Na Índia, toda vida é sagrada. Animais e humanos disputam comida e água num cenário árido e pedregoso. Pelo menos nos lados do Rajastão, norte da Índia, o verde é escasso e o solo, uma espécie de areia fina, que o vento espalha deixando tudo empoeirado, as casas, as ruas e os carros. A impressão que temos, à primeira vista, é que tudo é encardido e há pedras, entulho e detritos que parecem nunca ser recolhidos.
Se você está visitando um templo, de repente pode ser interceptado por um bando de macacos famintos pedindo guloseimas. Os guias advertem para não alimentar os bichos, mas quem resiste a uma mãezinha agarrada ao seu filhote, implorando, puxando sua bolsa com as mãozinhas?
Os carros que levam as noivas para o casamento são decorados com rosas coloridas. E a cor do vestido delas é vermelho. A cor branca, para eles, representa luto.
Tudo lá é barato demais. Não gostei de ver turistas ricos pechinchando, mesmo vendo a miséria daquelas pessoas. A rupia indiana vale muito pouco, mas o artesanato é maravilhoso. Não vi nada “Made in China”. Um real vale cerca de 25 rupias. Mil rupias equivalem a 40 reais. Você troca cem dólares por um maço imenso de rupias e dá para comprar muita coisa!
Mulheres trabalham pesado em obras, carregam pedras nos ombros e bacias na cabeça com estrume de vacas (é utilizado como combustível para aquecer as casas no frio, entre outros usos). Mesmo não compreendendo sua língua, elas sempre abrirão seu melhor e tímido sorriso. São todas muito recatadas, mas muito bonitas em seus sáris coloridos, e suas muitas pulseiras e adereços.
Os homens e crianças são todos magrinhos, mas as mulheres, depois dos trinta são quase todas cheinhas. Têm pele escura e aveludada, e cabelos bem lisos, pretos e brilhantes. Sorrisos lindos e dentes alvos apesar do uso abusivo de curry como tempero.
Para se ter uma ideia, a Índia é bem menor que o Brasil em extensão, mas tem 1 bilhão de pessoas a mais. Se aqui estamos perto dos 200 milhões de habitantes, lá são 1 bilhão e duzentos milhões. É muita gente!
O trânsito mereceria um capítulo a parte. Um caos ensurdecedor. Quase não existem sinais e nem placas, tudo é controlado pelas buzinas. Buzina-se para tudo, para ultrapassagens, para animais, para pessoas, motos e bicicletas. E por incrível que pareça, o índice de acidentes é pequeno, apesar de animais cruzarem a pista o tempo todo.
Ir de Delhi até Agra foi uma grande aventura! Devido ao trânsito caótico, um trajeto que seria feito em menos de 2 horas numa estrada normal, foi feito em 5 horas e meia. Para alegria dos turistas, há camelos, cães, bois, porcos, aves, macacos, cabritos, todos convivendo em harmonia. Até elefantes circulam pelas ruas, entre os carros.
O Tuk-tuk, triciclo popular que infesta as ruas das cidades indianas, deve ter esse nome devido ao som que produz: tuc-tuc-tuc. E também há o riquixá, transporte de tração humana. Não dá pára ir à Índia e não andar neles. São maneiras baratas e divertidas de se locomover até os pontos turísticos.
A comida também mereceria um capítulo inteiro. A maioria dos pratos é vegetariano, mas os temperos são muito fortes pelos condimentos que usam como ervas, especiarias, picles, gengibre, masala, misturas agridoces e a pimenta é usada sem moderação. Não sei se é por causa desses ingredientes, da água, ou do costume de servir alimentos usando as mãos, ou tudo junto, que quem vai à Índia passa pelo chamado “batismo de fogo” – certamente, em algum momento da viagem, terá um desarranjo intestinal ou passará por problemas estomacais.
Apesar do choque cultural, da longa distância e do clima seco que nos obriga a pingar colírio nos olhos e a passar creme hidratante na pele que fica ressequida, vale a pena conhecer esse país exótico e encantador e empreender essa fascinante viagem.
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Ivana Negri é escritora
Adorei o texto…tbm espero conhecer esse país um dia, por enquanto vou lendo! 🙂
Cíntia, vale mesmo muito a pena conhecer esse país dos contrastes!
Obrigada pelo comentário
Prezados:
Viajar é agregar valor ao que tomamos conhecimento na forma virtual. Bonito isso de mostrar uma cultura tão diferente da nossa que já está tão ocidentalizada! Cores, sabores e costumes diversos. Isso sim é biodiversidade!
Obrigada, Carmencita! bjos mil!
Ivana,
Gostei muito dos textos (I e II). Tive amigos indianos, qdo. morávamos nos USA,q. sempre nos contavam sobre os contrastes do país,mas escutar essas peculiaridades com o nosso prisma é diferente…
É sempre bom a gente focar os fatos por ângulos diferentes. Aprende-se muito!
abraços
QUE VIAGEM FANTÁSTICA E QUE DOM MARAVILHOSO DE PASSAR PELA ESCRITA A SENSAÇÃO
PARA OS LEITORES, QUE ACABAM SENTINDO COMO SE ESTIVESSEM VENDO E VIVENDO
TODOS OS RELATOS DAS DORES E DAS CORES DA ÍNDIA. PARABÉNS MAIS UMA VEZ.
Obrigada, Daniel!
abraços
Bela crônica de viagem, deu para conhecer um pouco pela sua descrição e forma pessoal de contar.
Abç
Obrigada, Camilo! Gostei muito do lançamento do livro da Luzia, cada detalhe, tudo impecável!
abraços
Ivana que cronica diferente,viajei com vc e vi a noiva de vermelho
muito linda as flores coloridas.
abraços amiga
As noivas indianas são lindas! Usam muitos adereços e tatuam o corpo inteiro com henna, que é um tipo de tinta natural que dura bastante, mas vai se apagando com o tempo. São verdadeiras obras de arte impressas na pele, desde o calcanhar (tirei fotos de uma noiva com os pés tatuados).
bjos
Ivana, querida
Essa civilização milenar desperta nossa curiosidade desde sempre.Os antagonismos nos inquietam e a cultura fascinante nos seduz. Seu relato aguça o desejo de visitar esse país sensacional!
beijo
E por que não, Olga? Eu nunca sequer imaginei que um dia iria à Índia, mas agora, gostaria até de voltar lá, apesar de tudo…
bjos
OI Ivana,
Estava ansiosa esperando essa crônica.Adorei,especialmente
as noivas de vermelho,quantas diferenças!Já vou esperar
a próxima crônica,se possível conte-nos sobre as crianças
e as excepcionais.ObrigadaBjos Leda
Leda, se eu fosse escrever sobre tudo o que vi, senti e vivenciei, daria um livro!
Obrigada e grande abraço
Ivana, você descreveu sua viagem à Índia com tamanha riqueza de detalhes que me senti passeando de tuk-tuk, dando biscoitos para a mãe macaquinha e lamentando a árdua vida das mulheres, que, mesmo no trabalho duro, mantêm o sorriso. É, faltou falar das crianças! Se tudo que você viu daria um livro, porque não escrevê-lo?! Mãos à obra! Para você não há dificuldade para descrever tudo em um bom e agradável texto. Viajaríamos com você, certamente.Beijo com carinho.
Maria José, para escrever um livro eu precisaria morar lá por um tempo, me inteirar mais profundamente nos costumes e tradições. Quem sabe?…
Eu ganhei um livro da vida de Gandhi há muito tempo e nunca li, mas agora estou devorando-o! Muito interessante a biografia de Gandhi por ele mesmo, uma pessoa especial que deixou muitos ensinamentos.
beijos
Oi Ivana ,estava ansiosa esperando a nova crônica, parabéns,adorei.Bjos Leda
Ivana, que maravilhoso poder conhecer um pedaço da Índia por meiode suas crônicas. Obrigada! Abraço.Lu
Obrigada, Luzia. Adorei compartilhar com você a noite do lançamento do seu livro. Tudo muito especial, cada detalhe. Parabéns!
bjos
Olá Ivana,
É uma delícia ler seus textos e impossível não deixar de viajar para a Índia durante a leitura. Estava aguardando a segunda parte dessa viagem tão interessante que nos mostra outros costumes e tradições. Se existe mais detalhes a ser falado, vale a pena sim colocá-lo em um livro.
Um grande abraço
Obrigada, Luciana, vou pensar no assunto sobre o livro… bjão!
Querida Ivana,gracias por compartir tu linda experiencia. Me ha llamado la atención especialmente, la convivencia pacífica con los animales y la importancia que le dan a sus productos, esto es un ejemplo para nuestros paises.Felicidades. Con cariño.
Angela Reyes
Obrigada pelo cariño querida Angelita.
bjos
Muito interessante e surpreendente este relato, não sabia destas coisas do dia a dia indiano.
Esse caso de pessoas mais ricas pechincharem ao pagar produtos e serviços de pessoas mais pobres, acho que se trata de um vício, muito arraigado em entusiastas do capitalismo, uma espécie de competição que desperta a adrenalina, o orgulho e ‘a esperteza’ dos pechinchadores, acho extremamente lamentável isso.
Ivana tem um jeito especial de escrever, e aqui, parece uma conversa amiga.
Obrigada pelo comentário, Clarice. Também acho que esse “vício” de pechinchar não deveria ser utilizado em países tão pobres, com uma população miserável e onde são comercializadas mercadorias lindas confeccionadas à mão e tudo tão barato.
bjos
Oi, Ivana! Li esse seu texto em algum jornal e achei ótimo. Fiquei feliz de encontrá-lo aqui, porque a internet nos permite comentar. Em resumo, o texto é 10! Parabéns!
Obrigada, Carla! bjos
Adorei o relato desta crônica de viagem. Parabéns, Ivana! Agradeço a poeta Clarice Villac pela dica e o link! Abraço da Fatima/Laguna/SC
Que legal! Minha crônica “viajando” por outras plagas. Grata pelo comentário e carinho
abraços