou membros de outros partidos, num esforço ferrenho de fomentar o crescente caos odioso da massa.
Por isso, cumpre-se afirmar: a imprensa esqueceu o seu papel! Se aproveitar da audiência ou credibilidade do grande nome da empresa para promover a desinformação e a manipulação é um atentado aos princípios éticos básicos do jornalismo, à objetividade e à imparcialidade. É necessário que os jornalistas lutem para recolocá-la no eixo, para que assim não se promova a alienação e a desinformação da população.
A imprensa precisa voltar a ser o espaço e a mediadora do debate público e a ela não cabe escolher um lado que não seja o interesse público.
Vanessa Zumstein é aluna do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba – Unimep.