A Hipocrisia deste Natal – The Hypocrisy of this Christmas

A Hipocrisia deste Natal – The Hypocrisy of this Christmas

 

(*THE TEXT IN ENGLISH IS BELOW.)

 
As cicatrizes que marcam o espectro (espiritual, filosófico, político e social) do ano de 2018 no Brasil nos colocam diante de impasses e contradições irreconciliáveis e de grande profundidade. Dentre essas cicatrizes, as que nascem no seio das religiões nos parecem as mais doloridas de serem tocadas – e, curiosamente, as mais difíceis de serem compreendidas pela população.
De maneira geral, no entanto, a pergunta que paira no ar ao final deste ano deve ser: como celebrar o natal em 2018 sem incorrermos na hipocrisia dos que se valem da fé para fins econômicos e/ou políticos? Pior: que Natal celebrar? E ainda: como viver uma festa verdadeiramente cristã e comungar dela numa nação que – em nome de Deus – acaba de eleger para o cargo maior de seu executivo um apologista da violência e dos preconceitos?
Ora. Celebrar o nascimento de Cristo não deveria ser exaltar a fé em quem deu de si em prol dos mais pobres, dos excluídos, dos proscritos, dos desvalidos, dos párias, dos desamparados, dos sofredores? Ora. Que tipo de cristianismo deturpado se inventa quando se louva a Cristo e se defende ao mesmo tempo o fim dos direitos humanos? E mais: como viver um natal cristão e concomitantemente se exaltar alguém que defende um demônio torturador em audiências públicas?
Nesse sentido, cabe reconhecer que os fiéis e as igrejas cristãs (das mais variadas denominações) no Brasil de 2018 – em grande parte – revelaram também sua face satânica e anticristã. Afinal, um cristão de verdade elegeria e exaltaria um político que defende as armas e o banimento de seus adversários? Onde a fé cristã, por sua vez, apregoa o lucro, a mais-valia, a exploração do trabalho? Em que parte da tradição cristã se defende posicionamentos extremistas e belicosos?
Ou os vendilhões da fé no Brasil recontam a seus fiéis-clientes uma história de Cristo absolutamente particular e forjada ou a ignorância brasileira quebrou todas as barreiras do absurdo – afinal, ou se é cristão (e se celebra o natal dos pobres e dos oprimidos) ou se elege um extremista para presidir a nação. As duas coisas, ao mesmo tempo, não cabem. As duas coisas, ao mesmo tempo, escapam ao mínimo do senso crítico, ao mínimo do racional e do conhecimento religioso. O resumo da equação, nesse caso, é: ou se é hipócrita demais ou se é ignorante demais.
E, já respondendo a essa retórica pergunta, para nós – do Diário do Engenho – a hipocrisia do natal brasileiro atingiu em 2018 aos píncaros do ridículo.

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The scars that mark the spectrum (spiritual, philosophical, political and social) of the year of 2018 in Brazil put us before irreconcilable contradictions and of great depth. Among these scars, those born within religions seem to us the most painful to touch – and, curiously, the most difficult to be understood by the population.
In general, however, the question that hangs in the air at the end of this year should be: how to celebrate Christmas in 2018 without incurring the hypocrisy of those who use faith for economic and/or political ends? Worse: which Christmas to celebrate? And yet: how to live a truly Christian feast and commune with it in a nation that – in the name of God – has just elected to the highest office of its executive an apologist for violence and prejudice?
Now, should not celebrating the birth of Christ be an exaltation of faith in the one who gave of himself for the poor, the excluded, the outcasts, the helpless, the helpless, the suffering? Now, what kind of distorted Christianity is invented when people praise Christ and defend at the same time the end of human rights? And more: how to live a Christian Christmas and concomitantly exalt someone who defends a torturant demon in public hearings?
In this sense, it is important to recognize that the Christian churches and their followers (of the most varied denominations) in Brazil in 2018 – to a great extent – also revealed their satanic and anti-Christian face. After all, would a real Christian elect and exalt a politician who defends the use of guns and the banishment of his opponents? Where does the Christian faith claim profit, surplus value, and labor exploitation? In what part of the Christian tradition does one defend extremist and bellicose stances?
Or the salesmen of the faith in Brazil recount to their faithful-clients a history of Christ absolutely private and forged, or Brazilian ignorance broke all the barriers of the absurd – after all, or one is a Christian (and celebrates the Christmas of the poor and oppressed) or one elects an extremist to run the nation. The two things, at the same time, do not fit. The two things, at the same time, escape the minimum of the critical sense, to the minimum of the rational and the religious knowledge. The summary of the equation in this case is: either it is too hypocritical or too ignorant.
And, already responding to this rhetorical question, for us – from Diário do Engenho – the hypocrisy of Brazilian Christmas reached in 2018 the pinnacles of ridicule.

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