Piracicaba, 29 de fevereiro de 2020.
À Comunidade Piracicabana e a todos os ouvintes do Educativa nas Letras.
Tendo em vista os inúmeros emails e mensagens de solidariedade, indignação e mesmo de revolta que recebemos desde que fizemos público o fato de que, após 15 anos de trabalho voluntário, fomos desligados do programa Educativa nas Letras; e tendo em mente também a resposta que a Rádio Educativa FM 105,9 de Piracicaba vem oferecendo – por email – a ouvintes que se dirigiram a ela cobrando explicações acerca da polêmica envolvendo nossa saída do programa, achamos que era necessário apresentar oficialmente a versão que temos dos fatos ocorridos (versão essa que, cabe informar, estrutura-se e pode ser comprovada a partir de conversas via Whatsapp travadas com o senhor Eduardo Castro, atual diretor da Rádio Educativa FM, as quais temos arquivadas). Nesse sentido, vale ressaltar que nosso desejo genuíno, aqui, não é mais efetivamente retomarmos as gravações do programa Educativa nas Letras – uma vez que nos sentimos desprestigiados e mesmo ofendidos pela atual gestão da Rádio Educativa e pela Prefeitura Municipal de Piracicaba – mas, sim, ideamos esclarecer o passo a passo que levou ao nosso desligamento do Educativa nas Letras e, consequentemente, da Rádio Educativa FM. Não somos os donos da verdade. A bem dizer, tentamos até evitar a polêmica. Mas, agora, mediante a resposta da Rádio aos ouvintes, entendemos como fundamental apresentarmos a nossa nota oficial sobre essa triste situação. Segue nossa nota:
- O nosso desligamento – dos produtores/apresentadores do Educativa nas Letras – ocorreu porque, mediante a necessidade de alteração no horário de gravação por parte de um desses apresentadores/produtores (a saber, o professor Alexandre Bragion) – que não dispõe mais de manhãs livres para a gravação do programa e que solicitou um novo horário no período da tarde –, a Rádio Educativa FM, na figura de seu diretor, declarou não ser possível gravar o referido programa em horário vespertino ao longo de (pasme-se!) toda a semana!
- Apesar de nossos esforços para um encontro pessoal, em nenhum momento fomos convidados/solicitados pelo senhor Eduardo Castro, diretor da Rádio Educativa FM, a comparecer à Rádio Educativa para um conversa pessoal sobre a dificuldade da Rádio de encontrar outro horário para a gravação de nosso programa – a fim de que, juntos, pudéssemos chegar a uma solução ou não. Cabendo mesmo destacar que em nenhum momento o senhor Eduardo Castro se dignou ao menos a nos telefonar para falarmos de viva voz sobre tal dificuldade em relação a um novo horário.
- Nesse sentido, nos causa tristeza revelar que toda a tratativa de nosso “desligamento” do Educativa nas Letras ocorreu (pasme-se novamente!) via mensagem de áudio por Whatsapp. Sim! Após 15 anos de trabalho voluntário de nossa parte, o atual diretor da Rádio Educativa FM nos desligou por Whatsapp! Sinal dos tempos? A administração pública do governo Barjas passou a atuar dessa forma? (Se tal tratamento ocorre com voluntários que dedicaram 15 anos de suas vidas à comunidade, imaginemos como deve ser o trato pessoal com o funcionário público. É isso mesmo senhor Prefeito?).
- Em nenhum momento a Rádio Educativa FM ou seu diretor tentou contato com uma das apresentadoras/produtoras do Educativa nas Letras, a professora Josiane Maria de Souza – outra parte, por assim dizer, interessada e envolvida na questão. Quer dizer, não houve qualquer iniciativa dos “gestores” da Educativa FM para saber se a professora Josiane Maria de Souza teria ou não disponibilidade de continuar a gravar, mesmo que sozinha ou em nova parceria, o programa Educativa nas Letras. Josiane simplesmente não foi ouvida – nem recebeu um simples comunicado ou contato por email.
- Por assim ser, e ao contrário do que vem sendo divulgado pela Rádio (inclusive como resposta a leitores, como a que temos uma cópia em mãos), não houve acordo ou bilateralidade no que diz respeito à nossa saída do Educativa nas Letras. O que houve foi uma indisposição, por parte da Rádio, em resolver um problema de horário. O que houve foi nossa solicitação por um novo horário para gravação, no período da tarde, como ocorre com outros programas. Quer dizer, não deixamos o programa por conta própria! Jamais! Por nós, estaríamos gravando em outro horário que fosse possível a todos os interessados. Cabendo reafirmar, assim, que nosso desejo sempre foi o de continuar com o programa.
- O que nos toca e consterna, em muito, nesse caso, é a evidente falta de disposição e empenho do senhor diretor da Educativa FM de Piracicaba em tentar – de fato – encontrar um horário comum e cabível tanto para os apresentadores como para a Rádio e seus funcionários. Por isso, suspeitamos, sim, que tal falta de empenho, de esforço e de respeito mínimo pela trajetória meritória do programa e por seus ouvintes tenha outra razão de ser – talvez ideológica, uma vez que tecíamos críticas à inépcia do atual governo federal no plano da educação e, em especial, no da cultura. Mas apenas suspeitamos. Deixemos bem claro. Só suspeitamos.
- Outro ponto a ser destacado é que, dentre as razões elencadas para justificar a ausência de horários disponíveis para possíveis gravações do Educativa nas Letras no período da tarde – dadas pelo senhor diretor da Educativa FM – está a de que a Rádio não dispõe de funcionários livres para tal gravação em tal período e que horas-extras estão proibidas pelo próprio prefeito Barjas Negri. Ora! Então, a Rádio Educativa FM, a pedido do senhor prefeito Barjas Negri, tem o seu funcionamento impedido no período da tarde? (É isso mesmo, senhor Prefeito? É isso mesmo, senhores e senhoras secretários(as)? Não há uma hora, ao longo da semana toda, no período vespertino, que a Rádio possa disponibilizar para gravarmos o Educativa nas Letras? Conhecendo o funcionamento da Rádio ao longo desses 15 anos, acreditamos ser essa uma explicação muito difícil de se considerar como real.
- Se assim for, é preciso afirmar que muito (mas, muito) nos consterna também saber que o bem público – cultural, material ou imaterial – vem sendo tratado pela Prefeitura de Piracicaba de maneira ligeira e displicente (tal como foi tratado o programa Educativa nas Letras – um programa que estava há 15 anos no ar e foi merecedor de dois prêmios de cultura no plano nacional – sendo que, esperamos que não tenha sido jogado no lixo, um dos troféus recebidos pelo programa deve “ainda” adornar o gabinete do senhor prefeito, pois para ele entregamos tal troféu pessoalmente, com toda nossa alegria e disposição, quando de nossa premiação).
- Se assim for, consterna saber que a Prefeitura de Piracicaba – centrada, portanto, na figura do prefeito Barjas Negri e de seus secretários e diretores – parece que deixou de valorizar as “pratas da casa” e aqueles que, dedicadamente, oferecem ou ofereceram parte de suas vidas num trabalho voluntário em prol da difusão cultural no município de Piracicaba. Será esse o fim de um ciclo, senhor prefeito?
- Se assim for, perdoem-nos, consterna ainda saber que a Rádio Educativa vem sendo esquecida pelo poder público, uma vez que não há nela gestores capazes de lidar com crises simples como a de um simples choque de horários. Consterna saber, por fim, que no modelo de gestão atual parece não haver mais o cuidado com o humano, com o trato pessoal, generoso e atento – e que somos, agora, todos peças dispensáveis à mercê de jogos políticos e de interesses.
A Rádio Educativa FM 105,9 é uma rádio pública. Sua importância é social e não pode a rádio estar à disposição de interesses de quem quer que seja. É preciso que se entenda que uma rádio pública não é de seus diretores, de seus funcionários, de seus colaboradores, dos secretários municipais, das associações comerciais (que dispõem de largos horários de gravação, diga-se de passagem) ou do prefeito (independentemente de quem seja ele ao longo dos tempos, e de qual seja seu partido ou ideologia). A rádio pública, como a Educativa FM 105.9, é de todos – e especialmente da população, que deve ser tratada com respeito, atenção, carinho e dignidade.
Sem mais.
Prof. Dr. Alexandre Mauro Bragion e Profa. Dra. Josiane Maria de Souza.
Que ótimo que vocês, Bragion e Josiane, em respeito aos ouvintes e apreciadores do programa Educativa nas Letras, vieram a público explicitar os motivos pelos quais tal programa foi tirado. E o motivo dado, é bizarro. E a forma como lhes foi comunicado, nem o diga, grosseiro e desrespeitoso, não só com vocês mas todos os cidadãos. Isso, é tratar a coisa Pública como se privado fosse. Lamentável! Todavia, é assim que em grande medida os governantes de plantão o fazem. A retirada do ar do Educativa nas Letras, foi uma perda para todos que apreciam a cultura, o diverso, o culto, o belo! Obrigada Bragion e Josiane pelo respeito com os ouvintes desse Programa, expresso nessa Nota Pública. Que grandeza a de vocês!! 👏👏 O mesmo não vimos nem por parte do diretor em exercício da Rádio Educativa FM, nem do Prefeito Barjas Negri – PSDB! 🤔🤔
O que aconteceu me causa muita tristeza, uma vez que eu e minha família éramos ouvintes do programa o qual nos despertava para o crítico, para o belo… lamentável perda pela falta de consideração do poderio que me parece nem aí ao saber e cultura do povo!
Lamentável. Quando secretário da Educação e prefeito de nossa cidade, costuma ouvir o programa aos sábados à noite, caminhando pela Esalq. Algumas vezes fui o entrevistado do programa para discutir as questões de cultura e educação de nossa cidade e do país na presença desses dois grandes mestres: profª Josiane e profº Alexandre Bragion. Como secretário da Educação, a professora Josiane passou a integrar a Comissão de Julgamento para os cargos diretivos de nossa rede, cujos resultados estão aí presentes: a educação de Piracicaba em primeiro lugar em desempenho (IDEB) dentre os 100 municípios acima de 200 mil habitantes do país. Foram decisões dessa natureza, dentre outras, que fizeram com que nossos profissionais da educação – a quem cumprimento efusivamente – assumissem o compromisso com a melhoria de nossa qualidade e entregassem esses resultados à nossa sociedade. Espero que a decisão da rádio seja revertida. Minha solidariedade aos mestres. Precisamos, como nunca, de avanços e não de retrocessos.
A nota sobre o encerramento abrupto e anti democrático do programa Educativa nas Letras coloca em questão o debate sobre o sentido e a função de uma rádio pública. A cidade precisa fazer essa discussão com profundidade. Todos reconhecem a qualidade e a importância do Programa Educativa nas Letras.
Embora o programa com estes últimos apresendores não me tenham dado espaço, ainda que tenha solicitado e sempre com pedido protelado por outros considerados importantes na pauta do mesmo no qual vi grandes e famosos de todos o cantos do mundo, eu cá de Pira fiquei somente de radiouvinte, mas também lamento.
Querido Alê, querida Jô.
Com certeza, reconhecemos a irretocavel dedicação de vocês na produção/condução do programa “Educativa nas Letras”.
Também reconhecemos o quanto vocês qualificaram ao longo de quinze anos a cultura, destacando as artes literárias.
Reconhecemos, ainda, o acerto desta oportuna nota de esclarecimento, com suas devidas interrogações e reticências.
Grande abraço.
Realmente muito triste! Mais um espaço de cultura fechado. Um abraço, Jô e Alexandre.
Lamentável atitude de um prefeito que não está preocupado com os cidadãos. Tem o rei na barriga. Um dia a coroa cai.