A disputa eleitoral é sempre exigente, em qualquer instância, mesmo em uma instituição forjada sob o signo da democracia. O Instituto Federal traz o selo de uma instituição democrática, que já nasce com a perspectiva da paridade eleitoral, colocando em um nível de igualdade os votos dos discentes, dos técnicos educacionais e dos docentes. De maneira teórica, toda comunidade educacional teria o protagonismo, resguardando as dimensões da isonomia e equidade, na dinâmica da eleição e escolha dos gestores da instituição, passando pelas direções dos campi até a definição do reitor ou reitora.
No entanto, de maneira prática, as disputas eleitorais no Instituto Federal de São Paulo, seguindo a lógica das eleições gerais no Brasil, apresentam sérios desvios e desafios para se compor como um pleito que realmente espelhe uma perspectiva democrática. Paridade por si só não resolve, quando não há isonomia, equidade e um ambiente educacional que promova, dinamize e realize o debate amplo, aberto, isento e profundo sobre o próprio processo eleitoral. Em um contexto democrático, a eleição deve ser pautada pelo critério da isonomia. As candidaturas precisam concorrer em condições justas e equânimes, sem nenhum tipo de privilégio que venha a desequilibrar a apresentação das postulações aos cargos de gestão na Instituição. O estatuto da reeleição acaba por não contribuir para o aprimoramento democrático do processo eleitoral.
A autonomia universitária também se revela como uma questão que tem urgência de ser enfrentada e resguardada no contexto das eleições gerais do Instituto, especialmente no tocante à disputa para o cargo de reitor. O princípio da autonomia precisa ser sempre preservado, para que interesses estranhos ao campo educacional não se imponham, no sentido de interferir em uma escolha que deve ser livre, isenta de pressões de poderes externos, tendo como referência apenas a decisão autônoma pelo melhor projeto para a Instituição.
Esse é um outro aspecto importante a ser considerado na dinâmica do processo eleitoral: como avaliar qual o melhor projeto de gestão para o Instituto Federal de São Paulo? Primeiro é fundamental que toda a comunidade educativa, particularmente estudantes e servidores, estejam inseridos em um ambiente de debate aberto, sincero e constante. O processo eleitoral precisa estar na ordem do dia da Instituição, tomando seus múltiplos espaços. Em um movimento de participação ativa, estudantes, técnicos educacionais e docentes devem estar envolvidos em uma dinâmica de analisar, avaliar e debater programas e também comparar as trajetórias de cada postulante aos cargos de gestão.
A tarefa dos eleitores, na dinâmica eleitoral interna do Instituto Federal, consiste em avaliar e debater programas, que devem ter como base concepções político-pedagógicas. Os cargos de gestão não podem serem disputados com as mesmas estratégias de uma eleição comum, na qual o candidato se restringe a distribuir santinhos com sua imagem e nome. No Instituto Federal, instituição pública de educação, o mote da eleição tem que ser o projeto político-pedagógico, que orientará todas as demais decisões de gestão, inclusive de investimentos. Uma instituição de ensino deve refletir para a sociedade, opinião pública e, principalmente, para seus educandos referências éticas inabaláveis, indicando que o processo educativo também passa pela escolha de gestores e administradores. As eleições também devem educar, orientar e inspirar estudantes e servidores públicos para o exercício da democracia.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal campus Piracicaba.