A experiência da Escola Vocacional marcou profundamente a década de 1960. Sob a coordenação da educadora Maria Nilde Mascellani, com o método de ensino pautado em uma perspectiva pedagógica interdisciplinar, o Vocacional vislumbrava construir uma formação capaz de estimular o desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas do aluno, formando o estudante para uma atuação profissional, ética e política, como um sujeito ativo e transformador na sociedade. A ditadura empresarial-militar, no início do ano de 1970, compreendendo os perigos para o regime de uma educação tão libertária, determinou o fechamento das unidades das Escolas Vocacionais.
Sempre gosto de pensar que há uma identidade, um vínculo de continuidade histórica entre o projeto da Escola Vocacional e a LEI 11.892, de 29/12/2008, de criação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, no contexto do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se na década de 1960 a Escola Vocacional representou a possibilidade de uma formação humanista e integral, comprometida com os princípios de cidadania, no contemporâneo, em esfera nacional, quem ocupa essa tarefa formativa, capaz de gerar transformação social, são os Institutos Federais.
A concepção de uma formação omnilateral, em contraposição à formação unilateral – que é expressão de um processo de alienação – passa a ser a referência fundamental para a construção do projeto político-pedagógico do Instituto Federal. A omnilateralidade representa e aponta para uma formação crítica e aberta, atenta aos desafios próprios do mundo do trabalho e em condições de estimular o aluno para o exercício de uma cidadania ativa. Interessante ressaltar que a intrínseca relação entre ensino, pesquisa e extensão consiste em um eixo estruturante da dinâmica formativa do Instituto Federal. Essa educação complexa tem como cerne uma formação ética, vislumbrando a autonomia do estudante enquanto sujeito histórico.
O projeto educacional do Instituto Federal, estruturado na concepção filosófica de omnilateralidade, na medida em que procura abarcar e considerar todas as dimensões da vida em sociedade, contempla um profundo discernimento ético-político, no mais estreito compromisso com a produção da justiça social e ambiental. É fundamental que essa visão filosófico-pedagógica dê a direção tanto para a organização dos espaços de administração e gestão do Instituto, fortalecendo os órgãos colegiados da instituição, quanto para a construção do próprio currículo, de maneira a privilegiar experiências de democracia e de ampla participação de toda comunidade educativa.
Somente uma formação integral, interdisciplinar e complexa tem condições de responder aos dilemas da sociedade contemporâneo. O olhar atento aos direitos humanos; o posicionamento profundamente antirracista; a superação de percepções existenciais tomadas por todas as formas de preconceitos; a veemente repulsa ao autoritarismo e às lógicas de opressão e exploração e a valorização e defesa dos princípios de democracia e cidadania são desdobramentos da educação complexa cultivada no projeto formativo do Instituto Federal.
A questão é que toda essa beleza e potência formativa, contidas desde a Lei de criação do Instituto Federal, ainda não alcançou as condições objetivas para sua plena realização. O Instituto tem resistido, não sem sérios prejuízos, a ataques externos, advindos, sobretudo, da atuação do poder público, impondo cortes orçamentários, política de sucateamento, desmonte das carreiras e desvios da concepção pedagógica de omnilateralidade. Mas o Instituto Federal tem sofrido também ataques internos, com gestões centralizadoras, burocratizadas, tomadas por dinâmicas tecnocratas, portanto, não comprometidas com a construção de uma educação omnilateral.
Se ontem, em um passado próxima, a Escola Vocacional representou um sinal de esperança diante do totalitarismo do regime empresarial-militar, sendo um espaço de formação integral, humanista e libertária; hoje o Instituto Federal ocupa esse lugar de vanguarda e resistência pedagógica, educando para a democracia e para os direitos de cidadania no contexto das relações no mundo do trabalho. Cabe agora construir, desde dentro, um amplo movimento em defesa do projeto original do Instituto Federal. Vamos juntos, compartilhando a esperança em uma educação emancipadora!
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba.
Companheiro Adelino, excelente teu texto. Fui contemporâneo do Sistema de Ensino Vocacional, tendo estagiado no Colégio Vocacional do Brooklyn (São Paulo), em 1968, quando fazia uma pós-graduação em educação na FE/USP. Me fizeste sentir muita saudade desses tempos de luta e resistência. Que os Institutos Federais possam cumprir, hoje, objetivos e metas da proposta pedagógica da grande mestra educadora Maria Nilde Mascelani!
Companheiro Adelino, excelente teu texto. Fui contemporâneo do Sistema de Ensino Vocacional, tendo estagiado no Colégio Vocacional do Brooklyn (São Paulo), em 1968, quando fazia uma pós-graduação em educação na FE/USP. Me fizeste sentir muita saudade desses tempos de luta e resistência. Que os Institutos Federais possam cumprir, hoje, objetivos e metas da proposta pedagógica da grande mestra educadora Maria Nilde Mascelani! Sucesso, Adelino!