“Ele venceram, e o sinal está fechado pra nós,
que somos jovens…”, só que não,
não somos mais os jovens, passados quarenta e oito anos
dos nossos vinte anos, embora nossos ídolos ainda sejam os mesmos,
embora as aparências não enganem não,
somos tudo e qualquer coisa, mas jovens não,
e na parede da memória essas lembranças doem demais,
mas insistimos, somos modernos, vejam nossas roupas coloridas,
vejam como amamos o passado, e que não vemos
que o novo sempre vem,
e que o que aprendemos nos discos, daqueles
que nos deram a ideia de uma nova consciência e juventude,
está tudo guardado em casa, guardado por Deus,
enquanto contamos o vil metal,
e lamentamos que essa moçada não entende,
que ninguém nos ouve, que falamos pras paredes,
mas, e o que dissemos, quando nos deram os altifalantes?,
senão repetirmos que o amor é uma coisa boa,
e que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa,
e ficamos nisso, e nossa revolução, quando andávamos na rua,
cabelo ao vento, gente jovem reunida,
nunca passou disso, e até hoje contemplamos nossos próprios umbigos,
a vida inteira que poderia ter sido e que não foi,
e deixamos escorrer por entre os dedos o futuro
e os sonhos da humanidade, que assumimos,
sem nunca realizá-los, nós, é claro,
que, apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos,
ainda somos os mesmos, e vivemos,
ainda somos os mesmos, e vivemos,
ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos pais,
nós, os novos conservadores.
Agora só nos resta tentar o pneumotórax.
Tito Kehl é arquiteto, escritor e presbítero pela Ordem Hospitalar Sanjoanita. Autor de diversos livros, publicou em 2023 – pela editora Terra Redonda – o livro “Poemas ao Deus Desconhecido”.