Era para termos fechado as estradas antes! Quando nossos amigos, pais, mães e avós agonizavam por causa da COVID nas UTIS de nosso país! Devíamos ter exigido vacinas, ter protestado, com camisas do civismo, do senso crítico, do esclarecimento! Ter ido às ruas quando, diante de todos, o chefe do executivo zombava dos desfalecidos, desesperados por ar nas camas da morte. Precisávamos ter protestado, estranhado, enfurecido, enquanto víamos a Amazônia ser desmatada por quem se aproveitava das porteiras abertas pelo próprio governo para “passar a boiada”. Não podíamos ter nos calado diante de pessoas se alimentando de restos de ossos putrefatos, de peles de frango à venda nos mercados como se fosse carne, de gente cozinhando em fogueiras no fundo do quintal porque não podia comprar um botijão de gás, dos milhares de pedintes em nossas ruas, dos milhões de famintos, dos milhões de esquecidos pelo governo, inexistentes ao “mercado”.
Devíamos ter estranhado as mensagens tendenciosas de pastores desonestos com Deus que, por prazer e interesse, distorceram a Santa Palavra para apoiar, incentivar, promover e tentar reeleger uma pessoa que se pautava por ideologia nazista e fascista. Não podíamos ter entrado em apriscos corrompidos pelos favores do reino desse mundo. Era pra termos dito Não! Pra qualquer rumor de golpe militar e da hipotética volta da censura, da falta de liberdade, dos sequestros, das torturas e dos assassinatos. Não era pra termos tolerado os discursos desrespeitosos com mulheres, negros e idosos e, principalmente, o descaso com as crianças, nas escusas negociatas que tiraram alimentos da merenda escolar. Não poderíamos ter dito amém para as atrocidades pregadas em nossas igrejas, dos sinais de armas nos púlpitos, do adultério com a Palavra de Deus, da instrumentalização do evangelho com a absurda comparação de Cristo com um tosco despreparado e alienado. Devíamos ter rechaçado alusões à morte dentro de nossos templos e a associação do exército de Deus com um exército de insanos. Não podíamos ter caído no “conto do vigário” tão facilmente.
Devíamos ter sentido compaixão dos pobres, misericórdia dos menos favorecidos, tristeza pelos desacatos, pelos xingamentos, pelos palavrões e ofensas que foram pronunciadas dentro de um palácio que é nosso, do povo brasileiro, que precisa ser respeitado, honrado e não de um rei imaginário do universo paralelo, tipo “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Seria necessário termos convocado um exército de gente descomprometida, idônea, culta e esclarecida para intervir em nosso governo, com a finalidade de suscitar paz e não mal, distribuindo esperança e não armas. Devíamos ter fechado as estradas antes! Devíamos ter nos envergonhado antes, devíamos ter protestado antes! Mas não fizemos nada! Deixamos que nossos representantes se servissem de benefícios secretos, de gastos proibidos ao conhecimento público em troca de olhos fechados, de negacionismo, passividade e indiferença com as atrocidades, as mentiras, a truculência e a desmoralização. Deixamos que roubassem as cores da nossa bandeira! Permitimos que o pobre se tornasse ainda mais pobre, que o rico se tornasse ainda mais rico, que os poderosos pensassem cada vez mais em si, que os religiosos nos conduzissem à cegueira, à ilusão e ao inferno social. Deixamos, permitimos, omitimos, calamos. Fomos permissivos. Dormíamos enquanto o Cristo era preterido a Barrabás, lavávamos as mãos diante de Jesus condenado injustamente, torturado, crucificado e morto.
É tempo de voltarmos para as estradas do bom senso, da paz, do verdadeiro cristianismo e da lucidez. É tempo de arrependimento e retomada, de despertamento e sabedoria, para que nunca mais sejamos tomados pela ilusão de um reino fantasioso e irreal, insano, desumano e pequeno, onde os súditos são cegos e o rei acéfalo.
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Prof. Dr. Rev. Nilson da Silva Júnior
Pastor e professor