No dia seguinte ao Natal – por Maria Teresa de Carvalho

No dia seguinte ao Natal – por Maria Teresa de Carvalho

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Em 26 de dezembro, no dia seguinte à comemoração cristã do nascimento de Jesus, minha família e eu trafegávamos pela movimentada Avenida Armando Sales. Dia ensolarado, tomado por um entusiasmante pôr do sol, deparamo-nos com inusitada situação: um automóvel acabara de atropelar um pequeno gato – provavelmente, portador de aproximados seis meses de vida. Fato perturbador foi constatar que o veículo prosseguiu com seu itinerário, não se ocupando da condição frágil e delicada daquele animal. É difícil precisar se o motorista, subitamente, não se deu conta do atropelamento. Delicado e lastimável é estarmos certos de que o condutor do veículo, ainda que consciente da situação, tenha abandonado o animal, a rastejar pela avenida – contorcendo-se de dor, medo e horror – até a sarjeta num ímpeto de vida e de sobrevivência. Também inaceitável foi presenciar alguns transeuntes na rua a permanecerem indiferentes e inabaláveis com o sofrimento lacerante do pequeno felino.

Não conseguimos mensurar ou precisar o que nos motivou a fazer o retorno no quarteirão próximo, voltando ao local dos fatos para prestar algum auxílio e socorro ao pequenino gatinho. Seria este um ato de respeito à vida, de boa conduta cristã ou exercício da ética? Importante ressaltar que encontramos o gatinho acuado no ponto de ônibus, indefeso, por estar sem os movimentos das patas traseiras, também agressivo no propósito instintivo de se resguardar. Com muito cuidado, acomodamos o pequeno animal no carro, dirigindo-nos ao veterinário como a cuidar de maneira rotineira de nosso cãozinho. O profissional verificou que muito provavelmente o animal teve a bacia quebrada, havendo a notícia quanto à possibilidade de algum órgão interno ter sido perfurado, o que reduz as chances de recuperação, implicando a prática da eutanásia. Estamos no aguardo de uma radiografia para melhor diagnóstico do quadro de saúde do animalzinho. Caso a questão seja apenas óssea, é provável que o gatinho venha a se recuperar.

GatinhoNo momento, não temos notícias de um serviço público que atenda a tais situações, procedendo ao tratamento e outras providências de maneira gratuita. Ainda que não exista o serviço em alusão, neste momento, não estamos ocupados com os possíveis gastos com o lindo gatinho. Esperamos, apenas, que sobreviva, cresça com saúde e faça juz às suas sete vidas. Esperamos sua recuperação, não havendo a triste necessidade de ser sacrificado. Vibramos pela vida, pela cura, pelo cuidado. Caso se recupere, é preciso encontrar uma família para este pequeno ser, um lugar que o acolha, que lhe conceda amor, aconchego e respeito. Esperamos que o gatinho seja o motivador de muitas alegrias, de muitas esperanças e da reconciliação com a vida e com a natureza.

Quando avistamos aquele gatinho na avenida arrastando-se entre os carros, de maneira desesperada – quase que vivendo um intenso abandono –, pedindo por socorro ou por uma alma gentil a lhe salvaguardar de uma morte doída, lenta e silenciosa, percebemos a fragilidade da vida, da natureza e de seus seres viventes. Avistamos, igualmente, o comportamento humano quando de uma situação limite: indiferença, desprezo ou nenhuma compaixão. Mesmo que estas situações provoquem inconteste perturbação, rogamos para que todos que tenham a oportunidade de ler este texto se ocupem – ainda que se gastem alguns minutos – de rezar, orar, buscar as forças cósmicas do universo ou simplesmente torcer para que o belo gatinho encontre alguma energia para pleitear o direito de viver e de existir com cuidado, garantias e afeto.

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GTS (225)

 

 

 

 

 

 

Maria Teresa Silva Martins de Carvalho é assistente social e servidora pública.

3 thoughts on “No dia seguinte ao Natal – por Maria Teresa de Carvalho

  1. Querida Maria Teresa

    Este texto tão inspirado, emergido em face de um fato lamentável, causou-me muito orgulho e satisfação, o que vem demonstrar, ainda, a preocupação na preservação de um ser vivo tão indefeso. Que as pessoas se sensibilizem com a mensagem lá exposta!
    Que Deus te abençoe!

  2. Parabéns pela atitude Maria Teresa. São poucas as pessoas que se importam com uma animalzinho agonizante. Alguns, talvez, até sintam pena momentânea, mas quando pensam no trabalho que dá socorrer, nas horas que perderão no resgate e nas despesas com veterinários, preferem ignorar a dor que causaram e seguir em frente sem olhar para trás.
    Já socorri muitos animais atropelados, doentes, abandonados, até passarinhos. E isso me causa uma paz interior muito grande e a alegria de poder ajudar.
    Parabéns mais uma vez. Um feliz ano novo para você e sua família e a todos os seres que dividem o espaço neste planeta, humanos e animais
    abraços
    Ivana Negri

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