Era chegada a hora de arrumar e empacotar as coisas. As roupas já haviam sido colocadas em malas; os talheres, taças, copos e pratos, enrolados em jornais do dia anterior, sinal de que tudo fora feito muito recentemente.
Se as paredes daquela casa falassem, existiriam histórias para serem contadas até as vésperas do fim do mundo. Até mesmo os defeitos que o tempo provocou, as rachaduras, as goteiras, a tinta desbotada deixariam saudade.
Cada movimento daquela mudança era realizado lentamente, como se quisesse rever e sentir cada momento vivido naquele lugar. Seria trabalhoso reconstruir um ambiente, deixando-o com sua cara, seu cheiro, seu jeito de ser. Levaria um tempo para chamar um novo lugar de lar.
Mudar seria recomeçar, voltar à estaca zero e conquistar tudo novamente. Que trabalho, meu Deus! Novo bairro, novos vizinhos, novas goteiras, novas rachaduras… o novo, o desconhecido causavam-lhe calafrios!
O caderno de Política serviu para proteger as três últimas taças de vinho. O de Economia ficou responsável por embalar algumas travessas e o de Cultura envolveu os porta-retratos.
As pilhas de caixas e malas foram levadas próximas à porta. Cada uma etiquetada com o nome do cômodo a que pertence, isso facilitará a arrumação na nova casa.
Ao levantar-se do chão, um arrepio subiu-lhe pela espinha. Realmente, não havia preparo para aquele momento. Inclinando a cabeça para trás, visualizando o teto, não pôde conter as lágrimas que insistiam em rolar por seu rosto. Afastou-as dali com a ponta dos dedos, respirou profundamente e soltou um intenso suspiro; em seguida, partiu em direção à porta de entrada que agora era a de saída.
O caminhão de mudanças acabara de estacionar em frente à casa.
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Fernanda Rosolem é jornalista, pedagoga e musicista
Apego, desapego, mudanças.
Angústia.
Difíceis mas necessários momentos.
Gostei demais do texto.
Parabéns.
Lindo Fe! adorei, mudanças são mais complicadas do que nós pensamos bjosss